24 Junho 2025
"Numa escola onde o objetivo é o conhecimento e o aproveitamento é o parâmetro para medi-lo, independentemente das condições de existência com que as diferentes vidas dos alunos conseguiram se expressar, para aqueles que não obtêm sucesso, não basta invocar a boa vontade", escreve Umberto Galimberti, filósofo, antropólogo e psicólogo italiano, em artigo publicado por La Repubblica, 20-06-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Na Itália, estão sendo realizados os exames de maturidade, que desde 1997, com a reforma escolar implementada pelo Ministro Luigi Berlinguer, passaram a ser chamados de exames de Estado. Nesse caso, não se trata apenas de uma mudança inofensiva de nome, mas de uma limitação precisa da tarefa da escola unicamente à instrução. O que fica de fora, e que a palavra maturidade incluía, é a educação.
A mudança de nome foi oportuna porque a escola italiana instrui, mas não educa. Digo isso porque a instrução é uma transmissão de conteúdos culturais e científicos de quem os possui (os professores) para quem não os possui (os alunos); e educação, ao contrário, acompanha os estudantes, naquela época incerta chamada adolescência, em sua trajetória de evolução psicológica, nunca tão problemática e turbulenta como naquela idade, já que a racionalidade entra em pleno funcionamento entre os 18 e os 20 anos, quando os lobos frontais atingem a plena "maturidade". É comum pensar que a educação nada mais é do que um derivado da instrução. Mas as coisas não são assim. Em vez disso, a instrução é um evento que só pode ser realizado durante a educação, porque, como dizia Platão, "a mente não se abre se não se abrir primeiro o coração". Mas quantos professores abrem o coração? E quantos se limitam a realizar os programas ministeriais sem qualquer empatia por seus alunos?
A educação é essencial porque, diferentemente dos animais, os humanos não têm instintos, que são respostas rígidas a um estímulo, mas apenas impulsos com um objetivo indeterminado, de modo que, por exemplo, um impulso agressivo pode se expressar em violência, mas, se educado, pode se traduzir em uma séria tomada de posição.
A falta de educação dos impulsos confina as crianças a se expressarem apenas com gestos violentos, em vez de com palavras e raciocínios. Esse é o caso do bullying em que se cometem atos reprováveis sem a menor consciência da gravidade das ações. Como nossa escola se comporta com os agressores? Recebem uma suspensão da escola, privando-os da única oportunidade que têm naqueles anos de passar do nível pulsional para o nível emocional.
Por emoção, quero dizer, nesse contexto, a ressonância emocional dos próprios comportamento. Kant dizia que “talvez nem sequer definamos a diferença entre o bem e o mal, porque cada pessoa a sente (fühlen) naturalmente por si só”. Hoje, não é mais verdade que todas as crianças sentem a diferença entre falar mal de um professor, talvez não em sua presença, ou chutá-lo (agora até os pais tentam isso), entre cortejar uma garota ou estuprá-la. Prova disso são as respostas que esses garotos dão aos magistrados que os interrogam: “Mas o que fizemos?”. Eles não têm aquela ressonância emocional imediata que geralmente acompanha os nossos comportamentos.
Não temos sentimentos por natureza, mas por cultura. Os sentimentos são aprendidos. Desde o início dos tempos, as primeiras comunidades, por meio de narrativas, mitos e ritos, ensinavam a diferença entre puro e impuro, entre sagrado e profano, entre totem e tabu, a fim de orientar os membros da comunidade em seus comportamentos. Os antigos gregos representavam todos os sentimentos, paixões e virtudes humanas no Olimpo. Zeus era o poder, Atena a inteligência, Afrodite a sexualidade, Ares a agressividade, Apolo a beleza, Dionísio a loucura.
Hoje não podemos retornar aos mitos, mas temos aquele grande repertório que é a literatura, que nos ensina o que é a dor em todas as suas nuances, o que é o amor em todas as suas manifestações, o que são alegria, tristeza, tédio, entusiasmo, esperança, desespero, melancolia, exaltação.
E, portanto, vamos parar de encher a escola de computadores (a digitalização da escola), e voltar à literatura que, por exemplo, na presença da dor, nos pode indicar, se não as saídas, pelo menos as maneiras de lidar com ela. Compreendemos então por que Ésquilo, no século V a.C., dizia: "Só o conhecimento tem poder sobre a dor". Se a escola italiana instrui, mas não educa, as razões são em parte objetivas e em parte subjetivas.
Para educar, é necessário compor turmas de 12 ou, no máximo, 15 alunos. Se, no entanto, as turmas são de 30 alunos, então foi decidido a priori que a educação não está incluída entre as funções da escola. Numa escola onde o objetivo é o conhecimento e o aproveitamento é o parâmetro para medi-lo, independentemente das condições de existência com que as diferentes vidas dos alunos conseguiram se expressar, para aqueles que não obtêm sucesso, não basta invocar a boa vontade.
Essas são as razões que levam muitos alunos a abandonar a escola, quando não extinguem a autoestima em jovens vidas, fundamental para o crescimento e para evitar desmotivações e depressões.
Fiquei sabendo de um diretor milanês que disse a uma professora que havia dado zero ao trabalho de um aluno: "Zero não é uma nota, é uma humilhação. É possível avaliar a insuficiência de um trabalho também com um quatro, no lugar de um zero".
Se nas nossas escolas está prevista apenas a instrução e não a educação, considero oportuno, mas também mortificante, que o exame final não seja mais chamado de "maturidade", mas sim de "exame final de Estado do curso de estudo de instrução secundária superior". É triste, não é? Mas pelo menos essa formulação diz a verdade sobre a nossa escola.