17 Abril 2024
Nos postos de controle israelenses onde é decidido quem pode entrar na Cisjordânia e quem não pode, ontem não havia necessidade de ser magnânimo. Após o ataque iraniano a Israel, muitos palestinos permaneceram nas suas cidades e aldeias, e mesmo os palestinos de Jerusalém Oriental não fizeram fila como habitualmente fazer para ir à Palestina.
A reportagem é de Nello Scavo, publicada por Avvenire, 16-04-2024.
Durante as frequentes explosões noturnas na noite entre sábado e domingo, houve quem louvou o ataque, outros soltaram até fogos de artifício torcendo pelos mísseis. Certos e errados, todos defendem seus pontos de vista. E com a guerra em curso em Gaza e a crescente pressão dos ataques israelenses nos Territórios Ocupados, as vozes do respectivo dissenso, daqueles que imploram o diálogo e a dialética em vez das armas, têm dificuldade para encontrar espaço. Em Jerusalém as escolas ficaram fechadas até ontem à noite. Reabrirão hoje. No entanto, na capital não havia aglomeração de famílias com crianças ocupando os parques e as ruas mais movimentadas. Mesmo em Ramallah, menos caos que o habitual. A autoridade Palestina espera um aumento das incursões israelenses nos campos de refugiados e um recrudescimento nos ataques dos colonos.
Já de manhã cedo um grupo de israelenses atirou pedras contra um palestino na aldeia de Kafr Malek, a leste de Ramallah. Fontes da segurança palestinas disseram que um grupo de colonos armados atacou o agricultor Khaled Salem Ghunaimat enquanto trabalhava no seu sítio. Pouco antes, na mesma aldeia, um jovem árabe tinha sido brutalmente espancado.
A pior notícia é que a temporada de sequestros por retaliação poderia ter começado.
O corpo de um garoto israelense de 14 anos foi encontrado na sexta-feira e pela sua morte são suspeitos alguns palestinos residentes não muito longe da colônia de ocupação de onde vinha o menor que estava levando para pastar um pequeno rebanho. Nas mesmas horas havia sido morto um palestino de 25 anos: no funeral os parentes foram afugentados por tiros disparados por um grupo de colonos. Ontem foi confirmado o sequestro de um jovem palestino do qual não há notícias. Desde a última sexta-feira, as patrulhas armadas dos colonos lançaram uma onda em torno de Ramallah, a capital política da Palestina, colocando em má situação a polícia palestina que, segundo os acordos internacionais, não pode intervir na presença de soldados israelenses. Ontem os confrontos ocorreram numa dezena de aldeias.
De sexta até ontem, pelo menos quarenta casas foram incendiadas por colonos só na aldeia de al-Mughayyir, nos arredores de Ramallah, 50 carros foram danificados pelo lançamento de pedras e vários terrenos agrícolas foram incendiados. Além disso, ontem, dois palestinos foram assassinados em um ataque dos colonos em Aqraba, perto de Nablus. Outro foi morto pelas forças de segurança em Nablus. Fontes policiais israelenses confirmam que várias incursões estão planejadas nas principais cidades palestinas, onde ferve a raiva, a frustração e o rancor pela ocupação israelense. E onde Tel Aviv poderia soltar a sua raiva após o ataque do Irã. “Somos sempre nós palestinos que pagamos, podem ter certeza", preconiza Maaruf Abbad, que por profissão cozinha húmus, embora seja formado em direito e tenha tentado a política. Às 20h, os grupos palestinos do Telegram soam o alarme. Avistaram uma coluna de veículos blindados vindos do Estado judeu ao norte de Ramallah. Maruf nos avisa: “Malditos iranianos, maldita guerra”.
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Cisjordânia. O medo do Ramallah: “Seremos nós a pagar novamente” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU