O papa Francisco promove Galantino: ele será presidente da Apsa. Outro passo na reconciliação entre a CEI e a classe política

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27 Junho 2018

A nomeação do secretário-geral da Conferência Episcopal Italiana para o cargo de chefe da Administração do Patrimônio da Sé Apostólica tem uma dupla leitura: por um lado é um sinal de estima em relação ao prelado, que vai se deparar com responsabilidades operacionais enormes; por outro, é um sinal da vontade por parte da Igreja de colocar um fim no conflito com a classe política, com quem muitas vezes Galantino tem entrado em conflito.

A reportagem é de Francesco Antonio Grana, publicada por Il Fatto Quotidiano, 26-06-2018. A tradução é de Luisa Rabolini.

D. Nunzio Galantino não é mais secretário-geral da Conferência Episcopal Italiana. O Papa Francisco nomeou-o presidente da Administração do Patrimônio da Sé Apostólica, o dicastério que lida principalmente com a gestão dos imóveis e atua como banco central do Vaticano.

Uma nomeação da mais alta importância, visto que o Bispo de 70 anos deixa a CEI para se tornar o chefe do dicastério da Cúria romana assumindo o lugar do Cardeal Domenico Calcagno, cuja gestão não foi exatamente elogiada, para dizer o mínimo, por Bergoglio na recente entrevista que ele concedeu à agência Reuters.

Justamente falando da Apsa, o Papa enfatizou que "um problema que me preocupa muito é que não há clareza nos imóveis. Existem muitos imóveis recebidos por doação ou compra. Nós devemos prosseguir com clareza. Isso depende da Apsa". Bergoglio também havia anunciado a nomeação da nova cúpula da organização "no final deste mês", acrescentando: "Estou estudando candidatos com uma atitude renovada, precisamos de uma pessoa nova depois de tantos anos. Calcagno conhece bem o funcionamento, mas talvez a mentalidade deva ser renovada".

O presidente da CEI, Gualtiero Bassetti, comentou a nomeação de Galantino ressaltando que "é um grande ato de apreço e de confiança do Santo Padre. Ao nosso secretário geral, o Papa Francisco confia uma enorme responsabilidade, em um setor extremamente delicado que é a gestão do patrimônio econômico da Sé Apostólica". Para o cardeal, "o anúncio é motivo para expressar imediatamente apreço por tudo o que fez em sua função de secretário geral da nossa Conferência Episcopal. O caminho compartilhado me permitiu ver de perto a inteligência e o zelo com que ele conduziu iniciativas e atividades, empenhando-se de maneira convicta, em especial para por em foco alguns critérios essenciais de rigor na doação das contribuições com fundos provenientes do 8 por mil dos impostos. Assim, tornamos ainda mais rigorosos os procedimentos desse repasse, de acordo com o desejo expresso por todos os bispos para a administração dos bens da Igreja de acordo com diretrizes de clareza e transparência".

Parecem distantes os dias em que, poucos meses depois de sua eleição ao papado, Francisco escrevia aos fiéis da diocese de Cassano allo Jónio, na época liderada por Galantino, pedindo-lhes "permissão" para poder nomear o sacerdote para a cúpula da secretaria geral da CEI, então presidida pelo Cardeal Angelo Bagnasco. Uma nomeação que havia chegado após a súbita e injustificada saída de D. Mariano Crociata, enviado por Bergoglio à direção da diocese de Latina. Em cinco anos, muitas coisas mudaram não apenas dentro da Conferência Episcopal Italiana, há ano liderada por Bassetti, mas também na vida política do país.

Além da incompatibilidade não só de caráter entre Bassetti e Galantino, este último sempre defendeu uma CEI fortemente intervencionista agredindo muitas vezes a classe política por ele comparada a um “quebra-cabeça de ambições pessoais dentro de um pequeno harém de cooptados e espertos". Tons cada vez mais agressivos, especialmente durante as conferências de imprensa conclusivas dos numerosos Conselhos Permanentes da CEI, que muitas vezes suscitaram a irritação, ainda que quase sempre expressa nos bastidores, dos bispos italianos. Galantino sempre foi em frente sereno e seguro da confiança que Francisco nunca lhe negou, apesar das críticas, cada vez mais duras, expressas por diferentes cardeais e prelados próximos a Bergoglio.

Inesquecíveis seus ataques às políticas migratórias e seus confrontos frontais com o atual ministro do Interior, Matteo Salvini. "Sobre a imigração ouvimos declarações insossas de pracistas que falam qualquer coisa para obter votos", respondeu na época o número 2 da CEI às palavras do líder da Liga que havia atacado o papa por chamar de "um ato de guerra repelir os migrantes" e havia acusado a Igreja de "ganhar dinheiro com os migrantes". Mesmo naquele caso, Salvini não mandou dizer: "O Sr. Galantino, porta-voz dos Bispos, pensa que os italianos devam acolher todos os imigrantes sempre e sem questionar, e os partidários da Liga que não pensam como ele são ‘fanfarrões de taberna’. Mas a Itália é ainda uma república ou depende do Vaticano? Pergunto a vocês, amigos católicos, mas esse Galantino não está passando dos limites?"

Portanto, é inevitável que o afastamento de Galantino da CEI torne Salvini bastante feliz, agora que ele está no topo do Viminale e está implementando a sua dura política de migração que sempre foi abertamente contestada pelo bispo. No aguardo da nomeação pelo Papa do novo de secretário da Conferência Episcopal Italiana, que certamente será um bispo muito próximo do Cardeal Bassetti, cabe se perguntar como irá mudar agora a relação da CEI com o governo Conte.

Para dizer a verdade, neste último ano, quando o Arcebispo de Perugia-Città della Pieve tomou as rédeas da Igreja italiana, o histórico intervencionismo na política dos cardeais Camillo Ruini e Angelo Bagnasco foi rapidamente arquivado. Na primeira assembleia geral da CEI conduzida por Bassetti, na semana crucial para a formação do governo Conte, o cardeal manifestou-se com um discurso bastante positivo para o executivo da Liga- 5 Stelle que estava se formando: "Os velhos partidos desmoronaram. Chegou a hora de aceitar o desafio do novo que está avançando".

Palavras que pareciam um verdadeiro atestado de credibilidade para o novo governo com tons muito pacatos e inclusive inéditos para a CEI. Como igualmente suaves, poucas semanas depois da formação do executivo liderado por Conte, pareceram as afirmações de Bassetti na vigília de oração pela Itália promovida pela Comunidade de Sant'Egidio: "Nestes meses, após as eleições políticas, passamos por momentos de séria preocupação não só pela composição do governo que tardou a vir. Hoje, que finalmente chegou, apresentamos nossos melhores votos de bom trabalho ao novo governo ao serviço do bem comum do país". Mas o arcebispo de Perugia também havia acrescentado que "não podemos esquecer que houve um clima de tensão e momentos de conflito que emergiram do profundo âmago do país". Agora é evidente, por parte da CEI, o desejo de acabar definitivamente com esse clima de conflito, inclusive entre a Igreja e a classe política. A saída de cena de Galantino é um passo importante nessa direção.

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