O longo inverno da verdade. Artigo de Lucio Caracciolo

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25 Novembro 2022

"Não é removendo a realidade, ou seja, que a Ucrânia em estado de desestabilização permanente seria um desastre também para todos nós, que podemos esperar estar à altura do desafio que o pós-guerra - seja em meses ou anos - inevitavelmente representará para nós", escreve Lucio Caracciolo, diretor da Revista Limes, em artigo publicado por La Stampa, 24-11-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.

Eis o artigo.

A guerra na Ucrânia está entrando no inverno da verdade. A verdade sobre quem prevalecerá no conflito e verdade sobre quem quer o quê. Ao relativo impasse no terreno do Donbass, após os recentes avanços ucranianos, é seguido pelo ataque russo ao povo "irmão", que se quer subjugar privando-o de eletricidade, água, comida e bombardeando as suas infraestruturas energéticas. Para enfraquecer a resistência ucraniana, dividindo-a entre "pombas" e "falcões" - bem poucas as "pombas" - e obrigando-a a render-se. As temperaturas estão prestes a cair e em alguns meses, Vladimir Putin calculou, Zelensky será forçado a ceder.

Ou será derrubado. A essa altura, muito depende das escolhas dos ocidentais.

Principalmente dos estadunidenses, que permitiram que Kiev resistisse graças a formidáveis suprimentos de armas e abundante financiamento em dinheiro. Mas nas últimas semanas multiplicaram-se os sinais de Washington para que os ucranianos se voltassem para a lógica da negociação. Na avaliação do Pentágono, a vitória total no terreno, ou seja, a reconquista da Crimeia e do Donbass, é impossível.

Ao mesmo tempo, os líderes EUA estabeleceram um diálogo permanente com as estruturas do Kremlin.

Com exceção de Putin e Biden, que se ignoram desde 24 de fevereiro, os principais dirigentes russos e estadunidenses estão em linha direta permanente. A gestão do incidente do míssil na Polônia, atribuído a um erro ucraniano, tornou ainda mais evidente tanta pressão. Com os aliados atlânticos prontos a subscrever a versão acordada por estadunidenses e russos, aliás apreciada pelo Kremlin segundo o porta-voz de Putin. Zelensky e os seus ficaram sozinhos em culpar os russos por aquele míssil assassino.

Não só. As divisões na área euro-atlântica são cada vez mais evidentes. Divisões que seguem tendências já ativas antes do conflito, devidas às diferentes culturas estratégicas e aos divergentes interesses geopolíticos dos vários países. Em suma, os turcos são turcos, os poloneses são poloneses, os alemães são alemães e os ingleses são ingleses: simplesmente não podem pensar da mesma maneira. Muito menos agir em sintonia. Ontem Boris Johnson ajudou a esclarecer o que já se adivinhava, ou seja, que Alemanha, França e Itália têm mais do que outros tentado evitar o conflito, negando a si mesmas a realidade dos fatos. No caso alemão, além disso, a linha Scholz antes de 24 de fevereiro teria sido ainda mais seca: "Se tiver que acontecer, que aconteça. Seria um desastre. Seria melhor que acabasse rápido e que a Ucrânia se dobrasse". Segundo o ex-primeiro-ministro britânico, as razões dos alemães eram puramente econômicas.

Convém manter presentes essas motivações, não apenas alemãs, tendo em vista da reconstrução pós-bélica da Ucrânia. Deixamo-nos surpreender pela guerra. Não teremos desculpas se nos deixarmos surpreender também pelo pós-guerra. Sabemos que a Ucrânia não conseguirá se reerguer por seus próprios meios. É provável que até ao final do inverno os danos sofridos pelo país em decorrência da agressão russa ultrapassem um trilhão de euros. Cinco vezes o produto interno bruto atual.

Pergunta: depois de ter sofrido o contragolpe das sanções e contrasanções, considerando possível uma recessão para o próximo ano, quanta vontade terão os governos e os povos europeus de correr em socorro dos ucranianos? E como reagirão à perspectiva de milhões de refugiados ucranianos se estabelecendo em seus respectivos países? Temas que não são colocados na mesa hoje. Mas não é removendo a realidade, ou seja, que a Ucrânia em estado de desestabilização permanente seria um desastre também para todos nós, que podemos esperar estar à altura do desafio que o pós-guerra - seja em meses ou anos - inevitavelmente representará para nós.

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