25 Junho 2025
Centenas de pessoas que coletavam alimentos foram mortas por atiradores desde que a Fundação Humanitária controlada pelos EUA e Israel começou a operar.
A informação é de Almudena de Cabo, publicada por El País, 24-06-2025.
O chefe da Agência das Nações Unidas para Refugiados da Palestina (UNRWA), Philippe Lazzarini, criticou duramente o atual sistema de ajuda humanitária na Faixa de Gaza na terça-feira e pediu o retorno às práticas anteriores de prestação de ajuda humanitária internacional. "O novo mecanismo de ajuda é uma abominação que fere e mata seres humanos. É uma armadilha mortal que custa mais vidas do que salva", disse ele em Berlim, em uma coletiva de imprensa sobre o sistema administrado pelo Fundo Humanitário de Gaza (FGH, controlado pelos EUA e Israel).
Desde a introdução deste mecanismo imposto por Israel para controlar a entrega de ajuda a Gaza, centenas de pessoas foram mortas por atiradores de elite enquanto buscavam comida para si ou para suas famílias famintas. Uma situação que gerou duras críticas da comunidade internacional.
O GHF começou a distribuir pacotes de alimentos no final de maio, após Israel suspender parcialmente um bloqueio total que durava quase três meses. No entanto, apesar do risco de serem atingidos por tiros, os Palestinos não têm escolha a não ser correr o risco para receber ajuda.
Lazzarini lembrou que, segundo os dados mais recentes das Nações Unidas, “o ano passado foi o mais mortal para crianças em qualquer conflito no mundo na história recente”. “Já dissemos isso várias vezes e repito: não há lugar seguro em Gaza e ninguém está seguro… Hospitais, escolas, bunkers, casas e campos de refugiados foram destruídos. Médicos, jornalistas e trabalhadores humanitários, incluindo quase 320 de nossos funcionários, foram mortos”, denunciou, apelando novamente por um cessar-fogo imediato e pela libertação incondicional dos reféns. “Não há outra alternativa se quisermos superar os desafios da fome em Gaza.”
O chefe da UNRWA também relatou as dificuldades financeiras da agência da ONU para continuar seu trabalho e que não sabe como elas continuarão depois de setembro. "Nossa situação é ainda pior do que no ano passado", alertou em entrevista coletiva, na qual enfatizou a necessidade de apoio político e financeiro de países como a Alemanha. "Nossa situação financeira é muito apertada. A liquidez é administrada semanalmente, não mensalmente", acrescentou. "Sem mais financiamento, em breve terei que tomar decisões sem precedentes que afetarão os refugiados palestinos em toda a região."
A UNRWA enfrenta há muito tempo uma campanha de desinformação contra a agência da ONU, que a acusa até de ser uma organização terrorista. “Essa campanha se estendeu a um engajamento de longa data com a mídia internacional independente em Gaza. Nos últimos 20 meses, a equipe do governo israelense continuou a condenar a UNRWA e sua neutralidade. Essa condenação colocou seriamente em risco as vidas de nossa equipe e prejudicou a reputação da agência”, enfatizou Lazzarini, lembrando que a UNRWA, assim como a ONU, não possui capacidade policial, militar ou de inteligência. “Recorremos aos Estados-Membros quando tais recursos são necessários.”
"Pedimos repetidamente à equipe do governo israelense que nos fornecesse provas de que alguns membros da equipe da UNRWA estão envolvidos em atividades militares", afirmou o chefe da UNRWA. Por isso, afirmou, escreveram ao governo israelense solicitando mais informações e provas, lembrando-o de que não iniciou nenhum processo dentro de seu sistema de justiça criminal, o que exigiria provas confiáveis.