14 Fevereiro 2020
Dom Emmanuel Lafont, bispo de Caiena, capital da Guiana Francesa, participou do Sínodo para a Amazônia em outubro passado. Ele ressalta que nenhuma das propostas do documento final foi descartada pelo papa.
A reportagem é de Claire Lesegretain, publicada por La Croix, 13-02-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis a entrevista.
Qual foi a sua primeira reação ao descobrir a “Querida Amazônia”?
Essa exortação é bastante surpreendente, porque não se apresenta como um ponto final do trabalho do Sínodo, mas convida a ler e a se deter sobre o documento final. É algo completamente novo. Também é surpreendente, porque nenhuma das questões e das soluções propostas pelo documento final são descartadas pelo papa, embora o trabalho pós-sinodal que continuará permitirá verificar a viabilidade dessas propostas. Com efeito, essa exortação convida a “entrar” no modo como o papa escutou o caminho sinodal. O papa compartilha as reflexões na forma de “quatro sonhos”, cada um de grande importância, que representam a quintessência do seu pontificado e também todo o trabalho realizado na Amazônia há dois anos.
Por que o papa não define o “pecado ecológico”, embora esse termo tenha sido frequentemente usado durante o Sínodo?
É verdade, ele não usa esse termo. Mas ele nos convida a nos indignarmos com um colonialismo que foi e continua sendo, sob outras formas, uma fonte de injustiça e de morte. A realidade desse “pecado ecológico” está precisamente em todas essas indústrias, essa poluição, essa exploração profundamente mortificantes para os povos e para a Terra. Trata-se de escutar o seu grito e de manter a própria capacidade de indignação. A exortação diz claramente o que há de desumano na situação atual. Portanto, obrigado ao papa por ter compartilhado conosco o seu sentimento e a sua experiência deste Sínodo, através da meditação que ele faz dele.
A exortação não fala da possibilidade, para as comunidades autóctones isoladas, de ordenar homens casados, embora isso tenha sido pedido pelos episcopados locais...
O texto também não fala do celibato. Vejo nisso um sinal de respeito pelo documento final, que levanta o problema, e que o papa não exclui. Com efeito, isso evidencia uma necessidade muito importante, enfatizado várias vezes durante o Sínodo: desclericalizar a Igreja, separar poder e ministério! O Sínodo e o papa desejam novos ministérios, mas em uma Igreja diferente, que não busca clericalizar os leigos. Uma reflexão sobre a desclericalização permitirá evitar um autoritarismo tão contrário a uma Igreja sinodal, na qual todos, clero e leigos, “caminham juntos”.
A exortação também não prevê que as mulheres possam se tornar diáconas: por quê?
Pela mesma razão. O papa retomou a comissão encarregada de refletir sobre o diaconato feminino. Para ele, não se trata de criar novas estruturas, mas sim de mudar os corações, a relação com o poder, com a autoridade. Se não se mudar isso antes, nos limitaremos a inserir homens e mulheres em um sistema eclesial que não permite ser sinodal. Sobre a questão dos ministérios, a exortação convida a superar o choque binário e promete que as soluções serão encontradas aceitando caminhar juntos. Isso é profundamente evangélico.
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A profunda necessidade de desclericalizar a Igreja - Instituto Humanitas Unisinos - IHU