16 Agosto 2021
Uma dura coluna de opinião publicada no jornal The New York Times acusa o Papa Francisco de “dividir a Igreja Católica”, porque há pouco mais de um mês o Papa limitou ao máximo a celebração das missas do rito antigo em latim – o qual, Bento XVI, em 2007, havia reabilitado, em um gesto de aproximação aos setores ultraconservadores.
A reportagem é publicada por La Nación, 13-08-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
O autor do texto é Michael Brendan Dougherty, um escritor e ensaísta estadunidense de ascendência irlandesa, fiel defensor dos rituais antigos do catolicismo. Segundo ele, a determinação do Papa reflete uma concentração de poder e uma “nova repressão”.
“Para acabar com a antiga missa em latim, o Papa Francisco está utilizando o papado precisamente da maneira que os progressistas diziam deplorar: centraliza o poder em Roma, usurpa as prerrogativas do bispo local e institui um estilo de microgestão motivado pela paranoia da deslealdade e a heresia. Talvez para proteger suas crenças mais profundas”, denuncia o intelectual, sobre o documento “Traditionis Custodes”, no qual o pontífice anula a missa antiga e dispõe que para esta ser celebrada o bispo precisará autorizar.
Dougherty afirma que a missa em latim – que, ademais da língua, conserva rituais como o do padre e os fiéis de frente para o altar – é cada vez mais celebrada em “paróquias prósperas, cheias de jovens”, e que sua persistência é um “dever religioso” para os devotos. Neste marco, critica a “excentricidades” que “as vezes se encontram em uma missa moderna globos, músicas com guitarra e aplausos” e chama a conservar a permissão de praticar os métodos originais.
“Porém, o Papa Francisco considera que esta missa e o modesto número crescente de católicos que a assistem são um problema grave. Para proteger ‘a unidade’ da Igreja, aboliu as permissões que o Papa Bento XVI nos deu em 2007 para celebrar uma liturgia, cujo coração permanece inalterado desde o século VII”, indica o ensaísta, que também adverte: “para o Papa, sua eliminação é uma prioridade religiosa. A ferocidade de sua campanha empurrará estas famílias e comunidades jovens para o radicalismo”.
Em uma tentativa de justificar a permanência da missa tradicional, Dougherty defende que, para os católicos, o modo em que se ora “dá forma” às crenças. “O antigo ritual aponta-nos fisicamente para um altar e um santuário, destaca a cruz e o céu como horizonte último da existência do homem. Mostra que Deus nos ama amavelmente e nos redime de nossos pecados”, detalhe. E ainda, a respeito do “novo ritual”, diz que aponta para uma mesa vazia: “Depois das inúmeras alterações, a crença de que a missa era um sacrifício real e que o pão e o vinho, uma vez consagrados, se convertiam no corpo e no sangue de nosso Senhor, agora foi minimizada ou substituída”.
Além disso, preocupado com o avanço das novas regulamentações vaticanas, o escritor americano questiona o bispado e alerta para a possibilidade de a Igreja ser “dividida”: “Não sei se os bispos vão adotar a vontade de Francisco de esmagar a missa em latim. Não sei o quanto eles estão dispostos a tornar nossa vida religiosa dolorosa. Se o fizerem, criarão ou revelarão mais divisão na Igreja”.
Dougherty conclui: “Tenho fé que um dia, mesmo os historiadores seculares verão o que foi feito depois do Vaticano II e o que foi: a pior destruição da história da Igreja, menos até do que a iconoclastia bizantina do século IX e a Reforma Protestante. Bento XVI nos permitiu temporariamente começar a reparar os danos. O que Francisco propõe é uma nova repressão”.
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No The New York Times, escritor acusa o Papa Francisco de “dividir a Igreja” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU