Argentina. "Os mais pobres são a nossa prioridade"

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18 Dezembro 2017

Preocupado com o corte de verbas, o bispo pede que haja um diálogo "prévio, não sobre fatos consumados", mas que seja para construir "uma sociedade justa". A reunião com Macri foi remarcada para terça-feira.

A reportagem é de Washington Uranga, publicada por Página|12, 17-12-2017. A tradução é de Henrique Denis Lucas.

"É preciso levar ao extremo todos os recursos para não prejudicar os setores menos favorecidos", disse o bispo Marcelo Colombo, segundo vice-presidente da Conferência Episcopal católica, em diálogo com o Página|12. Diante do novo debate de amanhã na Câmara de Deputados, o titular da diocese de La Rioja reiterou a importância de exigir "a defesa da dignidade dos mais pobres na discussão de leis que restrinjam ou afetem severamente, especialmente, os projetos de reformas que afetam os aposentados e trabalhadores".

Colombo insistiu que "os setores mais pobres, os mais vulneráveis, são a nossa prioridade", avaliou a busca para encontrar uma solução para o déficit fiscal, mas reclamou que "qualquer que seja a medida tomada, todas as reformas adotadas devem atender às necessidades de toda a população, começando pelos mais pobres".

O bispo de La Rioja disse também que, em sua província, "que depende muito dos empregos públicos, o déficit fiscal gera muita incerteza e angústia", mas, ao mesmo tempo, assegurou que houve uma significativa queda no número de empregos, "principalmente pelo fechamento de indústrias têxteis que hoje não podem competir com as importações". De acordo com Colombo, a Igreja, através da Caritas, está tentando "ajudar a sustentar um pouco a situação, pois estamos presentes em toda a província", mas "com essa ação ainda não resolvemos o problema do trabalho".

Após o cancelamento da sessão na Câmara dos Deputados, a Comissão Executiva da Conferência Episcopal fez uma convocação "ao diálogo" para "construir uma sociedade justa e equitativa". Ontem, o bispo reiterou a importância do diálogo, mas observou que este deve acontecer "previamente, para buscar todas as possibilidades" e construir "uma verdadeira democracia, uma democracia que leve em consideração as necessidades das pessoas". Porque "dialogar sobre fatos consumados ou sobre situações decididas não contribui, não constrói".

Colombo está em consonância com as declarações do padre Munir Bracco, diretor da Pastoral Social de Córdoba, que, em uma carta enviada aos legisladores, pediu-lhes que rejeitassem "qualquer iniciativa que, em termos reais, atentasse contra a situação material atual dos aposentados e pensionistas e o seu direito legítimo de receber o suficiente para garantir a sua dignidade de vida". E pediu para que fosse colocado em prática o que a doutrina social da Igreja reconhece como "direitos dos trabalhadores", que "a remuneração é a coisa mais importante para praticar a justiça nas relações laborais", porque "o salário justo é fruto legítimo do trabalho".

Apoiando-se no Magistério do Papa Francisco, o padre Bracco pediu aos deputados que garantissem aos aposentados e suas famílias uma remuneração que lhes assegurasse "uma vida digna no plano material, social, cultural e espiritual", rejeitando qualquer iniciativa que esteja contra tais condições.

Antes das eleições legislativas de outubro, a Pastoral Social cordobesa havia emitido um comunicado afirmando que "uma conduta cidadã comprometida com o bem comum é incompatível com o individualismo, a indiferença política (que pode se manifestar de várias formas), a intolerância, a falta de consciência comunitária e o conformismo, entre outras coisas".

"Não gostei da reforma previdenciária desde o início", disse o Bispo Sergio Buenavuena (de San Francisco, Córdoba). "Muito menos sabendo que, entre as suas finalidades, propõe uma economia (e isso é um eufemismo) para diminuir esse déficit insuportável", disse ele. Refletindo sobre os acontecimentos políticos recentes, o bispo católico disse que "este é o momento para a política como arte do possível". Mas advertiu que isso não pode ser entendido como se fossem "atalhos e conchavos para que aqueles que já têm uma boa porção do bolo, saiam com mais uma fatia", porque, nesse caso, o que estaria sendo impulsionado é "a corrupção da política tão admiravelmente exercida por tantos patifes que obscurecem nossa história cidadã".

Buenanueva observou que: "se me criticam por me meter na política, mesmo sendo bispo, digo que eles têm razão! No entanto, não me envolvo na tomada de decisões, mas tento esclarecer, a partir dos valores do Evangelho, a dimensão humana e ética que se encontra na política como ação humana que envolve a consciência, a liberdade e a capacidade de bem e de virtude que nós, seres humanos, temos". Porque, "como bispo, não tenho competência para fornecer soluções técnicas", mas "tenho o dever para que a luz do Evangelho e do humanismo cristão não se perca nesta hora difícil da sociedade do meu país", concluiu.

As autoridades máximas da Igreja Católica, encabeçadas pelo presidente do Episcopado e Bispo de San Isidro, Oscar Ojea, devem se reunir nesta semana com o presidente Mauricio Macri. A reunião, inicialmente agendada para segunda-feira, foi adiada para a terça-feira, mas condicionada à evolução da situação política. Embora se trate de um encontro protocolar por conta da recente eleição de autoridades, será uma ocasião para que os bispos exponham ao Presidente as posições que eles vêm manifestando em público.

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