É necessário acreditar na Trindade? Comentário de José Antonio Pagola

Foto: Cathopic

13 Junho 2025

A reflexão é elaborada pelo teólogo espanhol José Antonio Pagola, comentando o evangelho da Solenidade da Santíssima Trindade, ciclo C do Ano Litúrgico, que corresponde ao texto bíblico de João 16,12-15, publicada por Religión Digital, 09-06-2025.

Eis o texto.

É necessário crer na Trindade? É possível? É útil? Não é uma construção intelectual desnecessária? Nossa fé muda de alguma forma se não cremos no Deus Trino? Há dois séculos, o famoso filósofo Immanuel Kant escreveu estas palavras: "Do ponto de vista prático, a doutrina da Trindade é perfeitamente inútil".

Nada poderia estar mais longe da verdade. A fé na Trindade muda não apenas nossa visão de Deus, mas também nossa maneira de compreender a vida. Confessar a Trindade de Deus é crer que Deus é um mistério de comunhão e amor. Não um ser fechado e impenetrável, imóvel e indiferente. Sua misteriosa intimidade é apenas amor e comunicação. Consequentemente, na profundidade última da realidade, que dá sentido e existência a tudo, não há nada além do Amor. Tudo o que existe provém do Amor.

O Pai é o Amor original, a fonte de todo amor. Ele inicia o amor. "Só Ele começa a amar sem razão; aliás, é Ele quem sempre começou a amar" (Eberhard Jüngel). O Pai ama desde sempre e para sempre, sem ser forçado ou motivado de fora. Ele é o Amante eterno. Ele ama e sempre continuará a amar. Ele jamais retirará de nós seu amor e fidelidade. Somente d'Ele provém o amor fraternal. Consequentemente: criados à sua imagem, somos feitos para amar. Somente amando alcançamos a existência.

O ser do Filho consiste em receber o amor do Pai. Ele é o "eternamente Amado", antes da criação do mundo. O Filho é o Amor que acolhe, a eterna resposta ao amor do Pai. O mistério de Deus consiste, portanto, em dar e também em receber amor. Em Deus, deixar-se amar não é menos que amar. Receber amor também é divino! Consequência: criados à imagem deste Deus, somos feitos não apenas para amar, mas para ser amados.

O Espírito Santo é a comunhão do Pai e do Filho. Ele é o Amor eterno entre o Pai amoroso e o Filho amado, aquele que revela que o amor divino não é a posse ciumenta do Pai nem a monopolização egoísta do Filho. O verdadeiro amor é sempre abertura, dom, comunicação transbordante. Portanto, o Amor de Deus não permanece em si mesmo, mas comunica e se estende às suas criaturas.

"O amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado" (Romanos 5,5). Consequentemente, criados à imagem deste Deus, somos feitos para amar uns aos outros, sem monopolizar e sem nos fecharmos em amores fictícios e egoístas.

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