04 Julho 2025
"Dom Vicente incentivou o grupo a se manter firme na caminhada: 'Não tenhamos medo. Todos os projetos de morte foram destruídos, ao longo da história. Nós precisamos permanecer fiéis ao projeto do Reino; esse grupo Fratelli Tutti é uma semente de esperança e fidelidade ao Evangelho'", escreve Dário Bossi.
Dário Bossi é religioso comboniano no Brasil. Depois de passar dez anos no Maranhão – estado afetado por intensa mineração – está empenhado na defesa dos direitos ambientais dos povos. Atua na Rede eclesial pan-amazônica (REPAM) e na pastoral social da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Dom Vicente de Paula Ferreira, presidente da Comissão para Ecologia Integral e Mineração da CNBB, encontrou, em 02-07-2025, o grupo de parlamentares Fratelli Tutti. O grupo, pluripartidário, inspira-se na encíclica do Papa Francisco e em seu magistério, com o compromisso de assumir a política como um serviço à vida, na perspectiva do Bem Comum e na promoção da justiça social e ambiental.
Doze deputados e deputadas federais participaram do encontro; a eles, dom Vicente apresentou o documento da Igreja do Sul Global rumo à COP30, com um posicionamento de denúncia e anúncio cristão, que foi apresentado também ao Papa Leão, em vista da participação da Santa Sé na Conferência da ONU prevista em novembro, na cidade de Belém do Pará.
Dom Vicente também apresentou o manifesto da Comissão “Ecologia Integral: uma narrativa para enfrentar a crise socioambiental planetária”, destacando que será apresentado também à ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, com um apoio à sua iniciativa para um “Balanço Ético Global” sobre a emergência climática. “A Igreja tem muito a contribuir no cuidado da Criação, a partir da perspectiva ética e da visão da ecologia integral”, destacou o bispo.
A Comissão para Ecologia Integral e Mineração e a Comissão Brasileira de Justiça e Paz manifestaram apoio aos parlamentares, num momento em que a maioria do Congresso está pautando decisões contra os interesses da maioria da população e extremamente graves para a casa comum. Dom Vicente reverberou a denúncia e o repúdio da CNBB ao PL 2159/2021, que institui uma nova Lei Geral do Licenciamento Ambiental: o assim chamado “PL da Devastação”, porque flexibiliza o licenciamento ambiental, aumentando os riscos de acidentes e violência socioambiental contra comunidades e territórios.
Dom Vicente de Paula Ferreira em encontro com o grupo Fratelli Tutti (Foto: Dário Bossi)
Movimentos populares, organizações ambientais, comunidades e povos estão bastante mobilizados contra este PL, com plenárias nacionais online e uma mobilização organizada para o dia 13 de julho.
Outra expressão de mobilização popular que foi debatida e valorizada é o Plebiscito Popular para a taxação das grandes fortunas e para a redução da escala de trabalho 6x1. A Igreja está atuando junto aos movimentos populares na organização deste plebiscito, com participação ativa da Comissão Sociotransformadora da CNBB, entre outros atores.
Os deputados/as analisaram que o cenário político atual está muito difícil e que a incidência política no contexto institucional precisa, hoje mais que nunca, de mobilização nas ruas, envolvimento das juventudes, capacidade de comunicar com coragem e se posicionar com profecia. Dom Vicente comentou que “a polarização do mundo de hoje é entre quem está matando e quem está morrendo. Essa é a real polarização!” Os deputados/as manifestaram apoio à causa sofrida da Palestina, com um verdadeiro genocídio ainda em curso, e reiteraram a intenção de convocar, em agosto, uma audiência pública em homenagem às figuras históricas de quatro bispos cuja memória de falecimento recorre exatamente em agosto: Dom Hélder Câmara, Dom Luciano Mendes de Almeida, Dom José Maria Pires e Dom Pedro Casaldáliga.
Dom Vicente incentivou o grupo a se manter firme na caminhada: “Não tenhamos medo. Todos os projetos de morte foram destruídos, ao longo da história. Nós precisamos permanecer fiéis ao projeto do Reino; esse grupo Fratelli Tutti é uma semente de esperança e fidelidade ao Evangelho”.
Num cenário de extrema preocupação pelo contexto político e social do país, não falta esperança no coração do bispo, que concluiu o encontro com as seguintes palavras: “O amor e a Graça são muito mais ancestrais que o ódio e o egoísmo. O amor e a Graça vão emergir, e se conectarão com a força ancestral dos povos originários. Eu gostaria de estar do lado da emergência dessa força, que é aquela das minorias abraâmicas”.