04 Julho 2025
As Igrejas irmãs do hemisfério sul estão sentadas à mesa, lado a lado, para levantar suas vozes sobre a justiça climática e apontar o dedo para os países industrializados e os negacionistas das mudanças climáticas.
A reportagem é de Agnese Palmucci, publicada por Avvenire, 02-07-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Há menos de cinco meses da COP30 de Belém, com um documento programático comum e "sinodal" apresentado ontem, primeiro ao Papa Leão XIV e depois à imprensa, as conferências episcopais da Ásia, África e América Latina exigiram "que os países ricos reconheçam e assumam sua dívida social e ecológica" por serem "os principais responsáveis pela extração de recursos naturais e pela emissão de gases de efeito estufa". Repetiram isso a uma só voz ontem, durante a conferência de apresentação no Vaticano do documento "Um apelo em prol da justiça climática e da casa comum: conversão ecológica, transformação e resistência às falsas soluções", trazendo consigo o sofrimento de populações inteiras, o Cardeal Jaime Spengler, Arcebispo de Porto Alegre e Presidente do Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM), Filipe Neri Ferrão, Arcebispo de Goa e Damão, Presidente da Federação das Conferências Episcopais Asiáticas (FABC), e Fridolin Ambongo Besungu, Arcebispo de Kinshasa, na República Democrática do Congo.
"Ajudem-nos a difundir as preocupações e a verdade sobre o que está acontecendo, há negacionistas demais", disse o Cardeal Spengler aos jornalistas ao abrir seu discurso na Sala de Imprensa da Santa Sé. "Mesmo que existam ideologias políticas que se contraponham aos dados científicos sobre as mudanças climáticas", ressaltou, "devemos ter a coragem de anunciar profeticamente o que precisa ser feito".
Por isso, o documento, reiterou o cardeal brasileiro, "não é um gesto isolado, mas fruto de um processo sinodal, de um discernimento espiritual comunitário entre Igrejas irmãs do hemisfério sul, África, Ásia, América Latina e Caribe". A declaração, que deu seus primeiros passos em agosto de 2024, durante uma viagem sinodal, contém as principais denúncias feitas pela Igreja, em consonância com o magistério de Francisco e Leão XIV em relação à crise climática”.
A esperança é que as palavras transcritas sejam levadas em consideração "na fase preparatória para a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas em 2025" e que a mensagem das Igrejas do Sul global seja clara, reiterou o presidente do CELAM: "não há justiça climática sem conversão ecológica, e não há conversão ecológica sem resistência às falsas soluções ou soluções fáceis". Falando do "apelo" com o Papa, durante a audiência, os cardeais voltaram a pedir a Leão XIV uma sua possível participação na COP30, que, no entanto, explicou o Cardeal Spengler, "deixou a questão ainda em aberto". Emilce Cuda, Secretária da Pontifícia Comissão para a América Latina (Pcal), certamente estará na Conferência. Em entrevista coletiva, ela ressaltou que sua participação no Brasil visará "como apóstolos missionários de uma Igreja sinodal em saída" para "a construção da paz em meio a essa guerra em pedaços contra a criação, onde muitos estão morrendo e outros morrerão se não agirmos agora".
Colaboração entre os atores do Norte e do Sul do mundo, portanto, limitação do aquecimento global, promoção de uma finança climática que não gere mais dívidas e leve em conta as realidades locais enraizadas. Esses são apenas alguns dos pontos propostos no apelo, tornado público no décimo aniversário da publicação da "Laudato si'" e do Acordo de Paris, e com curadoria do Simpósio das Conferências Episcopais da África e Madagascar (SECAM), da FABC e do CELAM, coordenadas pela Pcal.
"Queremos que a COP30 seja um ponto de virada moral", disse o Cardeal Neri Ferrão com veemência. "Na Ásia, milhões de pessoas já sofrem os efeitos devastadores das mudanças climáticas, como tufões, migrações forçadas, perda de ilhas", num momento em que, acrescentou, "avançam soluções falsas, megainfraestruturas, deslocamentos para produzir energias ‘limpas’ que não respeitam a dignidade humana e um extrativismo mineral sem alma". Além das críticas ao sistema econômico atual, as Igrejas do Sul, acrescentou o Arcebispo de Goa, promovem percursos educativos, programas econômicos baseados no decrescimento, economias circulares e políticas de apoio às mulheres. "Nós, pastores, exigimos justiça climática e queremos que ela seja reconhecida como um direito humano e espiritual", especificou o Cardeal Ambongo Besongu. "Como podemos aceitar que, em nome da transição energética, comunidades inteiras sejam aniquiladas na busca por minerais estratégicos, enquanto as mesmas comunidades são deixadas sem água potável? A corrida aos minerais estratégicos na África está na origem da proliferação de grupos armados." Daí as duras críticas do cardeal ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pela mediação no conflito entre Ruanda e a República do Congo, ligado à possível exploração de depósitos minerais. Segundo Ambongo, Trump gostaria de aplicar a solução proposta na Ucrânia, "mas não funcionou. Todos estão fugindo".
O trabalho, reunido no documento, para Besongu "não é uma análise, mas um apelo à dignidade". "Dizemos basta de falsas soluções, o tempo da indiferença acabou", concluiu. "Propomos uma transformação que coloque no centro o cuidado com a vida, a soberania dos povos indígenas sobre seus territórios, a defesa ativa dos direitos das mulheres, dos direitos dos migrantes climáticos e das novas gerações".