07 Outubro 2025
Os militantes querem sua libertação, mas a extrema-direita teme sua liderança. A possibilidade de exílio no exterior está sendo considerada.
A reportagem é de Gabriella Colarusso, publicada por La Repubblica, 07-10-2025.
Há um ano, a revista The Economist o chamou de "o prisioneiro mais importante do mundo", e em Ramallah o chamam de Mandela palestino. Hipérbole, claro, mas revela uma verdade: Marwan Barghouti pode mudar o curso da política palestina. Dos becos de Jenin aos escombros de Gaza, mesmo aqueles de fora de sua facção política estariam dispostos a apoiá-lo, sabendo que ele está entre os poucos líderes capazes de unir os palestinos. E é também por isso que a extrema-direita israelense se opõe veementemente à sua libertação, uma das questões cruciais nas negociações iniciadas ontem em Sharm el-Sheikh, Egito, para uma trégua e uma possível era pós-guerra em Gaza.
Nas listas elaboradas pelo Hamas com os nomes de prisioneiros palestinos a serem libertados em troca de reféns israelenses, Barghouti está no topo, junto com Ahmad Saadat, líder da Frente Popular para a Libertação da Palestina. Ele, aliás, sempre esteve lá, mesmo durante os dois cessar-fogo mediados pelo governo Biden. Em janeiro, durante a última troca de prisioneiros, a família voou para o Catar convencida, ou talvez esperançosa, de que aquele seria o momento certo. O Hamas disse aos catarianos e turcos que, embora o status dos prisioneiros não seja a questão central, pretende manter firmes os nomes de Barghouti e Saadat. Não será uma negociação fácil.
O aliado de extrema-direita de Netanyahu não quer saber do assunto. Em agosto, Ben Gvir foi filmado visitando o prisioneiro emaciado que estava preso há 23 anos e a quem o ministro está impedindo de falar. Netanyahu prometeu a ele e a Smotrich, segundo o Canal 14, que "símbolos do terror" como Barghouti não seriam incluídos na troca de farpas. Em declarações ao Canal 12, no entanto, o ministro da Agricultura, Avi Dichter, ex-chefe do Shin Bet, insinuou que Israel poderia estar disposto a libertar "terroristas" condenados — como já aconteceu muitas vezes no passado —, mas não os autores do massacre de 7 de outubro, como membros da unidade Nukhba do Hamas.
Fontes turcas afirmam que Ancara e Doha estão pressionando pela libertação de Barghouti, mas alguns países árabes também se opõem, preocupados com a possibilidade de sua libertação desestabilizar a liderança frágil e desacreditada de Abbas, presidente da Autoridade Nacional Palestina, com quem Barghouti rompeu relações há muitos anos. Nos últimos meses, a família tem sido contatada por diplomatas americanos e britânicos para discutir o assunto. A possibilidade, caso os israelenses concordem em libertá-lo, é que Barghouti se exile fora da Cisjordânia, confirmaram ao Repubblica duas fontes palestinas familiarizadas com as discussões.
Nascido em 06-06-1959, na vila de Qubar, perto de Ramallah, juntou-se ao Fatah, sucessor de Arafat, ainda menino e foi um líder durante a primeira e a segunda Intifadas. Preso inúmeras vezes, foi condenado a cinco penas de prisão perpétua em julgamentos que sua família sempre denunciou como injustos e intransigentes. Muitos palestinos gostariam que ele fosse seu líder; pesquisas o classificam como o político mais popular há anos.
Saadat, o secretário-geral da FPLP, que durante anos permaneceu em prisão domiciliar em Jericó sob a custódia da Autoridade Nacional Palestina (AP) e de guardas americanos e britânicos, foi sequestrado pelos israelenses em 2006, acusado do assassinato do ex-ministro Rehavam Ze'evi e condenado a 30 anos de prisão.
O Hamas também exigirá a libertação de dois outros prisioneiros de alto escalão: Ibrahim Hamed, comandante das Brigadas al-Qassam na Cisjordânia, condenado a seis penas de prisão perpétua por vários ataques em Israel, e Abbas al-Sayed, considerado o mentor do massacre do Park Hotel em Netanya, em 2002.
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