“Obrigado a Francisco por sua coragem, mas muitos bispos estão contra ele”

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19 Dezembro 2019

"Como vítima e sobrevivente, agradeço ao Papa por sua coragem. Sei que na Cúria e em todo o mundo existem cardeais e bispos contra ele, pessoas que até agora se esconderam atrás do segredo pontifício para encobrir o terror e abafar. Caiu uma muralha escura”.

No telefone com o Corriere, a voz de Juan Carlos Cruz, 56 anos, parece aliviada antes mesmo que feliz, como se tivesse sido aliviado de um fardo. Ele ainda era adolescente quando sofreu abusos pelo padre pedófilo Fernando Karadima, expulso da Igreja por Francisco no ano passado. Poderoso e temido desde os anos de Pinochet, na paróquia de El Bosque, em Santiago, Karadima está na origem dos escândalos que devastaram a Igreja chilena, uma das mais difíceis provas do pontificado. Com duas outras vítimas de Karadima, há um ano e meio, Cruz foi recebido por Francisco em Santa Marta: "Não quero que mais nenhuma vítima se sinta sozinha".

A reportagem é de Gian Guido Vecchi, publicada por Corriere della Sera, 18-12-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.

As denúncias permaneceram sem resposta por anos; bispos e cardeais chilenos o chamavam de caluniador.

"Conversamos com o papa, é claro. Mas, como nós, muitas vítimas não deixaram de pedir a remoção do segredo pontifício. Assim se faz justiça e transparência”.

Considerações repetidas por aqueles que sofreram violência e descrença. Alessandro Battaglia, 22, gostaria de esquecer. "Imagine, eu nem sabia disso. Mas estou feliz, é claro. Há anos podíamos isso. Certamente, os bispos não têm mais desculpas agora: não poderão mais encobrir com a desculpa de que correm o risco de excomunhão". Alessandro era um garotinho ligado à sua paróquia, em Rozzano, diocese de Milão. "Eu ia ao centro paroquial todos os dias, era escoteiro, cantava no coral, meus amigos estavam lá: aos quinze, para mim, o centro era toda a minha vida", relatava ele nos dias da cúpula no Vaticano para a proteção de menores. Ele o repetiu desde aquela noite: "Fui abusado no final de 2011 pelo Pe. Mauro Galli". Galli foi condenado em primeira instância a 6 anos e 4 meses. Entretanto, anos de inércia e encobrimento se passaram. "A Igreja é assim, uma máquina muito lenta, mas devemos apreciar coisas positivas, e essa decisão é". Uma decisão que virou notícia em todo o mundo.

Marie Collins, irlandesa de Dublin, tinha 13 anos quando foi abusada por um padre nos anos 1960. Em 2014, ela foi nomeada por Francisco na primeira Comissão antipedofilia, três anos depois, ela renunciou devido às resistências do Vaticano. Agora ela comenta, seca: "Excelente notícia. Recomendamos isso durante o primeiro mandato da comissão, é bom ver que foi aplicado. Finalmente, uma mudança real e positiva".

Também Miguel Hurtado, 36 anos, parece aliviado: "Boas notícias, um pedido histórico das organizações de vítimas de padres pedófilos". Sua história diz respeito ao mosteiro de Montserrat, na Catalunha. "Eu tinha dezesseis anos, fui abusado por um monge beneditino, Andreu Soler, que liderava o nosso grupo de escoteiros." Novamente aqui, denúncias ignoradas, silêncios. Agora ele suspira: "Nunca mais casos tratados em segredo. Os bispos devem colaborar com a justiça e entregar os documentos internos”. Vamos ver.

Francesco Zanardi, fundador da "Rete l'Abuso", observa: "O Ministério Público de Roma enviou uma carta rogatória para ter acesso aos atos do arquivo do Pe. Gabriele Martinelli sobre os abusos no pré-seminário San Pio X, o colégio dos coroinhas do Papa. Agora veremos a eficiência da norma". Zanardi tem 48 anos, tinha onze anos quando foi abusado pelo vice-párroco em Spotorno, "seu nome era Pe. Nello Giraudo, durou por três anos". Ainda resta ver a situação da obrigação da denúncia às autoridades civis, que não existe na Itália para os padres: "Mas isso é uma vergonha italiana: é o nosso Estado que deve dispor isso, pelo menos para os bispos".

 

Nota da IHU On-Line:

O Instituto Humanitas Unisinos – IHU promove o seu X Colóquio Internacional IHU. Abuso sexual: Vítimas, Contextos, Interfaces, Enfrentamentos, a ser realizado nos dias 14 e 15 de setembro de 2020, no Campus Unisinos Porto Alegre.

X Colóquio Internacional IHU. Abuso sexual: Vítimas, Contextos, Interfaces, Enfrentamentos

 

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