Pesquisa revela alta rejeição a refugiados e imigrantes no mundo

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12 Agosto 2016

A decisão britânica de se separar da União Europeia no plebiscito do "brexit" e a ascensão do candidato republicano à Casa Branca, Donald Trump, que defende o banimento de refugiados e a construção de um muro separando os Estados Unidos do México, refletem uma tendência global contrária à imigração.

A reportagem é de Daniel Buarque, publicada por Folha de S. Paulo, 12-08-2016.

Em meio a uma grave crise global de refugiados, há uma forte opinião negativa em todo o mundo em relação ao movimento de pessoas entre nações. O dado é revelado por uma pesquisa internacional realizada em 22 países, incluindo o Brasil, que mostra uma rejeição alta e generalizada das pessoas em relação a imigrantes e refugiados.

Realizado pelo Instituto Ipsos, o levantamento mostra que há uma grande preocupação dos entrevistados em relação a segurança e medo de terrorismo e que, no total, quase 40% dos ouvidos defendem o fechamento total das fronteiras dos seus países a refugiados.

A pesquisa foi realizada pelo instituto Ipsos na ArgentinaAustráliaBélgicaBrasilCanadáFrançaReino UnidoAlemanhaHungriaÍndiaItáliaJapãoMéxicoPolôniaRússiaArábia SauditaÁfrica do SulCoreia do SulEspanhaSuéciaTurquia e EUA.

Os dados variam entre os países, naturalmente, mas o resultado geral demonstra uma tendência global negativa em relação à imigração e aos refugiados, o que se reflete na política internacional.

Imigração

A pesquisa revelou que os cidadãos em todas as nações avaliadas acham que a quantidade de pessoas imigrando para seus países está crescendo, e que isso gera impactos negativos nos países internamente.

Em quase todos os países onde a pesquisa foi realizada há a impressão de que houve um aumento na imigração nos últimos cinco anos. Chega a 78% o total de entrevistados que acreditam no crescimento do número de chegada de imigrantes.

Além disso, cerca de metade das pessoas ouvidas acreditam que em seu país há imigrantes demais.

De acordo com o Acnur (agência da ONU para os refugiados), a sensação de aumento no número de migrantes é justificada pelo registro se precedentes de deslocamento forçado de pessoas nos últimos anos.

No fim de 2015 havia 65,3 milhões de pessoas deslocadas, sendo 21,3 milhões de refugiados, 40,8 milhões de deslocados internos e 3,2 milhões de pessoas pedindo asilo. Isso sem considerar a migração econômica ou voluntária entre países.

Impactos negativos

O impacto dessa imigração é negativo para o país segundo 45% do total de entrevistados, e apenas uma em cada cinco pessoas acha que os imigrantes levam impactos positivos para a sociedade.

Essa proporção é especialmente grande em países como a Turquia, a Itália, a Rússia, a Hungria, a França e a Bélgica, onde passa de 60% o total de entrevistados que acham que a imigração tem efeitos negativos.

Entre os países avaliados, a Arábia Saudita é o que tem uma percepção mais positiva em relação a imigrantes. Quase metade dos ouvidos acreditam que a imigração é boa para para o país. A Turquia é o país que vê de forma mais negativa a imigração. Apenas 7% dos entrevistados acham que ela tem aspectos positivos.

No Ocidente, Canadá (36%) e Estados Unidos (35%) são os dois países com maior proporção de pessoas que acham que os imigrantes têm efeito positivo.

Por outro lado, Alemanha (18%) e França (11%) estão entre os países com menor proporção de pessoas que acham que há efeitos positivos na imigração.

No Brasil, 17% dos entrevistados têm percepção positiva da imigração.

Fechamento a refugiados

Se os dados são negativos em relação ao imigrantes, o resultado é ainda pior quando a pesquisa avalia a percepção das pessoas nesses países em relação à crise de refugiados.

No total, 38% das pessoas ouvidas defendem o fechamento total das fronteiras para refugiados, e 61% acreditam que terroristas se aproveitam para fingir que precisam de refúgio para entrar nos países e tentar realizar ataques.

A rejeição a refugiados é especialmente alta na Turquia, na Índia e na Hungria, mas cresceu também ao longo dos últimos anos nos Estados Unidos e na Suécia.

O sentimento é reforçado pelo fato de que muitos dos entrevistados dizem acreditar que nem todos os refugiados precisam realmente fugir do seu país de origem. Em média, 51% das pessoas ouvidas acham que migrantes em busca de melhores oportunidades econômicas se passam por refugiados para conseguir ser aceitos em outros países.

Há também pessimismo em todos os países em relação à chance de os refugiados se adaptarem à realidade do novo país. Apenas 41% dos ouvidos acham que a integreação pode ocorrer de forma bem-sucedida.

Desrespeito crescente

Para a pesquisadora Liliana Jubilut, especialista em direito de refugiados e relações internacionais, o aumento no número de migrantes mostra a intensificação de situações de vulnerabilidade no mundo. "Há vários cenários em que a vida, a liberdade e a segurança das pessoas não estão sendo respeitados", disse.

Jubilut é autora do estudo "O Direito Internacional dos Refugiados e sua Aplicação no Ordenamento Jurídico Brasileiro". Segundo ela, receber e acolher refugiados são medidas de solidariedade internacional e de responsabilidade compartilhada entre os Estados. 

A pesquisadora explicou ainda que "em momentos de incerteza econômica ou política e de insegurança a desconfiança em relação ao outro parece crescer".

O importante, segundo ela, é destacar que barrar imigrantes e refugiados não ajuda. "A intolerância e a segregação somente trazem mais incerteza e insegurança", explica.

"A tolerância, o respeito ao próximo, a convivência com o outro, e a acolhida ao vulnerável são construídos políticos e sociais e podem ser aprimorados pela disseminação de informações e de um entendimento multicultural", disse Jubilut.

Solidariedade

Segundo a porta-voz do AcnurNora Sturm, entretanto, o dado da pesquisa Ipsos reflete o discurso populista de alguns políticos, mas não pode ser considerado a regra.

"A percepção de refugiados em muitas partes do mundo não é tão negativa", disse.

Sturm citou um levantamento da Anistia Internacional segundo o qual 80% das pessoas aceitariam em seus países pessoas que estivessem fugindo de guerras, e 73% concordam que pessoas que fogem de conflitos e perseguições devem receber refúgio.

Uma das justificativas possíveis para a diferença nos dados é o tipo de pergunta feita nas pesquisas. Enquanto o levantamento do Ipsos pergunta sobre os efeitos da migração nos países dos entrevistados, o estudo citado pela porta-voz do Acnur fala em solidariedade com pessoas que são afetadas por guerras e perseguição.

"É crucial lembrar que refugiados e pessoas que pedem asilo são vítimas e não as causas da violência, do terrorismo e da guerra. São eles que estão fugindo de condições horríveis e precisam de proteção internacional urgentemente", disse Sturm.

Variação internacional

Turquia é o país onde há o maior apoio ao fechamento da fronteira a refugiados, totalizando 67% dos entrevistados que opinaram.

Cerca de metade dos ouvidos nos Estados Unidos (54%), na França (52%), e na Alemanha (49%) também apoiam este tipo de medida.

Reino Unido, apesar de estar passando por uma onda contrária à imigração, tem uma postura menos negativa em relação a refugiados. Apenas 34% dos britânicos ouvidos defenderam o fechamento das fronteiras.

Brasil está entre os países com menor rejeição a refugiados. Apenas 31% dos ouvidos defenderam o fechamento das fronteiras. O México teve o resultado mais baixo para esta questão, com apenas 21% de apoio a ela.

A ideia de barrar a entrada de refugiados cria um cenário problemático para pessoas que já estão em situação de vulnerabilidade e "não traz nenhum benefício", diz Jubilut.

"Fechar fronteiras apenas faz com que os migrantes fiquem em situação de maior vulnerabilidade: procurando novas rotas, e novos meios de chegar ao destino desejado. As migrações irregulares aumentam e novos grupos criminosos - como os coiotes - ganham espaço", disse a pesquisadora.

Metodologia

O levantamento foi realizado pela internet usando o sistema Painel Online Ipsos, e ouviu um total de 16.040 pessoas em 22 países entre 24 de junho e 8 de julho.

A pesquisa buscou amostragens que refletissem o perfil da população de cada país, e a margem de erro oscila entre 3,5 e 5 pontos percentuais para mais ou para menos, dependendo do país.

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