Região Metropolitana de Porto Alegre é uma das que mais perdeu renda do trabalho na pandemia

Com a pandemia, a queda na renda dos mais pobres foi de 40,4%, enquanto para os mais ricos a redução foi de apenas 10,6%.

Foto: Rafael Neddermeyer | Fotos Públicas

Por: João Conceição | 05 Novembro 2020

Os primeiros dados divulgados sobre os efeitos da pandemia do novo coronavírus apontam que a Região Metropolitana de Porto Alegre foi uma das mais impactadas. Está entre as que mais perdeu renda do trabalho, especialmente na parcela da população mais pobre, bem acima da média brasileira e da Região Sul. Outro impacto é a capital do Rio Grande do Sul, sendo uma das que mais fechou postos de trabalhos formais em 2020. 

A Região Metropolitana de Porto Alegre apresentou taxa de desemprego de 12,2% no segundo trimestre de 2020. Antes da chegada da pandemia do novo coronavírus, no primeiro trimestre, que corresponde aos meses de janeiro a março para o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, a taxa era de 9,8%. Houve, portanto, um aumento de 19,7% na taxa na comparação dos trimestres, o que representa 28,5 mil pessoas a mais desempregadas entre abril e junho, alcançando 253,7 mil no total.

 

 

Conforme os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD do total de trabalhadores desempregados na Região Metropolitana de Porto Alegre, 44,6% são homens e 55,4% mulheres. Com relação à faixa etária, 53% possuem de 14 a 30 anos. Esse quadro aponta que o maior número de desempregados é formado por mulheres e pela população jovem.

Quanto ao nível de escolaridade, 36% dos desempregados têm até o ensino fundamental completo, e 48% possuem ensino médio. Os dados de desemprego por cor e raça, na Região Metropolitana de Porto Alegre, apontaram que 74% dos desempregados se consideram brancos; 11% pretos; 14% pardos; e 1% indígenas.

É importante ressaltar que foram fechados 88 mil postos de trabalho formal durante três longos anos (2015, 2016 e 2017), sendo criados apenas 5 mil posteriormente (2018 e 2019), segundo dados da Relação Anual de Informações Sociais - RAIS. A melhora no mercado de trabalho nos últimos dois anos justifica-se pela contratação dos trabalhadores intermitentes. Dos 4,9 mil postos de trabalho criados em 2019, pouco mais de 3 mil foram na modalidade intermitente, ou seja, mais de 60% das contratações foram nessa modalidade. Com a pandemia, foram 49,2 mil postos encerrados até setembro deste ano.

 

 

Apesar da relativa melhora nos últimos meses em todos os municípios, apenas quatro registraram saldo positivo de postos de trabalho formais ao longo de 2020 até setembro. Os dados revelam que esse cenário da Região Metropolitana de Porto Alegre é reflexo do Rio Grande do Sul, pois é o terceiro com maior número de postos de trabalho formais fechados, atrás apenas de São Paulo e Rio de Janeiro. A capital do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, também se destaca, sendo a quarta que mais fechou postos de trabalho formais do país.

 

 

A metrópole ainda tem 276.122 pessoas em situação de subocupação, pessoas que trabalham menos de 40 horas por semana e gostariam de trabalhar mais. A Região Metropolitana de Porto Alegre também conta com 37,8 mil desalentados (pessoas que desistiram de procurar emprego). Entre abril e junho, o número desses últimos nessa condição aumentou 33,2%.

 

Desigualdade de renda

 

A desigualdade de renda do trabalho vinha caindo até o segundo trimestre de 2015, quando apresentou o valor de 0,554, o menor da série histórica. A partir desse período, o Índice de Gini na Região Metropolitana de Porto Alegre só aumentou, sendo interrompido somente no ano de 2019. Mas o pior resultado deu-se justamente no segundo trimestre deste ano, quando o índice chegou a 0,636, período que engloba a pandemia do novo coronavírus.

 

 

Renda do trabalho

 

A pandemia do novo coronavírus colaborou para uma perda média de 12,5% na renda dos trabalhadores na Região Metropolitana de Porto Alegre, sendo a quarta região com maior queda, quando comparada com outras regiões metropolitanas do Brasil. Fica atrás somente de Maceió, Salvador e Recife. A perda da renda na metrópole de Porto Alegre é o dobro da média das demais regiões metropolitanas e do Brasil como um todo.

 

 

Em relação à renda média do trabalho por estratos, entre o período de 2015 e 2020, não houve um aumento na renda média real para a população 40% mais pobre. Após ter aumento de renda de 17,6% entre 2012 e 2014, teve queda de 18% no período da recessão econômica do país. O que também pode ser observado é um aumento da renda média dos 10% mais ricos nos últimos anos.

 

 

Com a pandemia, a queda foi de 40,4% para os 40% mais pobres, enquanto para os 10% mais ricos, a queda da renda foi de apenas 10,6%. Comparativamente com as demais regiões metropolitas do país, a metrópole de Porto Alegre foi uma onde os mais pobres foram mais afetados. A queda ficou acima da média do Brasil, enquanto nas metrópoles da Região Sul foram de menos de 20%.

 

 

Mundo do trabalho na Região Metropolitana de Porto Alegre

 

A página “Mundo do trabalho na Região Metropolitana de Porto Alegre” reúne análises e diversas publicações publicadas pelo IHU que impulsionam a reflexão e o debate sobre as transformações do mundo do trabalho. As análises tem como objetivo sistematizar os dados do trabalho e dos trabalhadores durante e pós-pandemia do novo coronavírus na Região Metropolitana de Porto Alegre.

As publicações podem ser acessadas aqui.

 

Renda básica, cenários e perspectivas para a Região Metropolitana de Porto Alegre

 

A temática do mercado de trabalho guarda estreita relação com a renda básica. E esses temas perpassam ciclos de debates que estão sendo promovidos pelo IHU. Um deles é Ciclo de estudos e debates: renda básica, cenários e perspectivas para a Região Metropolitana de Porto Alegre, que teve início em 30 de setembro e segue até 13 de novembro.

As palestras estão disponíveis no canal do IHU no YouTube:

 

 

 

 

 

 

 

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