O caminho sinodal numa realidade de cristianismo “exculturado”. Artigo de Brunetto Salvarani

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21 Outubro 2021

 

"Creio que a pergunta subjacente a este percurso, sobre a identidade da Igreja e sobre o que significa ser Igreja hoje, deve ser explicitada de uma única modalidade sensata: não se resignando a contemplar o próprio umbigo ou a fazer análises autoconsoladoras ou lamentações dilacerantes, mas medindo-a sobre a sua vontade de se relacionar com o mundo exterior, com aquela alteridade que agora nos habita e nos coloca em crise e muitas vezes nos transtorna", escreve Brunetto Salvarani, teólogo italiano, professor da Faculdade Teológica da Emília-România, em artigo publicado por Avvenire, 20-10-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.

 

Eis o artigo.

 

Há um tempo para cada coisa, diz o Eclesiastes. E este, é claro, é o tempo de nos questionarmos profundamente sobre os diferentes significados de uma pandemia que está desmascarando as nossas fragilidades. Mas para as nossas dioceses - como as outras de catolicidade espalhadas pelo mundo - é também tempo do se pôr em caminho, de fato: iniciar um caminho sinodal, como o definiram os bispos (escolha que não é diminutiva em relação ao sínodo, referindo-se a um estilo, a uma metodologia, a uma atitude eclesial, bem mais do que aquilo que, no pior dos casos, poderia resultar apenas um mero cumprimento burocrático). O título é programático: “Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão”.

Um empenho, é preciso dizer, que causa tremores, mesmo que limitado ao plano organizacional: mas também, e acima de tudo, uma oportunidade preciosa, a ser agarrada e plenamente explorada, que exigirá de todos nós paciência, capacidade de escuta e humildade. Aprender a agir sinodalmente, por parte de leigos, presbíteros e bispos, dóceis à ação do Espírito, não será fácil. Também pelo nosso hábito de caminharmos juntos.

As apostas são realmente altas. Até porque, por razões de idade, do evento poderá sentir-se partícipe pela última vez de uma importante experiência eclesial uma geração ainda capaz de se referir ao Concílio Vaticano II com efetivo conhecimento, tendo ouvido os relatos dos diretos protagonistas e respirado a atmosfera única daquele encontro há quase seis décadas. Uma geração que ainda pode aquecer o coração sobre temas (das reformas eclesiais ao sacerdócio comum) que à grande maioria dos nossos jovens provavelmente parecem suspensos entre o obscuro e o insensato: mas, é claro, o envolvimento destes últimos no processo sinodal permanece vital. Que ninguém se sinta excluído!

Creio que a pergunta subjacente a este percurso, sobre a identidade da Igreja e sobre o que significa ser Igreja hoje, deve ser explicitada de uma única modalidade sensata: não se resignando a contemplar o próprio umbigo ou a fazer análises autoconsoladoras ou lamentações dilacerantes, mas medindo-a sobre a sua vontade de se relacionar com o mundo exterior, com aquela alteridade que agora nos habita e nos coloca em crise e muitas vezes nos transtorna; com a vasta parte do país que não só perdeu o sentido de Deus, mas não sente de forma alguma a necessidade de um pertencimento eclesial e nem mesmo tem a percepção do que significa tal pertencimento (estou pensando na análise de um teólogo renomado, o jesuíta Theobald, que fala abertamente de exculturação do cristianismo da cultura europeia).

Para nos orientar temos, desde 2013, uma bússola ainda não experienciada totalmente, a Evangelii gaudium, que o Papa Francisco nos doou como mapa de uma Igreja capaz de saída. Mapa a decifrar, porque, como assinala o bispo Erio Castellucci, “não são conceitos: são rostos, experiências, urgências que dizem respeito à necessidade de repensar o anúncio de Cristo, num contexto em que se redescobriram algumas grandes questões existenciais". Rostos amassados, confusos e mascarados. Sim, há muito o que refletir, tendo em vista o Sínodo que acaba de ser iniciado. Como lemos na Mishna, tratado Pirkè Avot: “O dia é curto e o trabalho é muito; os trabalhadores são preguiçosos, a remuneração é abundante e o senhorio pressiona. Mas a tarefa de completar a obra não é tua, nem estás livre de te isentar dela". Se há um tempo para cada coisa, é precisamente este o tempo de não se eximir de tentar a obra e de se sentir parte dela.

 

Nota do Instituto Humanitas Unisinos – IHU

 

De 04 de junho a 10 de dezembro de 2021, o Instituto Humanitas Unisinos – IHU realiza o XX Simpósio Internacional IHU. A (I)Relevância pública do cristianismo num mundo em transição, que tem como objetivo debater transdisciplinarmente desafios e possibilidades para o cristianismo em meio às grandes transformações que caracterizam a sociedade e a cultura atual, no contexto da confluência de diversas crises de um mundo em transição.

 

XX Simpósio Internacional IHU. A (I)Relevância pública do cristianismo num mundo em transição

 

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