Um bispo para os LGBT+. Artigo de Luís Corrêa Lima

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30 Dezembro 2025

A imprensa considerou essa nomeação como um recado da CNBB de que vidas LGBT+ importam. Elas importam, sim, para toda a humanidade. Essas pessoas são filhas de Deus que manifestam a diversidade e a riqueza da criação. Oxalá esse recado seja semente muito fecunda.

O artigo é de Luís Corrêa Lima, padre jesuíta, professor da PUC-Rio e autor do livro Teologia e os LGBT+, 17-12-2025. 

Eis o artigo. 

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) nomeou dom Arnaldo Carvalheiro Neto, bispo de Judiaí (SP), como assessor episcopal da Rede Nacional de Grupos Católicos LGBT+ (@redecatolicoslgbt) no período de 2025 a 2028.

Esta Rede está organizada no Brasil com mais de 25 grupos. A sua origem está na iniciativa de fiéis que, com apoio de religiosos, se reuniram para conciliar sua fé com a própria orientação sexual e identidade de gênero, conscientes de sua dignidade de filhos e filhas de Deus e de sua vocação na Igreja e na sociedade. O primeiro núcleo a se consolidar foi o Diversidade Católica, em 2007 no Rio de Janeiro. Depois vieram outros, como o Grupo de Ação Pastoral da Diversidade, surgido em 2010 na capital paulista.

A missão do assessor episcopal é conhecer os grupos, apoiá-los, animá-los, fortalecer os seus vínculos com a Igreja e encorajar a sua missão. Todos ganham com isso. As famílias com filhos e filhas LGBT+ revigoram seus laços, o isolamento se rompe e a Igreja se torna mais aberta e inclusiva, beneficiando-se muito com a presença dessas pessoas. Fora do Brasil, só a Alemanha e a Bélgica têm bispos referenciais para grupos LGBT+.

Dom Arnaldo tem uma história de atuação pastoral com minorias sociais que enfrentam situações estruturais de desigualdade e vulnerabilidade. Como bispo, trabalhou com catadores de materiais recicláveis, refugiados venezuelanos e indígenas. Em Jundiaí, há três anos participa de um núcleo da Rede LGBT+. Ele relata o encontro marcante que teve com um jovem gay. O jovem relatou sua dolorosa experiência de discriminação dentro da sua comunidade de fé e concluiu: “a melhor coisa que aconteceu na minha vida, foi ter deixado a Igreja!”.

Diante disso, dom Arnaldo afirma que se, para alguns, a presença de irmãs e irmãos LGBT+ na Igreja é motivo de escândalo, é escândalo maior ainda excluí-los e marginalizá-los. Ele sabe que a homofobia e a transfobia matam, que a proporção de suicídios entre jovens LGBT+ é cinco vezes maior do que no restante da população, e que há muitos homicídios motivados pelo discurso de ódio e pelo fundamentalismo religioso.

Ele recorda as palavras do papa Francisco sobre o mais importante que as pessoas LGBT precisam saber sobre Deus: “Deus é Pai e não renega nenhum de seus filhos. E o estilo de Deus é de proximidade, misericórdia e ternura. Ao longo deste caminho, vocês encontrarão Deus”. E se fundamenta nas origens cristãs, na certeza de que Deus não faz acepção de pessoas, de que não há judeu ou grego, escravo ou livre, homem ou mulher, pois todos são um só em Jesus Cristo. Esse princípio, conclui o bispo, deve levar a erradicar todas as formas atuais de discriminação, incluindo a homofobia e a transfobia.

Quanto à chamada cura gay, dom Arnaldo sabe que hoje ela é refutada pela ciência e proibida no Brasil. Lembra que o Vaticano exortou bispos a não apoiarem instituições católicas com essas práticas, mas que infelizmente há grupos religiosos encaminhando pessoas LGBT a orações de “cura e libertação”. Assevera que isso é muito lamentável e deve ser abolido.

A imprensa considerou essa nomeação como um recado da CNBB de que vidas LGBT+ importam. Elas importam, sim, para toda a humanidade. Essas pessoas são filhas de Deus que manifestam a diversidade e a riqueza da criação. Oxalá esse recado seja semente muito fecunda.

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