29 Junho 2022
"Hoje anunciam um evangelho esquisito, que nada tem a ver com a mensagem de amor, de aceitação, de solidariedade, de perdão que Jesus espalhou, e que tanto giraram a cruz até que ela se transformasse numa arma", escreve Edelberto Behs, jornalista.
Eis o artigo.
Jesus pregava pela Galileia, Samaria, Judeia... E por onde ia e se dirigia era seguido por um mito, que o interpelava, como que concorrendo com ele nas pregações e mensagens. O mito tinha inveja por não estar arrolado entre os 12 discípulos que Jesus escolheu para o acompanharem.
Mas antes de começar sua peregrinação, Jesus foi tentado. O diabo levou-o para um monte muito alto (Mateus 4,8), mostrou-lhe toda a terra avistável com suas grandezas e prometeu dar todas a riqueza que ali se encontrava se ele o adorasse. O “mito” se adiantou aos ouvidos de Jesus e disse: “Deixa de ser trouxa, pegue isso e seja rei”. Mas Jesus não aceitou a proposta nem do diabo nem do “mito”.
Onde Jesus ia, o “mito” armava seu cercadinho e tinha plateia. E não via nenhum problema em distorcer – talvez por não entender – o que Jesus anunciava. Assim, o mandamento maior “amai-vos uns aos outros” ecoou no cercadinho como “armai-vos uns aos outros”.
Jesus nunca pregou violência. A principal mensagem que difundiu sempre foi a do amor. Mesmo ao ser preso, quando Pedro sacou da espada e cortou a orelha direita de Marco, empregado do grande sacerdote, Jesus disse ao discípulo: “Guarde a sua espada!” (João 18,10) Já o “mito” chegou ao pé da orelha de Pedro e o aplaudiu: “É isso aí, povo armado resiste a ditadores de plantão!”
Do povoado de Betânia, Jesus recebeu um recado triste: seu amigo Lázaro falecera. Ele e os discípulos se dirigiram até Betânia. O mito foi junto. Ao se aproximar da cidade, Marta, a irmã de Lázaro, foi ao encontro de Jesus e disse: “Se o Senhor estivesse aqui, ele não teria morrido!” (João 11,21)
“Oh, Jesus, não dê bola pra essa mulher. Ela só quer dar um furo”, advertiu o mito. Jesus foi adiante, e dirigiu-se à casa de Marta e Maria, onde Lázaro estava sendo velado. O mito acompanhou o Mestre. Chegando à casa, o mito foi logo anunciando: “Parem com isso, todo mundo vai morrer um dia!”
Outro dia Jesus foi até o Lago da Galileia, subiu um monte e multidões vieram ter com ele, trazendo coxos, aleijados, cegos, mudos, pessoas enfermas, para que as curassem. O mito se atravessou mais uma vez: “Chega de frescura e de mimimi. Enfrentem seus problemas, vão ficar chorando até quando?”
Em Cafarnaum, avisaram Jesus que a sogra de Simão estava de cama, com febre. O mito já foi dando o seu diagnóstico: “É só uma gripezinha!”
Na capital, Jerusalém, pessoas deficientes e doentes estavam deitadas junto ao tanque Betezata, que tinha suas águas removidas por um anjo. Quando o fenômeno acontecia, o primeiro que se banhava nas águas do tanque era curado. Ao se aproximar do tanque, o “mito” sugeriu: “Façam como os brasileiros, que pulam em esgoto e não acontece nada”. São imunes, não precisam desse tanque!.
O “mito” não aguentou todo esse chororô de doentes, valorização das mulheres, – achou o fim da picada Jesus ter ajudado uma mulher a tirar água do poço -, e andar com gentes que não eram do bem. Resolveu por isso regressar à Brasilândia. Quando perguntado sobre a terra de Jesus, respondeu: “É um país de maricas!”
E não é que tem pregadores, hoje, que anunciam um evangelho esquisito, que nada tem a ver com a mensagem de amor, de aceitação, de solidariedade, de perdão que Jesus espalhou, e que tanto giraram a cruz até que ela se transformasse numa arma! Tem até pastor que adora receber ouro!
Em 1.185 dias de mandato, segundo a agência Aos Fatos, o mito já tinha dado 5.145 declarações falsas ou distorcidas, mas tem a pecha de aplicar versículo bíblico – “a verdade vos libertará” (João 8,32) – nas suas falas camaleônicas a crentes em busca de apoio e votos! Ele é, de momento, uma das autoridades mais mentirosas do país.
A propósito: quando foi mesmo que o mito mandou recolher os milhares de kit gay e mamadeiras de piroca que o ministro da Educação Fernando Haddad tinha distribuído às escolas?
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O evangelho segundo o mito - Instituto Humanitas Unisinos - IHU