20 Agosto 2025
Uma das divisões mais profundas na filosofia diz respeito à questão estética da beleza, que separa aqueles que tentam encontrar uma definição unívoca daqueles que defendem a impossibilidade de uma conceituação da beleza. O cerne da questão não reside tanto na disputa filosófica que acabamos de descrever, mas sim em como inserir a questão da beleza no contexto mais amplo da realidade concreta e da atualidade.
A entrevista com Enzo Biachi é de Michelangelo Suma, estudante de filosofia e história na Universidade Ca' Foscari, de Veneza, publicada por Finnegans - Rivista di Cultura Mediterranea, 14-07-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Enzo Bianchi, fundador da Comunidade Bose, proferiu uma palestra sobre beleza na noite de 09-07-2025, em Misano Adriatico, na Piazza della Repubblica, durante o evento "Filósofos Sob as Estrelas", com curadoria de Gustavo Cecchini, ex-diretor da Biblioteca Municipal de Misano Adriatico. Umberto Galimberti, renomado filósofo e professor emérito da Universidade Ca' Foscari, deveria estar presente no evento em 8 de julho, mas não compareceu devido a uma súbita indisposição. Pouco antes do início da conferência, Bianchi respondeu a algumas perguntas sobre o tema da beleza em uma entrevista, com base em seus estudos e experiências.
Lendo alguns de seus ensaios e ouvindo seus discursos anteriores, notamos frequentemente sua referência ao conceito grego de καλὸς καὶ ἀγαθός, de beleza ligada ao bem e da estética ligada à ética: essa visão ainda funciona para descrever a beleza ou escapa à sua complexidade?
Acredito que a questão é certamente complexa, porque não é fácil conciliar beleza e bondade. Sendo a beleza uma força criadora que se impõe, esse critério não vale mais para a arte, mas é sobretudo na vida cotidiana dos indivíduos que a beleza é separada da bondade. Nem sempre, depois de uma análise profunda, se consegue encontrar profundidade ética na beleza, e isso vale tanto para as relações humanas, nas quais essa separação assumiu a forma de uma doença, quanto para a relação entre nós e a natureza. Enquanto o Imperador Adriano dizia em uma de suas famosas máximas que se sentia responsável pela beleza do mundo, as pessoas hoje em dia nem sequer são responsáveis pela sua própria beleza.
Ainda sobre a relação entre o homem e a natureza, o falecido Papa Francisco, com quem o senhor se encontrou diversas vezes, insistia fortemente na resolução do problema ecológico no contexto das mudanças climáticas: na sua opinião, se a beleza nos chama à responsabilidade, isso também vale para o nosso meio ambiente?
Com certeza. Sempre prescrevo um mandamento que me foi transmitido como hábito desde criança, ou seja, deixar a terra mais bela do que quando a encontrei. Em minhas experiências passadas, especialmente quando estava em Bose, sempre procurei tornar melhor o lugar que me foi confiado, e mesmo agora, quando cultivo minha pequena horta, realizo essa atividade para transformá-la em ornamento e não apenas com uma finalidade produtiva. Hoje, porém, avançam cada vez mais a feiura, o deserto, que, ainda por cima, coincide com a crueldade e a violência dos seres humanos sobre as paisagens naturais.
Em uma palestra de 2013 em Vale de Aosta, da qual o professor Stefano Zecchi também participou, o senhor falou sobre educação para a beleza: existem pontos de partida para alcançá-la?
Na minha opinião, sim. Todos são capazes de olhar, mas saber ver é a verdadeira arte e vale tanto para a natureza quanto para os corpos humanos. Aqui também, trata-se de saber fazer um discernimento entre duas derivas da beleza: a primeira leva a acolher o belo até à sua contemplação, enquanto a segunda conduz a uma situação de abuso e de posse, como aconteceu em Sodoma, onde os três rapazes hospedados por Ló são tão belos que levam os habitantes da cidade a violá-los e consumi-los, transgredindo as leis da hospitalidade. A beleza, em suma, pode ser tanto aquela que leva a Sodoma quanto aquela que se dirige à contemplação e ao bem.
Poderia o progresso industrial e tecnológico ter contribuído em parte para a degradação da beleza?
O progresso em si não é responsável pelo estado de degradação que ainda vivemos em parte hoje, mas somos nós que devemos assumir as nossas responsabilidades. Certamente devemos ter condições de lidar com as complexas mudanças históricas, mas o progresso como fenômeno dinâmico não é negativo.
Muito frequentemente, no debate filosófico italiano, afirma-se que a beleza não tem um fim nem um propósito: concorda com essa visão ou acredita que a beleza se direciona para algo?
Acredito que a beleza tem um propósito, o da nossa vida. O que seria de um diálogo entre amantes sem a beleza? O que seria das pinturas de Botticelli e do Cântico dos Cânticos sem a beleza? O belo é um evento gratuito, não surge necessariamente de um plano, é tanto enigma quanto sedução, mas também uma força baseada no princípio do terrível, como dizia Rilke nas Elegias de Duino. Percebi que a beleza serve ao mesmo propósito que o vinho, já que não ajuda a sobreviver, como o pão, mas o que seria de um jantar sem o vinho?
Durante o encontro, Enzo Bianchi identificou a natureza, o corpo humano e a arte como as três principais fontes da beleza, além de ter retomado em parte os temas já abordados na entrevista. Para Bianchi, a natureza e seus fenômenos impressionam nossos sentidos tanto em momentos de quietude quanto quando seus aspectos mais destrutivos e devastadores emergem, como terremotos e tempestades, uma ideia que parece lembrar obras de pintores como Caspar David Friedrich, que representam o sublime. O ser humano também tende a encontrar beleza na luz, como quando os monges na escuridão da noite acendem uma chama para sentir uma comunhão universal no tempo. Falando de corpos, Bianchi se referiu novamente ao episódio bíblico de Sodoma, acrescentando que a atração física é ainda mais sedutora e destrutiva do que a beleza da Natureza.
Falando de arte, a análise se concentrou tanto na função dos museus, únicos locais destinados à preservação de obras, quanto na perda do senso da beleza por parte da Igreja, que Bianchi acredita poder ser percebida nas novas liturgias, nos novos cantos, nas novas arquiteturas e peregrinações, que perderam seu papel e caminho para a proteção da criação. Ser cativados pela beleza é uma ferida capaz de destruir a racionalidade humana, mas ao mesmo tempo uma preciosa pérola de salvação. A conferência se encerrou com um apelo ao público, o mesmo pilar que Enzo Bianchi havia prescrito na entrevista: tornar este mundo melhor do que o encontramos e ser responsáveis por ele.