Empresa de água e esgoto provoca revolta em Manaus. Artigo de Sandoval Alves Rocha

Foto: Marcelo Casal | Agência Brasil

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30 Agosto 2025

"Em meio a este cenário desalentador, os movimentos sociais e outras organizações da sociedade civil se empenham em melhorar as condições de vida da cidade, convocando conferências, seminários e oficinas, exigindo dos poderes públicos mais compromisso e respeito aos direitos fundamentais dos cidadãos".

O artigo é de Sandoval Alves Rocha.

Sandoval Alves Rocha é doutor em Ciências Sociais pela PUC-Rio, mestre em Ciências Sociais pela Unisinos/RS, bacharel em Teologia e bacharel em Filosofia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE, MG), membro da Companhia de Jesus (jesuíta), trabalha no Serviço Amazônico de Ação, Reflexão e Educação Socioambiental (Sares), em Manaus.

Eis o artigo.

Em 2025, a concessão de água e esgoto completa 25 anos de vigência. Trata-se das bodas de prata de uma relação marcada por desentendimentos e contrariedades. Ao longo desta trajetória, as partes não conseguiram se entender, amargando dores de cabeça, reclamações e até ameaças de rompimento definitivo. A relação sobrevive por um fio e justamente neste ano se encontra mais tensa. Manaus está cada vez mais insatisfeita com a concessionária Águas de Manaus. Da parte da concessionária não há mais respeito pela população, dando claras indicações de desprezo pela cidade.

Houve momentos extremamente complicados que beiraram a separação e a ruptura total. Estes momentos resultaram em várias mudanças de empresas, visando melhorar a relação, sem sucesso (Lyonnaise des eaux-Suez, Solvi, Águas do Brasil e Aegea Saneamento). Diante da insustentabilidade da parceria, buscou-se substitutos, mas não foram mudanças profundas. Foram tentativas superficiais ou de fachada para inglês ver, por isso a crise não foi superada. As Comissões Parlamentares de Inquéritos (2005, 2012 e 2023) instauradas para investigar as irregularidades dos serviços foram outros momentos em que a crise ganhou notoriedade midiática.

No corrente ano a insatisfação novamente vem à tona através do aumento das reclamações identificada pela própria Agência Reguladora. Segundo o Portal do Holanda, dados da Agência Reguladora dos Serviços Públicos Delegados do Município de Manaus (Ageman) mostram que de janeiro a julho de 2025, foram realizadas 1.661 fiscalizações nos serviços de água e esgoto da Capital amazonense, um aumento de 172,7% em relação ao mesmo período de 2024. O número já supera o total de vistorias feitas durante todo o ano passado, que foi 1.106.

O maior salto ocorreu nas fiscalizações dos serviços de esgotamento sanitário. Entre janeiro e julho deste ano foram 1.119 vistorias, um crescimento de mais de 430% em relação às 211 registradas em 2024. O Portal frisa que as inspeções resultaram em 63 notificações à Águas de Manaus, somente até agosto deste ano, sendo 35 relacionada à má qualidade na recomposição do asfalto após obras de expansão da rede. Com a insatisfação causada pelos serviços realizados pela concessionária Águas de Manaus, algumas redes de comunicação já mudaram o seu nome para “Mágoas de Manaus”.

As reclamações abordam variados aspectos dos serviços de água e esgoto: Cobranças faturadas sem a disponibilização dos serviços, falta de água nas residências, buracos deixados pela empresa após intervenções, destruição de asfaltos, serviços inconclusos, vazamentos de encanações e outros. Em bairros como Viver Melhor protestos contra a empresa se repetem continuamente. Revoltados, os moradores tentam chamar a atenção dos poderes públicos empunhando faixas com dizeres populares: “Nossa voz é nossa sede! Nosso grito é por água!”, “Água eu pago, tenho direito a receber!” e “Água é um direito humano, não uma mercadoria!”.

Em meio a este cenário desalentador, os movimentos sociais e outras organizações da sociedade civil se empenham em melhorar as condições de vida da cidade, convocando conferências, seminários e oficinas, exigindo dos poderes públicos mais compromisso e respeito aos direitos fundamentais dos cidadãos. Com esse engajamento espera-se ampliar as vozes dos despossuídos e tirar os poderes públicos da inércia e da omissão.

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