Contemplar o Cristo na cruz é a contemplação do coração da Trindade

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31 Março 2020

"O sacrifício de Deus como um pai idealizado foi consumado ultimamente pelo mundo na Sexta-feira Santa. Nesse dia, Deus se revelou definitivamente em sua derradeira Palavra, como Deus da graça e da misericórdia, como um Deus humano em sua divindade, até morrer fazendo orações e súplicas em 'alta voz e com lágrimas” (Hb 5, 7)', afirma o teólogo francês Louis-Marie Chauvet, no livro Du symbolique au symbole (Do simbólico ao símbolo, Cerf 1979, cf. páginas 248 a 251).

O extrato do livro é publicado pelo padre Pierre Vignon, presbítero da diocese de Valence, Província de Lyon, em Settimo Cielo, 30-03-2020. A tradução é de André Langer.

Segundo o teólogo francês, "o Deus Trindade, revelado na Cruz do Ressuscitado, não pode mais ser 'usado' como um 'substituto' para os nossos problemas. Deus da graça, ele não pode mais nos servir de álibi: ele nos coloca entre a cruz e a espada, envia-nos de volta à nossa própria responsabilidade; ordena-nos a consentir sua ausência e seu silêncio. Na morte do Filho, o Verbo se calou".

Eis o texto.

A cruz do ressuscitado só pode ser interpretada como uma renúncia do próprio Deus. Ela também provoca a revolução da própria imagem de Deus, revolução que leva à crise, à mudança, em uma palavra, à redenção do mundo. Ao mesmo tempo, são nossas representações espontâneas da relação do homem com Deus que são chamadas à conversão.

Porque o Deus em quem nunca paramos de sonhar – o Deus do nosso paraíso perdido e da nossa primeira inocência, garantia das nossas certezas (em particular religiosas), retribuidor compulsório de nossas boas obras... – não é outro senão o nosso próprio duplo ideal, projeção idólatra de nós mesmos e, portanto, um concorrente e um rival.

Por fim, nós vivemos do desejo de nos tornar escravos desse “Deus”. Isso, apesar das aparências, é claro, porque o escravo só vive do desejo impossível de tomar o lugar do senhor, de se apoderar de sua onipotência. Mas é, ao mesmo tempo, sua situação de escravo que ele rubrica. Esta é, segundo Freud, a posição imaginária insuportável da criança em relação ao pai idealizado durante a crise edipiana: posição mortal que o mantém escravo e o impede de se tornar filho.

O sacrifício de Deus como um pai idealizado foi consumado ultimamente pelo mundo na Sexta-feira Santa. Nesse dia, Deus se revelou definitivamente em sua derradeira Palavra, como Deus da graça e da misericórdia, como um Deus humano em sua divindade, até morrer fazendo orações e súplicas em “alta voz e com lágrimas” (Hb 5, 7).

E doravante, o Espírito Daquele que ressuscitou o Crucificado, derramado sobre todas as pessoas (At 2, 17), suscita no homem gemidos inexprimíveis (Rm 8, 23-26) para convertê-lo a esta humanidade de Deus tão contrária à imagem do majestoso todo-poderoso divino que forma seu desejo e para fazê-lo clamar: “Abba, Pai”, libertando-o assim da sua condição de escravo para fazê-lo filho no Filho (Rm 8, 15-16; Gl 4, 6-7). Esta é a loucura do Logos da Cruz (1Cor 1, 18)...

Esse Logos nos abre a uma “divinização-filiação” que, longe de nos afastar da nossa humanização ou da nossa mundanidade, nos reenvia a ela. Tornar-se filho em comunhão, no Espírito, com o Filho, é aprender pouco a pouco a reconhecer sua total dependência da existência em relação ao Pai de Jesus e, por isso, comprometer-se a fazer sua própria vida de maneira autônoma e responsável...

A criança se torna filho apenas reconhecendo a Lei paternal. Mas é justamente por isso que ela tem medo de se afastar do regime de liberdade vigiada sob o olhar ciumento do pai todo-poderoso imaginário e de tornar-se ela mesma.

O Deus Trindade, revelado na Cruz do Ressuscitado, não pode mais ser “usado” como um “substituto” para os nossos problemas. Deus da graça, ele não pode mais nos servir de álibi: ele nos coloca entre a cruz e a espada, envia-nos de volta à nossa própria responsabilidade; ordena-nos a consentir sua ausência e seu silêncio. Na morte do Filho, o Verbo se calou.

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