Dicionário de Ciência da Religião

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27 Mai 2022

 

"Um marco epistemológico do estudo da Ciência da Religião. Um conjunto de verbetes que sintetizam, catalogam e instrumentalizam o estudo científico da religião, oferecendo ao público as informações básicas sobre a história, estruturas conceituais e as aplicações acadêmicas de cada temática sistematizada", escreve Eliseu Wisniewski, presbítero da Congregação da Missão (padres vicentinos) Província do Sul e mestre em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), ao comentar o Dicionário de Ciência da Religião (Paulinas; Paulus; Loyola, 2022, 920 p.), organizado por Frank Usarski, Alfredo Teixeira e João Décio Passos.

 

Eis o artigo.

 

Explicitar de modo delimitado o estado dos estudos da Ciência da Religião em nossos dias a quem interessa em aproximar-se de tal domínio teórico-metodológico ou aprofundar-se no estudo desse objeto amplo e complexo - esse é o intuito do Dicionário de Ciência da Religião (Paulinas; Paulus; Loyola, 2022, 920 p.). O Dicionário organizado por Frank Usarski, Alfredo Teixeira e João Décio Passos é fruto de uma parceria com pesquisadores da PUC-São Paulo e pela área de Estudos da Religião da Universidade Católica Portuguesa. Segundo os organizadores o Dicionário é “resultado de um trabalho que se iniciou em 2017. Foi um processo complexo devido à participação de mais que 100 autores e um intercâmbio intensivo entre colaboradores brasileiros e portugueses. A PUC-SP tem sido pioneira na construção, institucionalização e divulgação da área de Ciência da Religião em nosso país. Desde a criação de seu pós-graduação mantém o protagonismo no ensino e na pesquisa sobre a religião. O Dicionário é mais um resultado dessa atuação e será um marco para estudos em âmbito nacional e internacional” [1].

 

Capa do Dicionário de Ciência da Religião (Paulinas; Paulus; Loyola, 2022, 920 p.), organizado por Frank UsarskiAlfredo Teixeira e João Décio Passos. (Foto: Divulgação | Editora Paulus)

 

A história da Ciência da Religião “narra de modo inequívoco a constituição de uma área de conhecimento desvencilhada de pressupostos de fé nos moldes metodológicos da teologia, mesmo que os condomínios acadêmicos a tenham colocada lado a lado e, em muitos casos, quase identificada com essa parceira mais política que epistêmica” (p. 23). Com mais de cem anos, a Ciência da Religião “ainda busca seu espaço epistemológico e político na arena pública da comunidade científica, das universidades e do mercado de trabalho em nosso país” (p. 22). Assim sendo, esta obra “participa desta história em andamento e desta ciência, como todas as outras sempre em construção, assim como em legítima exibição de sua especificidade e capacidade de dizer uma palavra (dictio, onis) sobre si mesma” (p. 22). Nesta perspectiva, “num dicionário disponibiliza-se um marco metodológico que cataloga e divulga a ciência em seu estado institucionalizado, já como ciência normal, sabendo, porém da provisoriedade de todo o conhecimento, sempre em construção” (p. 21).

 

A elaboração dos verbetes deste Dicionário levou em conta a “delimitação epistemológica e com o modesto objetivo de mapear os conceitos que a estruturam que os verbetes estão dispostos, tanto os que oferecem o estado de arte de questões clássicas e atuais quanto os que descrevem fatos e entidades que contribuíra e contribuem com o exercício dessa ciência específica, nos distintos momentos em que se faz presente nas academias” (p. 24). Assim o “elenco de verbetes ora disponibilizados nasce como demarcação limitada de um universo em potencialidades teóricas e metodológicas condicionado pelo estado de arte da pesquisa e do ensino nos cursos de graduação e, sobretudo, de pós-graduação em língua portuguesa, bem como pelo universo epistêmico dos muitos autores envolvidos no trabalho” (p. 22).

 

Neste Dicionário, que contou com a dedicação de 106 autores entre brasileiros e estrangeiros,  encontramos tematizados estes verbetes:  1) abstinência (p. 25-38), 2) aculturação (p. 38-41), 3) agnosticismo metodológico (p. 41-43), 4) alegoria (p. 43-44), 5) alegoria (p. 44-49), Allport, Gordon Willard (p. 49-51), 6) alma (p. 51-54), 7) analogia (p. 54-55), 8) animismo (p. 55-58), antropologia da religião (p. 58-68), 9) antropomorfismo (p. 69-72), 10) aparições (p. 72-74), 11) apostasia (p. 74-76), 12) arqueologia (p. 76-78), 13) arte religiosa (p. 78-84), 14) associações científicas (p. 84-91), 15) ateísmo/agnosticismo (p. 91-95), 16) atitudes religiosas (p. 95-103), 17) autoridade religiosa (p. 103-109), 18) axis mundi (p. 109-114), 19) Bellah, Robert N. (p. 115-116), 20) Berger, Peter L. (p. 116-118), 21) blasfêmia (p. 118-119), 22) Bourdieu, Pierre (p. 120-124), 23) caligrafia (p. 125-126), 24) carisma (p. 126-129), 25) castigo (p. 129-132), 26) ciência cognitiva da religião (p. 132-138), 27) ciência da religião (p. 138-143), 28) ciência da religião aplicada (p. 143-149), 29) circum-ambulação (p. 149-151), 30) Comte, Augusto (p. 151-152), 31) comunidade religiosa (p. 152-158), 32) comunitarismo (p. 158-160), 33) concílio (p. 160-165), 34) congregação (p. 165-167), 35) consciência (p. 167-168), 36) construtivismo (p. 168-170), 37) conversão religiosa (p. 170-173), 38) corpo (p. 173-177), 39) crença (p. 177-183), 40) criacionismo (p. 183-188), 41) crítica da religião (p. 188-195), 42) Croatto, Severino José (p. 196-197), 43) culpa/culpabilidade (p. 197-198), 44) cultura (p. 198-21), 45) cultura material religiosa (p. 201-206), 46) desejo (p. 207-208), 47) desencantamento do mundo (p. 208-212), 48) destino (p. 212-217), 49) diálogo inter-religioso (p. 217-229) 50) diáspora (p. 229-233), 51) Dilthey, Wilhelm (p. 233-236), 52) direito (p. 236-242), 53) direitos humanos (p. 242-246), 54) divinação (p. 247-249), 55) concepções de divino (p. 249-255), 56) dogma (p. 255-257), 57) doutrina (p. 257-261), 58) Dumézil, Georges Edmond Raoul (p. 261-263), 59) Durkheim, David Émile (p. 263-264), 60) economia da religião (p. 265-269), 61) educação (p. 269-275), 62) Eliade, Mircea (p. 275-280) 63) êmico/ético (p. 280-281), 64) emoção (p. 282-286), 65) ensino religioso (p. 286-292), 66) epistemologia (p. 292-297), 67) escatologia (p. 297-307), 68) escola italiana (p. 307-318), 69) esotérico/exotérico (p. 319-320), 70) especialista religioso (p. 320-324), 71) espírito (p. 324-328), 72) espiritualidade (p. 328-330), 73) estética (p. 330-335), 74) estruturalismo (p. 335-337), 75) estudos afro-brasileiros (p. 338-342), 76) eternidade (p. 342-344), 77) ética/moral (p. 345-353), 78) etimologia (p. 353-359), 79) etnicidade (p. 359-361), 80) etnocentrismo (p. 361-362), 81) etnografia portuguesa (p. 362-369), 82) etnologia e etnografia (p. 369-373), 83) evolucionismo (p. 374-378), 84) exorcismo (p. 378-383), 85) experiência religiosa (p. 383-387), 86) experiências anômalas (p. 387-392), 87) fanatismo (p. 393-396), 88) felicidade (p. 396-399), 89) feminismo (p. 399-406), 90) fenomenologia da religião (p. 406-410), 91) fenômenos extraordinários (p. 410-415), 92) festa (p. 415-420), 93) fetiche (p. 420-424), 94) Feuerbach, Ludwig (p. 424—425), 95) filologia (p. 425-430), 96) filosofia da religião (p. 430-440), 97) filosofia judaica (p. 440-447), 98) fisiologia da religião (p. 447-455), 99) Freud, Sigmund (p. 455-461), 100) Fromm, Erich (p. 461-462), 101) funcionalismo (p. 462-466), 102) fundamentalismo (p. 466-473), 103) funeral (p. 473-478), 104) fusão das religiões (p. 478-485), 105) Fustel de Coulanges, Numa Denis (p. 485-487), 106) Geertz, Clifford (p. 488-490),  107) geografia da religião (p. 490-492), 108) Girard, René (p. 492-495), 109) Gramsci, Antonio (p. 495-500), 110) guerra e paz (p. 500-502), 111) Habermas, Jürgen (p. 503-506), 112) hagiografia (p. 506-512), 113) hermenêutica (p. 512-522) 114) Hervieu-Léger, Danièle (p. 522-525), 115) hierarquia (p. 525-531), 116) história das religiões (p. 531-540), 117) homo religiosus (p. 540-542), 118) Hume, David (p. 542-544), 119) iconografia/iconologia (p. 545-549), 120) identidade (p. 549-554), 121) ideologia (p. 554-557), 122) idolatria (p. 557-562), 123) iluminismo (p. 562-573), 124) imagem (p. 573-577), 125) inspiração (p. 577-581), 126) institucionalização (p. 581-582), 127) instituições religiosas (p. 582-590), 128) institutos de pesquisa de religião (p. 590-593), 129) James, William (p. 594—598), 130) Jung, Carl Gustav (p. 599-600), 131) Kant, Immanuel (p. 601-602), 132) Küng, Hans (p. 602-604), 133) Lacan, Jacques (p. 605-606), 134) Le Bras, Gabriel (p. 606-608), 135) leigo (p. 608-610), 136) libertação (p. 610-615), 137) livros sagrados (p. 616-625), 138) magia (p. 626-635), 139) Marx, Karl e Engels, Friedrich (p. 635-642), 140) Maslow, Abraham (p. 642-644), 141) Mauss, Marcel (p. 645-647), 142) Mead, Margaret (p. 647-648), 143) meditação (p. 648-650), 144) memória (p. 650-654), 145) metafísica (p. 654-660), 146) metáfora (p. 660-666), 147) método (p. 666-670), 148) missão (p. 671-676), 149) mística (p. 676-678), 150) mitologia (p. 678-682), 151) morte (p. 682-686), 152) Müller, Friedrich Max (p. 686-689), 153) música (p. 689-696), 154) natureza (p. 697-702), 155) neurociências (p. 702-75), 156) ocidente/oriente (p. 706-711), 157) oração (p. 711-712), 158) ordenação (p. 712-713), 159) organização religiosa (p. 713-718), 160) patriarcado/matriarcado 9p. 719-725), 161) peregrinação (p. 726-728), 162) periódicos (p. 728-733), 163) Pierucci, Antônio Flávio de Oliveira (p. 733-734), 164) pioneiros dos estudos da religião no Brasil (p. 734-737), 165) pluralismo religioso (p. 737-740), 166) pobreza (p. 740-743), 167) positivismo (p. 743-747), 168) pragmatismo (p. 748-750), 169) preconceito (p. 750-754), 170) proselitismo (p. 754-757), 171) psicanálise (p. 757-761), 172) psicologia anomalística (p. 761-767), 173) psicologia da religião (p. 767-774), 174) puro/impuro (p. 774-777), 175) reforma (p. 778-781), 176) religião (p. 781-785), 177) religião digital (p. 785-789), 178) religião implícita (p. 789-791), 179) religiosidade popular (p. 791-796), 180) rito/ritual (p. 796-805), 181) sacramento (p. 806-812), 182) sagrado (p. 812-816), 183) santuário (p. 816-820), 184) saúde (p. 820-824), 185) semiótica (p. 824-829), 186) seres sobrenaturais (p. 829-833), 187) sexualidade (p. 834-838), 189) símbolo/simbolismo (p. 838-842), 190) socialização (p. 842-844), 191) sociologia da religião (p. 844-849), 192) sofrimento (p. 849-852), 193) soteriologia (p. 852-854), 194) substância psicotrópicas (p. 854-859), 195) sui generis (p. 859-861), 196) tabu (p. 862-863), 197) tempo/temporalidade (p. 863-867), 198) teologia (p. 867-876), 199) tolerância (p. 876-880), 200) troca de presentes (p. 880-882), 201) turismo religioso (p. 882-884), 202) violência/não violência (p. 885-888), 203) Weber, Max (p. 889-898), 204) Wittgenstein, Ludwig (p. 898-901), 205) Wundt, Wilhel M. (p. 901-902).

 

Um marco epistemológico do estudo da Ciência da Religião. Um conjunto de verbetes que sintetizam, catalogam e instrumentalizam o estudo científico da religião, oferecendo ao público as informações básicas sobre a história, estruturas conceituais e as aplicações acadêmicas de cada temática sistematizada. Estamos diante de uma obra monumental – “a palavra dita sobre si mesma (dicionário) liga o passado e o presente; no caso desse rol de verbetes, a longa tradição que constitui a Ciência da Religião desde o século XIX – se não já antes quando o estudo sobre o ser humano dava seus primeiros passos – e as semânticas presentes, advindas das pragmáticas curriculares e das trocas interdisciplinares” (p. 22).

 

Fora de toda a dúvida, trata-se de um importante Dicionário para quem quer ampliar ou aprofundar os caminhos dos estudos científicos da Ciência da Religião, sendo uma ferramenta conceitual e de aplicação analítica para os usuários desta área, e, assim sendo, concordo com Alfredo Teixeira, um dos organizadores desta obra quando diz que: “a longevidade do Dicionário de Ciência da Religião não se limita às suas possibilidades de atualização. Este artefato editorial permanecerá como o retrato de um quadro histórico de produção de conhecimento, inventariando léxicos, programas de investigação, biografias intelectuais, agentes, redes de pesquisa etc. Nesse sentido, este Dicionário é, também, um dispositivo de transmissão cultural”.

 

Referência:

 

 

[1] Disponível aqui. Acesso em: 12 abr. 2022.

 

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