Realidade virtual e o vindouro metaverso católico. Artigo de Phyllis Zagano

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04 Agosto 2021

 


“Ainda não chegamos lá, mas no horizonte está uma realidade virtual muito além das missas online e das lutas católicas no Twitter. Estamos à beira de um metaverso genuíno, um neto da Internet, que se expande para abranger mais do que apenas palavras e imagens. O que está por vir é um desenvolvimento em plataformas de jogos online que permitirão que as pessoas – como avatares – mudem de uma plataforma para outra. Os indivíduos não precisarão mais de perfis distintos no Facebook, identificadores do Twitter e contas de internet. Eles serão capazes de se inventar e existir no mundo virtual e se mover (virtualmente) em tempo real, de forma integrada, de uma plataforma ou comunidade para outra”, escreve a teóloga estadunidense Phyllis Zagano, pesquisadora associada da Universidade Hofstra, em Hempstead, Nova York, autora, em português, de “Mulheres diáconas: passado, presente, futuro” (Paulinas, 2019), em artigo publicado por National Catholic Reporter, 03-08-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.

Segundo ela, "a pergunta é: haverá um metaverso católico controlado por Roma? Ou as várias comunidades virtuais católicas continuarão a crescer em seus próprios rumos? Então, há um grande “porém” em tudo isso: o que acontece com os sacramentos? Algum dia, a pandemia estará sob controle. Mas a Igreja está mudando. Não será a Igreja Católica do seu avô. Já não é isso"

 

Eis o artigo.

 

A combinação do confinamento da pandemia e o zoom criou uma nova forma de ser católico. Ou melhor, criou uma nova forma de parecer católico. Nós estamos indo em direção ao Metaverso Católico.

Um metaverso é um mundo virtual, como aqueles que existem em jogos de realidade virtual, como Roblox, Minecraf e Fortnite, onde indivíduos existem como avatares, ou ícones tridimensionais de si mesmos. Esses jogos são precursores para um mundo ainda mais virtual, onde indivíduos estariam aptos a esconder suas identidades, interagir e apresentar suas visões anonimamente.

O futuro, no entanto, está acima de nós. Agora, é possível que esteja onde for que você queira, dizer o que quiser dizer e encontrar pessoas que pensam igual para estar junto, até mesmo na oração, dentro de um casulo do anonimato.

A palavra “paróquia” assume um novo significado.

Em tempos pré-pandêmicos, as pessoas escolhiam as paróquias de acordo com seus gostos e desgostos: a comunidade, a localização, o padre e a liturgia, quase sempre nesta ordem.

Agora, as boas notícias são as ruins. É mais fácil circular.

A comunidade não tem nada a ver com isso. A localização apresenta apenas considerações temporais: em que fuso horário está a paróquia? É o padre e suas liturgias que fazem ou anulam a escolha. Tridentino ou novus ordo? Homilias inteligentes? Servidoras e leitoras de altar mulheres?

A comunidade está cada vez mais desconectada da vida paroquial online e presencial. Se antes a igreja paroquial era a que ficava no quarteirão, onde os jantares das sextas-feiras ajudavam a cimentar a interação social, agora a “paróquia” é virtual. A comunidade está em um metaverso católico criado através das redes sociais da qual você pode participar anonimamente. Ou não.

A maioria das pessoas está familiarizada com as formas e meios de, digamos, Facebook, Twitter, Instagram e similares. O que eles podem não ver, mesmo participando delas, é a solidificação de comunidades virtuais distintas nessas plataformas. Cada comunidade virtual tem um objetivo e ethos diferentes. Cada um tem uma visão diferente sobre o ensino e a disciplina da Igreja. Nenhum é controlado por Roma.

Ainda não chegamos lá, mas no horizonte está uma realidade virtual muito além das missas online e das lutas católicas no Twitter. Estamos à beira de um metaverso genuíno, um neto da Internet, que se expande para abranger mais do que apenas palavras e imagens. O que está por vir é um desenvolvimento em plataformas de jogos online que permitirão que as pessoas – como avatares – mudem de uma plataforma para outra. Os indivíduos não precisarão mais de perfis distintos no Facebook, identificadores do Twitter e contas de internet. Eles serão capazes de se inventar e existir no mundo virtual e se mover (virtualmente) em tempo real, de forma integrada, de uma plataforma ou comunidade para outra.

O metaverso não será um jogo. Será uma realidade alternativa. O fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, diz que nos próximos cinco anos ou mais o Facebook será uma “empresa metaversa”, uma “Internet incorporada”. Ele prevê “um ambiente síncrono persistente” no qual os usuários são incorporados como hologramas. O objetivo é construir uma comunidade.

Como? Zuckerberg diz que o objetivo da presente pesquisa é fornecer um senso de presença muito mais forte, uma forma mais natural de interagir. Pense nisso como uma nova forma de estar presente para outras pessoas, um zoom tridimensional com som surround e hologramas que você pode acessar em qualquer lugar.

A religião está incluída nos planos. O Facebook já tem feito parceria com comunidades religiosas, como a mega-igreja Hillsong em Atlanta, as Assembleias de Deus e a Igreja Presbiteriana (EUA). A empresa está criando produtos para igrejas, incluindo compartilhamento de áudio e oração e ferramentas online para construir congregações usando o Facebook.

Conforme Zuckerberg muda o Facebook para uma empresa metaversa, ele prevê ainda mais. Sua visão é um metaverso genuíno, onde plataformas de diferentes empresas serão compatíveis e que incluirá espaços públicos e sistemas sociais que qualquer pessoa pode acessar, incluindo igrejas.

Isso está no futuro. O que está diante de nós é o acesso remoto à oração, orientação espiritual, pregação, estudo da Bíblia, eventos sociais pós-Igreja, praticamente qualquer coisa que a paróquia possa fornecer em pessoa, será como informação e interação. O acesso remoto permite que as pessoas escolham quem ouvir e com quem interagir. Está chegando ao ponto em que o fato católico e a ficção católica estão em competição.

A pergunta: haverá um metaverso católico controlado por Roma? Ou as várias comunidades virtuais católicas continuarão a crescer em seus próprios rumos? Então, há um grande “porém” em tudo isso: o que acontece com os sacramentos?

Algum dia, a pandemia estará sob controle. Mas a Igreja está mudando. Não será a Igreja Católica do seu avô. Já não é isso.

 

Nota do Instituto Humanitas Unisinos – IHU

 

De 04 de junho a 10 de dezembro de 2021, o IHU realiza o XX Simpósio Internacional IHU. A (I)Relevância pública do cristianismo num mundo em transição, que tem como objetivo debater transdisciplinarmente desafios e possibilidades para o cristianismo em meio às grandes transformações que caracterizam a sociedade e a cultura atual, no contexto da confluência de diversas crises de um mundo em transição.

 

XX Simpósio Internacional IHU. A (I)Relevância pública do cristianismo num mundo em transição

 

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