16 Abril 2025
O artigo é de Sergio Rubin, jornalista argentino, publicado por Valores Religiosos e reproduzido por Religión Digital, 15-04-2025.
Desde que o papa Francisco apareceu pela primeira vez na sacada da Basílica de São Pedro sem todos os trajes papais — muito menos, sem os sapatos vermelhos —, desde que disse que desejava “uma Igreja pobre para os pobres” e, enfim, desde que pediu aos cardeais que não usassem carros luxuosos, deixou claro que queria uma instituição nada pomposa e mais austera.
Na verdade, Paulo VI (1963-1978) marcou um marco no caminho rumo a uma instituição mais despojada ao deixar de usar a tiara papal, uma pesada coroa cônica tripla, enquanto João Paulo II (1978-2005) fez o mesmo com a sedia gestatória, na qual os pontífices eram carregados nos ombros em determinadas cerimônias solenes.
Mas para os setores mais conservadores, Francisco foi longe demais. Quem diz isso é o próprio Bergoglio: “Me acusam de estar dessacralizando o papado porque não uso todos os ornamentos, já que prefiro um estilo mais simples; nem as calças brancas, porque me sentiria de pijama; nem os sapatos vermelhos, porque uso ortopédicos”.
Também não agradou que ele não quisesse morar no Palácio Apostólico — argumentando que ali ficaria isolado — e preferisse a residência de Santa Marta. Chegaram até a chamá-lo de “popularucho” por sua proximidade com o povo. “Não acaricio uma criança para que digam ‘que bom é esse Papa!’, mas porque isso me vem de dentro”, afirma Francisco.
No livro O Pastor – que escrevi com a colega Francesca Ambrogetti e foi publicado em 2023 – Jorge Bergoglio responde a essas críticas dizendo que “há dois tipos de resistência. A de alguns que simplesmente se sentem um pouco atropelados diante de um modo de ser que pode desorientá-los, e esses – ele aponta – eu compreendo perfeitamente”.
“E há outros – acrescenta – que, após se sentirem atropelados, reagem afetados pelo ‘vírus’ ideológico, e esses eu tenho dificuldade em compreender, porque sou visceralmente anti-ideológico. Não tolero – afirma – as ideologias, pois elas fecham a mente e às vezes chegam ao ridículo. Na política, acabam mal, acabam em ditaduras.”
Era previsível, portanto, que os setores mais conservadores ficassem de cabelos em pé ao verem, na quinta-feira, as imagens de Francisco na Basílica de São Pedro sem a batina branca e, em vez disso, com suas habituais calças pretas à mostra, uma camiseta e um poncho ou manta listrada cobrindo-o.
Ao ser questionado por jornalistas, o diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Matteo Bruni, disse que o pontífice estava dando uma volta pelo interior da Casa Santa Marta e, em determinado momento, pediu para ir rezar na basílica, sendo levado em cadeira de rodas por seu enfermeiro, Massimiliano Strappetti.
Nesse mesmo contexto, também se inscreve o fato de que, no dia anterior, ele recebeu na Casa Santa Marta o rei da Inglaterra, Charles III, e sua esposa, a rainha Camilla, depois de, durante sua internação, ter sido informado que a visita havia sido suspensa de comum acordo com o Palácio de Buckingham por conta de seu então delicado estado de saúde.
Há também quem acredite que sua ida à basílica não foi fruto de uma decisão de última hora que deixou de lado colocar o hábito, mas sim uma intenção de enviar uma mensagem àqueles clérigos e leigos apegados aos ornamentos, colocando acima deles a humanidade e a espiritualidade de um convalescente.
Outros, por sua vez, adotam um argumento inquietante: que Jorge Bergoglio foi praticamente enganado ou, no mínimo, levado a um descuido, para exibir a imagem de um pontífice debilitado, que não estaria mais plenamente no controle de seus atos e sem condições de continuar conduzindo a Igreja.
Consideram que o fato de a imagem de sua visita não ter aparecido nos meios de comunicação do Vaticano evidenciaria que Francisco não ficou satisfeito em ter sido mostrado daquela forma, embora seja preciso dizer que não havia fotógrafos oficiais presentes, o que reforça a versão de que ele decidiu ir de maneira espontânea.
Enfim, não faltam pessoas simples que — longe de leituras conspiratórias — recorrem a explicações mais diretas. Como disse uma funcionária do Vaticano: “Afinal de contas, o Papa está em sua casa, e são os peregrinos que devem se adaptar ao fato de que ele quis prolongar seu passeio”.
Seja como for, Francisco continua surpreendendo, e neste sábado saiu pela primeira vez do Vaticano desde seu retorno à Santa Marta, com sua batina branca, para ir à basílica romana de Santa Maria Maior rezar diante da imagem da Virgem, como costuma fazer antes e depois de uma viagem.
Faz apenas doze dias desde que recebeu alta, com a advertência de que deveria cumprir “ao menos” dois meses de convalescença em seu local de residência, mas Jorge Bergoglio — como muitos previam — quer retomar rapidamente suas atividades. O que é arriscado.
Ainda assim, aqueles que conversaram com ele nos últimos dias asseguram que está plenamente lúcido. E que, progressivamente, vem recuperando a mobilidade e o tom de voz. Por isso, dão como certo que ele estará presente — ainda que não presida — em várias celebrações da Semana Santa.
Em definitivo, será preciso ver como a sociedade e, particularmente, os católicos decodificam a imagem de um Papa sem sua batina branca e frágil. Nesse caso, parece oportuno perguntar-se se o traje é mais importante do que a humanidade que ele expressou.
Em outras palavras, seria necessário questionar se o hábito faz ou não o monge.