26 Setembro 2025
A Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA) divulgou na última 4ª feira (24) uma carta demandando que os produtores rurais sejam postos no centro das discussões (e do financiamento internacional) da COP30. Intitulado “Agropecuária Brasileira na COP30”, o documento afirma que a produção rural na Amazônia é inseparável da agenda climática.
A informação é publicada por ClimaInfo, 26-09-2025.
Segundo a CNA, a produção de alimentos deve ser incentivada e o desmatamento ilegal ser combatido por meio de incentivos econômicos eficientes. Além disso, como o Globo Rural assinalou, a organização defende a criação de linhas de crédito rural e financiamento climático específicos para produtores amazônicos.
“Temos a convicção de que a agricultura tropical é, sem dúvida, a oportunidade que melhor se apresenta de custo-efetividade para projetos e ações que possam ser encaminhados com recursos do financiamento climático”, disse Muni Lourenço, presidente da comissão de meio ambiente da CNA, ao se referir à meta global de alcançar US$ 1,3 trilhão para conter as mudanças climáticas.
A CNA quer o reconhecimento dos produtores rurais como agentes fundamentais na implementação de soluções climáticas, sendo protagonistas na garantia da segurança alimentar e energética, pontuou o Pará Terra Boa.
Mas como a Folha observou, o documento não fala sobre a contribuição do setor para as emissões brasileiras que, segundo o Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), correspondem a 27,5% do total nacional em 2023. A Folha não menciona, mas o setor é responsável por uma parcela bem maior das emissões nacionais. Os especialistas do próprio SEEG citado pelo jornal são unânimes em afirmar que as emissões do desmatamento devem ser atribuídas também à agropecuária, já que esta é a principal beneficiária do desmatamento. Por isso, o setor é responsável não por 27,5%, mas sim por 70% das emissões nacionais de gases de efeito estufa.
Para Marta Salomon, especialista sênior em políticas climáticas do Instituto Talanoa, o financiamento climático não é para produtores rurais brasileiros, mas “para financiar a adaptação e a redução das emissões de gases de efeito de estufa nos países mais pobres do mundo”.
O documento será apresentado pelo enviado especial da agricultura para a COP30, o ex-ministro Roberto Rodrigues, ao embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30, antes da pré-COP, que acontecerá nos dias 13 e 14 de outubro.
CNN Brasil, Estadão, Gigante 163, Poder360, Times Brasil e Zero Hora também repercutiram a carta da CNA.
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