09 Fevereiro 2019
Mohammed Sammak, secretário da Spiritual Islam Summit e do grupo árabe para o diálogo islâmico-cristão, amigo pessoal do imã da Universidade islâmica de Al-Azhar, Ahmed el-Tayeb, foi o único muçulmano que interveio em dois Sínodos da Igreja católica. Acaba de viajar a Viena, de Abu Dhabi, para se dirigir à sede do Centro para o Diálogo Kaiciid, no qual faz parte do conselho diretivo.
Com a voz ainda incerta, emocionada, afirma: “Foi um longo caminho, que começou em 1995 com o Sínodo para o Líbano, desejado por João Paulo II, e que prosseguiu com o Sínodo sobre o Oriente Médio de Bento XVI, em 2010, e depois com o encontro no Cairo, de 2017. Agora, chegamos a esta declaração conjunta assinada em Abu Dhabi pelo Papa Francisco e o Grande Imã de Al-Azhar, Ahmed el-Tayeb. No dia 4 de fevereiro, começou uma nova ‘lua de mel’ entre muçulmanos e cristãos, em cujo centro está o princípio da plena cidadania, ou seja, afirmar que os cristãos do Oriente Médio são cidadãos pelo próprio direito em seus países, com plenos e iguais direitos. Após anos de terrorismo, de feroz devastação de tantos lugares de culto, demonstrou-se certo o que o Papa Francisco disse há três anos: “Não há religiões criminosas, mas, sim, criminosos em cada religião”. O Islã lhe demonstrou que tinha razão: o Islã não é uma religião criminosa”.
A entrevista é de Domenico Agasso Jr., publicada por Vatican Insider, 07-02-2019. A tradução é do Cepat.
Eis a entrevista.
Conseguiu ouvir algumas reações dos cristãos do Oriente Médio a estas declarações?
Sim, falei com muitos deles e percebi uma alegria profunda, enorme, sincera. Nunca havia sentido uma alegria comparável como esta, é incrível a profundidade do que vi e escutei. Mas, não só por parte dos cristãos do Oriente Médio. Gostaria de ser bem compreendido: em Abu Dhabi, falei com um conhecido pastor evangélico estadunidense, Jim Winker, o secretário geral do National Council of Churches, importante organização estadunidense, e me disse: “Querido Mohammed, estou contentíssimo, é fantástico o que aconteceu e me enche de profundíssima alegria”. É o que me disse, nas últimas horas, um expoente tão respeitado do mundo evangélico estadunidense.
O senhor escreveu um comentário a 'Nostra Aetate' e afirmou, há alguns anos, que está aguardando um “Angelo Roncalli muçulmano”. Mas, o secretário geral da 'União Internacional dos Doutos Muçulmanos', Al-Qaradawi, criticou duramente a decisão de Francisco de visitar Abu Dhabi, onde, afirmou, violam-se os direitos dos dissidentes...
Quero ser claro. O xeique Al-Qaradawi possui muita relação com o Qatar, país politicamente em contraposição aos Emirados Árabes Unidos. Dá voz, por sua parte, a questões políticas, que não tem nada a ver com o conteúdo de uma declaração histórica para os muçulmanos e nossos irmãos cristãos, em primeiro lugar para os cristãos do Oriente Médio. Repito: estamos no início de uma nova “lua de mel” com nossos irmãos e não apreciamos aqueles que querem atrapalhar este momento histórico para todos com questões políticas. Logo será construída, em Abu Dhabi, uma igreja que será dedicada ao Papa Francisco. Conseguimos dar conta disso? Na Península arábica haverá uma igreja dedicada ao Papa!.
É evidente a importância destes símbolos. Justamente, falando com o Vatican Insider, o senhor destacou que a única estátua que recorda um Papa no vasto mundo islâmico, da Indonésia ao Marrocos, está em Beirute...
Sim, e agora haverá uma igreja dedicada ao Papa no coração da Península arábica... Acredito que agora teríamos que ter a força para ver nosso passado, os atentados, os massacres, as profanações, e depois ver este desenvolvimento, o que aconteceu. Este encontro entre o Papa Francisco e o Imã Ahmed el-Tayeb foi realizado ao mesmo tempo em que acontecia a grande Conferência internacional da qual participaram centenas de líderes religiosos de todas as religiões: hebreus, budistas, hinduístas, cristãos, muçulmanos e muitos mais. Mas, para evitar que a declaração final desta conferência que ocorreu em Abu Dhabi, na Península arábica, fosse ofuscada pela declaração assinada pelo Papa e o Imã de Al-Azhar, decidimos prorrogar sua publicação em alguns dias. Nós a divulgaremos nos próximos dias.
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“O Papa tem razão, não existem religiões criminosas. Foi o que demonstrou Abu Dhabi”. Entrevista com Mohammed Sammak - Instituto Humanitas Unisinos - IHU