10 Abril 2023
Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo logo depois do ataque de aluno do oitavo ano da Escola Estadual Thomazia Montoro, na capital paulista, matando uma professora, a pesquisadora Telma Vinha, da Unicamp, alertou, no dia 27de março: “Vai acontecer de novo”.
A reportagem é de Edelberto Behs, jornalista.
Uma semana e um dia depois o vaticínio se concretizou, num grau de crueldade tal que chocou o país. Quatro crianças, de 3 a 7 anos de idade, da creche Bom Pastor, de Blumenau, foram mortos a machadinha. Outras quatro crianças ficaram feridas. Este foi o décimo ataque a uma escola brasileira nos últimos oito meses, informa a Carta Capital.
O sociólogo César Barreira, fundador do Observatório de Estudos da Violência, da Universidade Federal do Ceará, disse à repórter Ana Carolina Peliz, da revista, que o problema desse tipo de violência não poder ser considerado como um fenômeno comum, mas começa a gerar preocupações. As escolas, definiu, são símbolos fortes e importantes para os agressores, pois simbolizam o Estado e suas instituições. O ambiente escolar também pode ser sinônimo de maus-tratos para vítimas de bullying.
“A gente observa a sociedade como se fosse uma sequência – ainda que não seja assim tão lógica. Você tem conflitos sociais, esses conflitos sociais se exacerbam e tornam-se violência. A violência agora se exacerba e se torna crueldade”, explicou o sociólogo.
A doutora em Educação, Flávia Vivaldi, da Unesp e da Unicamp, corrobora a percepção de Barreira. “Quando vemos uma guerra acontecendo, quando vemos discursos de ódio sendo alimentados, inclusive pela liderança nacional, a violência vai sendo naturalizada. Então, é como se os sujeitos que têm atitudes assim na escola estivessem reproduzindo aquilo que está solto na sociedade. Há um incentivo latente para isso, e não há nenhuma ação de repúdio à violência e ao desrespeito”, afirmou para a repórter Carla Melo, em setembro do ano passado.
Pesquisa realizada pela Nova Escola em julho de 2022 com mais de 5 mil educadores, mostrou que sete em cada dez professores/as relataram casos de violência sofrida no local de trabalho. Estudantes foram os principais agressores, com 50,5% dos casos, seguidos de familiares de alunos (25,7%), gestores escolares e colegas de trabalho (11,4%).
Docentes se queixam da falta de orientação nos casos de ações violentas no ambiente escolar. Também reclamam a falta de suporte e de apoio psicológico, somado à carga excessiva de trabalho nas escolas pós-pandemia, o que levou alguns professores e professoras a refletirem se vão continuar lecionando.
Na pesquisa da Nova Escola, 68% dos professores e das professoras ouvidas disseram que os casos de violência aumentaram com a volta às aulas após pandemia; 57,4% acreditam que esse crescimento pode estar relacionado à maior incidência de questões psicológicas por causa do isolamento social sofrido no período da pandemia. A falta de socialização de alunos e alunas foi apontado por 45% dos profissionais da educação como um dos motivos para a violência praticada nas instituições de ensino.
Boa parte dos docentes (62,3%) acreditam que o desenvolvimento das ações que trabalham aspectos socioemocionais dos alunos em sala de aula são atividades importantes para evitar a violência nas escolas. A coordenadora do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec), Érica Catalani, destaca a importância de desenvolver um clima escolar positivo.
“Um clima escolar positivo não significa ausência de conflitos, mas sim preparar todas e todos da comunidade escolar para saber enfrentá-los de uma forma harmoniosa. Conflitos são inerentes às relações humanas, o que muda é a forma como lidamos com eles”, esclareceu a professora em entrevista para o portal do Cenpec.
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Professores querem apoio psicológico para enfrentar violência em escolas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU