09 Agosto 2025
"Os palestinos — em Gaza, mas também na Cisjordânia — reconhecem ao Hamas um papel de resistência nacional pelo qual seus líderes e combatentes estão dispostos a sacrificar tudo. Enquanto a Autoridade Nacional da Palestina de Abu Mazen se dobrou a colaborar com os israelenses mesmo na ausência de um acordo de paz definitivo, o Hamas escolheu o caminho do sacrifício extremo, tanto de si mesmo quanto de seu povo", escreve Mario Giro, professor de Relações Internacionais na Universidade para Estrangeiros de Perúgia, na Itália, em artigo publicado por Domani, 06-08-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Ninguém quer o Hamas, mas o grupo de resistência palestino não pode ser derrotado nem posto de lado. A escolha dos palestinos pode parecer extrema para nós, mas é uma decisão lógica. Eles estão lutando para sobreviver como povo. É a síndrome de Massada: viver livre ou morrer.
A trégua que não se concretiza para Gaza gira em torno da questão do Hamas: o primeiro-ministro israelense negocia com ele, apesar de acusá-lo de terrorismo. Macron reconhece o Estado da Palestina sem o Hamas; a Liga Árabe o condena pela primeira vez; a ajuda humanitária é supostamente retida por causa do Hamas; os clãs tribais de Gaza gostariam de substituí-lo... Ninguém reconhece seu papel, mas o Hamas continua sendo inevitável: não pode ser ignorado; essa é sua conquista. Não haverá vitória na Faixa de Gaza para Israel, porque o Hamas é como a fênix renascendo das cinzas, dos escombros. Os generais israelenses não se conformam: depois de toda a violência e tecnologia usadas para destruí-lo, o Hamas ainda mostra que pode atacar. Pelo menos dois soldados israelenses morrem todos os dias em Gaza, mesmo que a mídia de Tel Aviv não noticie.
Como sair dessa garra que provoca tamanho horror? Não basta acusar o Hamas de se esconder atrás da população palestina e sacrificá-la: a verdadeira questão é por que isso aconteceu e continua acontecendo.
Os palestinos — em Gaza, mas também na Cisjordânia — reconhecem ao Hamas um papel de resistência nacional pelo qual seus líderes e combatentes estão dispostos a sacrificar tudo. Enquanto a Autoridade Nacional da Palestina de Abu Mazen se dobrou a colaborar com os israelenses mesmo na ausência de um acordo de paz definitivo, o Hamas escolheu o caminho do sacrifício extremo, tanto de si mesmo quanto de seu povo.
Aos olhos da maioria dos palestinos, a corrupção da Anp não é tanto uma questão de apropriação indébita, mas sim de ter cedido ao ocupante a fim de sobreviver. O Hamas considera isso uma escolha sem dignidade: essa é sua insistente propaganda que abre brechas entre os jovens. Aqui, também entra em jogo o conceito islâmico de martírio (muito diferente do cristianismo): transformar o próprio corpo em arma, como um homem-bomba ou aceitar a morte para acusar o inimigo. Essa ideologia é continuamente manipulada e propagandeada por movimentos extremistas islâmicos. O Hamas soube fundi-la com a luta de libertação nacional, tornando-se um movimento de resistência contra o ocupante acusado de colonizar. Em tempos de extremismo identitário, religioso e ideológico, esse comportamento é facilmente compreensível: melhor morrer do que viver como escravos, melhor lutar até o fim do que aceitar a humilhação. Uma escolha imbatível: nem mesmo o mais extremo Israel pode conseguir derrotar um povo disposto a se deixar matar.
Os israelenses conhecem bem essa síndrome exaltada: é semelhante à síndrome de Massada, em que tudo é sacrificado, não importa o motivo. Os habitantes de Gaza estão dispostos a morrer a fim de não ceder. Habilidoso na comunicação, o Hamas usa a polêmica antiapartheid que mina a imagem de "Israel única democracia no Oriente Médio": é apenas para judeus, ou seja, uma democracia segregacionista.
Antes de 7 de outubro, os dois milhões de habitantes de Gaza estavam trancados em uma jaula onde o Hamas preparava — imperturbado e financiado: a maior culpa de Netanyahu — o pogrom assassino. É difícil hoje exigir cabeça fria depois de tanto sofrimento e tanta indiferença do resto do mundo. Consequentemente, a questão se resume à separação total dos destinos dos dois povos.
Obviamente, os extremistas de ambos os lados não querem essa solução: exigem tudo. A Anp já reconhece Israel, mas hoje o nascimento real do Estado palestino faz sentido se os dois povos se separarem (fisicamente), cada um para viver sua própria história, sem mais interferir naquela alheia. Delimitar será uma imposição: para ser realista, Israel deve se retirar de Gaza e da Cisjordânia; esses territórios devem ser entregues a um poder (mandatário) aceito por todos (Arábia Saudita?), que desarme e construa aquele mínimo de instituições necessárias à vida pública; e as facções palestinas devem demonstrar sua capacidade de se autogovernar. A tarefa de fazer dialogar os dois povos caberá às gerações futuras No momento, bastaria isso.