14 Mai 2025
O México registrou aproximadamente 26.000 deslocamentos forçados devido à violência criminosa em 2024, o dobro do número registrado no ano anterior, de acordo com o relatório anual do Centro de Monitoramento de Deslocamento Interno (IDMC).
A reportagem é de Alan Rodríguez, publicada por La Crónica de Hoy, 13-05-2025. A tradução é do Cepat.
A organização internacional também alertou que o número real pode ser significativamente maior, dada a ausência de um sistema oficial e sistemático de monitoramento desse fenômeno no país.
“O número de deslocamentos devido à violência no México tem experimentado um aumento preocupante, associado à intensificação dos conflitos armados entre grupos criminosos e à fragilidade institucional para proteger as populações afetadas”, afirma o documento.
O IDMC enfatizou que o estado de Chiapas tornou-se o principal foco de deslocamento interno no país devido à sua posição estratégica nas rotas do tráfico ilegal de armas, drogas e migrantes. As localidades mais afetadas foram Tila, Chenalhó e Pantelhó, onde confrontos entre grupos armados e a falta de ação das autoridades locais forçaram milhares de pessoas a abandonarem suas casas.
Ao longo de 2024, a região de Altos de Chiapas vivenciou uma escalada contínua de violência, com a presença de grupos armados como o cartel de Sinaloa e o cartel de Jalisco Nueva Generación, em disputa pelo controle territorial, especialmente em áreas rurais e indígenas. As autoridades locais foram sobrecarregadas ou até mesmo cooptadas, ao passo que as comunidades afetadas ficaram à mercê de ameaças, bloqueios, recrutamento forçado e assassinatos.
O relatório observa que deslocamentos em massa foram registrados no município de Pantelhó desde 2021, mas que a situação se agravou em 2024 com novos surtos de violência entre grupos criminosos e autodefesas armadas, alimentados pela impunidade e pela ausência do Estado.
Embora Chiapas seja responsável pelo maior volume, o norte do país também registrou números alarmantes, especialmente o estado de Sinaloa, onde o IDMC registrou pelo menos 4.400 deslocamentos forçados entre setembro e novembro de 2024. Estes ocorreram principalmente em comunidades montanhosas como Tamazula e Badiraguato, onde os conflitos entre células de cartéis locais forçaram dezenas de famílias a fugir.
“Os grupos criminosos usam o deslocamento como estratégia para esvaziar territórios, intimidar populações e consolidar rotas logísticas”, observa o documento.
O relatório também apresenta um número acumulado que ilustra a magnitude do fenômeno: no final de 2024, cerca de 390.000 pessoas viviam deslocadas no México por causas relacionadas à violência, ou seja, longe de suas casas e sem garantias de retorno.
Com esse número, o México ocupa o quarto lugar nas Américas com o maior número de pessoas deslocadas internamente devido à violência, atrás apenas da Colômbia (7,26 milhões), do Haiti (1 milhão) e da Guatemala (573 mil).
Os deslocamentos forçados no México não são novos, mas aumentaram em frequência e intensidade nos últimos cinco anos, na ausência de uma política nacional articulada de assistência às vítimas ou um registro público consolidado que permita uma avaliação precisa do problema.
“A invisibilização institucional do deslocamento interno alimenta a impunidade e agrava as condições de vulnerabilidade das pessoas afetadas”, conclui o IDMC.
O relatório do IDMC, sediado em Genebra, é uma das poucas fontes confiáveis que busca documentar de maneira sistemática os deslocamentos internos no mundo. Todos os anos, a organização produz um relatório anual com base em informações de governos, agências humanitárias e organizações locais.
No caso do México, o relatório de 2024 reforça a urgência de o Estado mexicano reconhecer formalmente o fenômeno, registrá-lo adequadamente e oferecer proteção, cuidado e reparação às pessoas deslocadas, muitas das quais acabam presas em ciclos de pobreza, estigmatização e revitimização.
Até o momento, nem o governo federal nem a maioria dos governos estaduais estabeleceram mecanismos eficazes para prevenir ou enfrentar esse tipo de deslocamento, que afeta desproporcionalmente mulheres, menores de idade, povos indígenas e comunidades rurais. Em muitos casos, as pessoas deslocadas acabam se refugiando em comunidades vizinhas, em condições precárias e sem apoio institucional.
A Comissão Mexicana para a Defesa e Promoção dos Direitos Humanos (CMDPDH) documentou pelo menos 500 episódios de deslocamento forçado interno desde 2006, muitos dos quais permanecem invisíveis devido à falta de denúncias formais ou de cobertura da mídia.
Organizações de direitos humanos instaram o Congresso mexicano a aprovar uma Lei Geral sobre Deslocamento Forçado Interno, que vem sendo proposta há mais de cinco anos e permanece em suspenso.