13 Setembro 2025
Anna Foa, uma grande intelectual, uma voz livre e corajosa, uma consciência crítica da diáspora judaica. Isso explica o extraordinário sucesso de seu último livro, "O Suicídio de Israel", publicado pela Laterza. Estamos a menos de um mês do segundo aniversário daquele trágico 7 de outubro de 2023.
A entrevista é de Umberto De Giovannangeli, publicada por l'Unità, 10-09-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis a entrevista.
Professora Foa, como Israel mudou nestes dois anos?
Mudou muito profundamente. Mudou em várias fases. Mudou com um grande medo, em primeiro lugar. O medo de que o 7 de outubro se repetisse, o horror do que havia acontecido, o pavor total. Muitas pessoas, mesmo de esquerda, acostumadas a ter respeito e consideração pelos outros, os palestinos, mudaram de ideia, movidas pelo medo. Naquele momento, ocorreram profundas convulsões. Houve momentos em que a opinião pública se uniu mais fortemente em torno de Netanyahu, apesar das críticas imediatas e duríssimas que sua falta de reação inicial ao 7 de outubro provocou. Houve vários momentos...
Qual é o mais recente?
Bem, agora chegamos a um momento em que uma parte de Israel reconhece o outro. Reconhece o sofrimento dos palestinos. É Israel que sai às ruas, carregando as imagens de crianças palestinas assassinadas, em manifestações que são também pelos palestinos, não apenas pelos judeus feitos reféns. É um momento em que se espera que algo surja, em que muitas vozes se levantam para dizer: não prestem serviço militar, digam aos soldados para não irem a Gaza, a desobediência civil... tudo isso não existia há dois anos. Dizem que há dois anos era unânime o coro daqueles que diziam que a reação tinha sido justa. Não me lembro de a reação ter parecido logo tão justa. Poucos dias depois, já se falava daquela que Netanyahu retratava como uma guerra contra o Hamas mas, na realidade, era claramente uma guerra contra os palestinos. De qualquer forma, mesmo aceitando que muitas vozes tivessem afirmado considerar justa a nossa reação, é preciso dizer que tudo isso agora mudou. Talvez seja a primeira vez que isso acontece. E valeria a pena refletir sobre isso...
Que reflexão, Professora Foa?
Israel sempre se manteve em uma espécie de núcleo fechado, uma bolha fechada da qual nem mesmo a esquerda saía muito. Agora, pela primeira vez, parece que a opinião pública mundial, pelo menos sobre uma parte da sociedade israelense, está se consolidando.
O Haaretz escreve: "Netanyahu não está apenas traindo os reféns. Ele está transformando Israel em um Estado pária aos olhos da Europa, dos Estados Unidos e dos países árabes. Certamente. Isso já vem sendo dito há bastante tempo. Certamente, depois de março deste ano, isto é, depois que Netanyahu, contra o mundo inteiro, bloqueou o fornecimento de alimentos para os habitantes de Gaza, provocando uma carestia induzida, e recusou uma nova trégua, a partir daquele momento, Israel se tornou um Estado pária. Acredito que aqueles que vão às ruas para gritar sua oposição à guerra também estão travando uma batalha por Israel, não apenas pelos palestinos. Uma batalha para salvar Israel. Não apenas sua alma, mas talvez neste momento — pensemos na reação dos países árabes diante da intenção de anexar a Cisjordânia — até mesmo a própria sobrevivência do Estado de Israel.
Aquela parte resiliente de Israel que, para usar o título do seu belíssimo livro, está tentando impedir seu suicídio.
Sim. Essa parte recebeu um forte abalo em março passado. E foi a carestia que o determinou. Veja bem, muitas vezes me perguntei por que há tanta diferença entre ver uma pessoa morrer de fome e ver uma criança morrer de fome, em vez de vê-las morrer sob uma bomba.
E qual é a sua resposta?
Que há uma diferença nas emoções das pessoas. E essa diferença aflorou no mundo, mas também dentro de Israel. Talvez Netanyahu não tenha refletido sobre isso e tentou reagir da pior maneira possível, negando. Com um negacionismo louco que lembra o negacionismo do Holocausto. Negando a carestia e, como ele, outros em seu círculo. A carestia mudou as coisas.
A contabilização das mortes. A hierarquia dos horrores. Professora Foa, caímos no abismo de uma moralidade seletiva?
Seletiva no sentido de que, se um judeu morre, conta muito, mas se um palestino morre, conta menos que zero, aliás, é um alívio porque ele certamente era um seguidor do Hamas ou pelo menos colaborou com o Hamas e, de qualquer forma, era um palestino. Para a direita israelense, certamente é isso. Ouvem-se áudios pavorosos nas quais dizem coisas hediondas sobre o assassinato até mesmo das crianças ou sobre o fato de que não existe nenhum inocente em Gaza. Isso me lembra de um artigo no Il Foglio que diz que se Hind Rajab, a garotinha cuja terrível história foi levada ao Festival de Cinema de Veneza em um filme muito tocante, tivesse sobrevivido, foi dito e escrito, com cinismo repulsivo, que se ela tivesse sobrevivido, talvez tivesse que cobrir o cabelo quando crescesse. Mas ela estaria viva, mesmo que tivesse que cobrir seu cabelo! Como diz Adriano Sofri, talvez ela escolheria cobrir o cabelo.
Antes falamos como Israel mudou nestes dois anos. Como a diáspora judaica mudou, se é que mudou?
Eu gostaria que tivesse mudado. Claro, há mais algumas vozes se levantando contra o que está acontecendo, vozes até mais moderadas que a minha. Daqueles que começaram não tão inflamados e depois foram pressionados pelos eventos, pelo que está acontecendo e não por seu próprio processo de radicalização. Sinto-me radicalizada em relação a dois anos atrás, mas sinto-me radicalizada porque o que acontece me radicalizou, me indignou mais do que os primeiros bombardeios em Gaza. É claro que senti indignação pelo 7 de outubro e ainda a sinto quando penso nisso, mas, como David Grossman disse em uma maravilhosa entrevista ao Repubblica, até mesmo o 7 de outubro desbota diante do que está acontecendo em Gaza. A diáspora mudou muito pouco. Não mudou, ancorou-se, agarrou-se principalmente à memória do 7 de outubro, trazendo-o à tona a cada oportunidade: vocês não falam o suficiente sobre o 7 de outubro, não há menção ao 7 de outubro, mesmo quando existe, mesmo diante de pessoas que declararam claramente o que pensavam sobre o 7 de outubro, são realmente poucos que efetivamente tentaram vincular o 7 de outubro a uma espécie de momento revolucionário e, assim, justificá-lo. Essas vozes são muito poucas dentro da esquerda e dos oponentes de Netanyahu na diáspora e no mundo exterior.
Primeiro, há isso, e depois há a negação, porque é disso agora que se trata, de grande parte das coisas que acontecem diariamente em Gaza: a fome é uma invenção, uma única foto ruim é suficiente para questionar todas as fotos de crianças que morreram de fome, daquelas cujos nomes conhecemos porque o Cardeal Zuppi os leu. A diáspora realmente mudou muito pouco. Isso é uma fonte de angústia, porque se rompem amizades de longa data, até mesmo relações familiares. Acho que a diáspora deveria ter reagido com firmeza, não porque esteja sendo solicitada a se justificar, a ser bons judeus, mas porque, de alguma forma, isso está sendo feito em seu nome. Em meu nome e no de outros judeus no mundo. Acho que a diáspora, mais do que o resto do mundo, deveria ter se empenhado a tentar pôr fim a esse horror. Acho isso porque é um imperativo ético e porque há uma memória da ética judaica, dos profetas, mas também, aos poucos, dos filósofos e do que foi o mundo judaico da diáspora, que agora parece completamente perdido para a nossa diáspora.
Você viveu alguns períodos da sua vida em Israel. Se não houvesse uma ameaça externa, real ou imaginária, mantendo-os unidos, como poderiam conviver os jovens laicos de Tel Aviv com os haredim de Jerusalém?
No mundo da esquerda, não há tal diferença entre o pessoal de Jerusalém e de Tel Aviv, embora certamente existam diferentes modos de vida e até mesmo diferentes interpretações do mundo. São diversidades que se assemelham àquelas encontradas em todo o mundo. Também é preciso dizer que Tel Aviv é uma cidade com pouquíssimos árabes palestinos; é uma cidade inteiramente judaica, tal como nasceu. E isso é fortemente percebido, enquanto Jerusalém é a cidade onde árabes, árabes muçulmanos e árabes cristãos se cruzam — um mundo extremamente variegado. Mas isso, repito, é uma diferença que pode ser encontrada em outros lugares. Acredito que a tragédia dos judeus é que eles pertencem a uma nação, um Estado que está caminhando para a catástrofe, para a abolição de todo elemento da democracia. A divisão neste momento reside entre a direita messiânica, a direita religiosa e todos aqueles, na esquerda ou não, atentos apenas às reformas antidemocráticas de Netanyahu mas cientes do que está acontecendo em Gaza, de toda forma se mobilizaram contra o governo e podem se radicalizar, usando esse termo no sentido de se tornarem mais determinados na luta contra um governo fascista, racista e exterminador.

Livro "Il suicidio de Israele", de Anna Foa (Editora Laterza, 2024).
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