20 Fevereiro 2025
Resumo do que foi dito pelo porta-voz do ACNUR, Matthew Saltmarsh - a quem as declarações citadas podem ser atribuídas - durante a coletiva de imprensa de hoje no Palais des Nations, em Genebra.
A informação é da assessoria de comunicação da ACNUR - Agência da ONU para Refugiados.
Entre 10 mil e 15 mil pessoas cruzaram para o Burundi nos últimos dias, fugindo da crescente tensão e violência na República Democrática do Congo (RDC). A maioria das pessoas que chegam são congolesas, principalmente da região de Bukavu, na província de Kivu do Sul, onde a situação continua a se deteriorar. Um número menor de cidadãos burundineses também retornou ao seu país para escapar dos confrontos.
As pessoas estão chegando principalmente pelo posto fronteiriço de Gatumba, próximo à capital Bujumbura, exaustas e traumatizadas, muitas delas separadas de seus familiares e sem informações sobre seu paradeiro. Equipes da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) e de seus parceiros estão presentes para garantir que as pessoas que buscam segurança recebam o apoio necessário enquanto aguardam registro e outros procedimentos de acolhimento.
Também há relatos de milhares de pessoas cruzando por pontos de fronteira não oficiais, incluindo ao longo do rio Rusizi, perto de Rugombo, onde há registros de várias mortes por afogamento. As condições nas comunidades próximas à fronteira são extremamente precárias, com falta de abrigo, água e instalações sanitárias. Em uma localidade, mais 10.400 pessoas estão atualmente abrigadas em escolas e em um estádio local, ainda no lado congolês da fronteira, aguardando realocação para assentamentos mais seguros no interior do Burundi.
As autoridades nacionais do Burundi, com o apoio do ACNUR, estão verificando e registrando as novas chegadas para identificar aquelas que precisam de proteção internacional e informando-as sobre os serviços disponíveis. Uma vez registradas, as pessoas refugiadas são transferidas para centros de trânsito, onde o ACNUR e seus parceiros fornecem itens essenciais para a sobrevivência, como alimentos, água potável e serviços básicos de saúde. No entanto, a superlotação nesses centros de trânsito – alguns já abrigando até quatro vezes sua capacidade inicial – tornou-se uma preocupação urgente, sobrecarregando os recursos disponíveis e aumentando as tensões entre as pessoas recém-chegadas.
Em colaboração com o Governo do Burundi, o ACNUR e seus parceiros estão trabalhando para garantir que as pessoas refugiadas possam acessar a assistência e proteção de que necessitam. Embora estejamos fazendo todos os esforços para responder a esta emergência, há uma necessidade urgente de recursos adicionais para atender às crescentes demandas.
A situação no leste da RDC continua desafiadora, com os recentes confrontos em Kivu do Sul forçando mais de 150.000 pessoas a fugirem. Pelo menos 85.000 dessas pessoas estão vivendo em novos assentamentos espontâneos para deslocados internos, onde serviços básicos como acesso à água, abrigo e assistência à saúde são extremamente limitados. Ao mesmo tempo, é essencial fornecer apoio rápido para restabelecer serviços básicos nas zonas de retorno em Kivu do Norte, uma vez que um número crescente de famílias deslocadas – cerca de 80 por dia vindas de Kivu do Sul – tem tentado voltar para suas aldeias.
Fora do Burundi, o número de pessoas fugindo da RDC para países vizinhos desde o início da recente escalada do conflito tem se mantido relativamente baixo. No entanto, as equipes do ACNUR em países vizinhos estão se preparando para prestar assistência caso necessário.
O novo fluxo de chegadas se soma às 91.000 pessoas refugiadas e solicitantes de refúgio que o Burundi já abriga, a maioria delas vinda da RDC, muitas vivendo no país há décadas.
O ACNUR agradece a generosidade estendida àqueles que fogem dos últimos confrontos na RDC e faz um apelo para que essa solidariedade continue. Reiteramos nosso chamado para um fim imediato das hostilidades na RDC para prevenir mais danos aos civis e permitir uma paz duradoura, além de reforçar a necessidade de esforços mais fortes para garantir segurança e o acesso à assistência para todas as pessoas afetadas.
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