10 Setembro 2025
O chefe da missão após o ataque do drone: "É difícil acreditar que alguém além de Israel esteja por trás dessa ação."
A entrevista é de Alessia Candito, publicada por La Repubblica, 10-09-2025.
Desta vez, estamos realmente chegando a Gaza. Não é apenas um barco tentando romper o bloqueio; somos dezenas, centenas de ativistas a bordo, e estamos determinados. Queremos romper o cerco à Faixa de Gaza e mostrar o que o mundo teima em ignorar. Miguel Duarte, chefe da missão Sea-Watch há anos, agora ocupa o mesmo cargo no Family, o barco da Flotilha Global Sumud que foi atingido por um dispositivo incendiário na noite entre segunda e terça-feira. E ele é uma testemunha em primeira mão.
Eis a entrevista.
O que aconteceu?
Eu estava de serviço no convés. O barco estava atracado a uma curta distância do cais. Ouvi um zumbido e, logo em seguida, vi um drone voando acima de nós, da popa à proa. Percebi que a situação poderia se tornar perigosa e alertei a ponte. Outro membro da tripulação imediatamente se juntou a mim no convés.
Tunísia nega a presença de um drone.
Nós dois o vimos parar na proa e jogar algo em cima de uma pilha de coletes salva-vidas. Houve um clarão muito forte e as chamas irromperam imediatamente. Felizmente, conseguimos apagá-las rapidamente, mas a situação poderia ter se tornado perigosa.
Você poderá continuar navegando até Gaza?
O dano não é estrutural, então estou confiante.
Quem você acha que está por trás desse ataque?
É difícil imaginar alguém além de Israel.
Qual é o objetivo?
Por um lado, é certamente um ato de intimidação. Talvez a ideia seja desencorajar as pessoas a bordo. Por outro, é também uma arma de distração em massa. Poucas horas após o ataque que nos atingiu, quase um milhão de palestinos foram forçados a deixar a Cidade de Gaza, sob ameaça de novos bombardeios e ataques.
Que cenário você imagina para os próximos dias?
É difícil dizer o que poderia acontecer. Sabemos que a flotilha já foi atacada no passado; em 2010, Israel não hesitou em abrir fogo, e houve mortes. Estamos cientes do risco, mas igualmente determinados a seguir em frente.
Como líder da missão SeaWatch, você passou por vários momentos difíceis. Como esta missão é diferente?
É muito, muito mais perigoso para a tripulação. Tivemos problemas com os líbios, mas os israelenses têm a capacidade e a tecnologia para serem letais. Basta ver o que está acontecendo em Gaza.
O que leva do resgate marítimo até a Flotilha?
Há um fio condutor: são dois massacres que ninguém está cobrindo, possíveis graças à redução das vítimas a meros números e à cumplicidade da comunidade internacional. E, muitas vezes, a mesma tecnologia é usada: os drones são os mesmos.
Muitos estão pedindo que a UE e seus governos intervenham para proteger a Flotilha.
Como português, tenho vergonha do meu governo, não só pelo seu silêncio nesta missão, mas também por não ter feito nada para impedir o genocídio em Gaza. Com algumas exceções, todos os governos são cúmplices, e isto tem de acabar.
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