EUA. Um tenso debate sobre a comunhão a Biden quebra a unidade do episcopado

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18 Junho 2021

 

Os bispos católicos dos Estados Unidos se envolveram nesta quinta-feira em um tenso debate sobre o significado da eucaristia e o direito a receber a comunhão dos políticos que apoiam o direito ao aborto, como o presidente Joe Biden.

A reportagem é publicada por Religión Digital, 18-06-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.

A extraordinária discussão refletiu o grau que chegou a polarização nos Estados Unidos pelo direito ao aborto, garantido no país desde 1973, mas que se tornou cavalo de batalha pelos conservadores e alguns grupos religiosos nas últimas três décadas.

A proposta analisada na reunião virtual da Conferência de Bispos Católicos dos Estados Unidos (USCCB, em inglês), que dura até sexta-feira, consistia na possibilidade de redigir um “comunicado formal sobre o significado da eucaristia na vida da Igreja”.

Por trás dessa iniciativa escondia-se a campanha de um grupo de bispos conservadores que se incomoda pelo fato de que o primeiro católico que ocupa a Sala Oval em seis décadas, o presidente Biden, seja também um férreo defensor do direito ao aborto.

 

Biden vai à missa todo domingo

A Biden, um devoto católico que vai à missa todos os domingos, já foi negada a possibilidade de comungar uma vez, em 2019, devido a essa postura política. E sua equipe se dedica, desde então, a assegurar que, quando viajar, não vá a uma igreja que possam vetar seu acesso ao sacramento.

Os entusiastas da proposta insistiram ante a USCCB em que seu plano não eliminaria o direito de Biden ou outros políticos católicos que apoiam a livre decisão sobre a interrupção da gravidez, como a presidente da Câmara dos Deputados, Nancy Pelosi, a receberem a comunhão.

Inicialmente, alguns bispos conservadores abordaram chegar a esse extremo, mas acabaram dando passo atrás em suas intenções depois que o tema saiu em vários meios de comunicação e de que o Vaticano os urgiu a baixar a temperatura do debate.

O Papa Francisco proclamou este mês que a comunhão “não é a recompensa dos santos, mas sim o pão dos pecadores”, e o cardeal espanhol Luis F. Ladaria, que dirige a Congregação para a Doutrina da Fé do Vaticano, enviou em maio uma carta aos bispos estadunidenses sobre o tema.

Ladaria alertou que o tema poderia “se tornar uma fonte de discórdia”, ademais de “levar à confusão” se os bispos estadunidenses descrevem o aborto e a eutanásia como “os únicos assuntos graves” para os católicos.

Apesar das palavras de Ladaria, e a que 67 bispos pedirem que esse tema não se tratasse durante a reunião anual, o presidente da USCCB, o arcebispo José Gomez, de Los Angeles, insistiu em incluir o assunto na agenda, e deu pé a um agitado debate.

 

Os ultras em ataque

“Esta é uma situação sem precedentes em nosso país. Nunca antes havíamos tido (...) um presidente católico que se opõe aos ensinamentos da Igreja”, disse o bispo de Baker, Liam Gary, em referência a Biden.

Seu homólogo de Madison, Donald Hying, assegurou que seus fiéis estão “confundidos pelo fato de ter um presidente que professa um catolicismo devoto, porém impulsiona as políticas pró-aborto mais radicais da história do país”.

Outros bispos, reticentes a se meter em águas partidas, pediram garantias de que, se for redigido o documento sobre a “coerência” na hora de comungar, este não se centrará em Biden e tampouco girará em torno dos que defendem o direito ao aborto.

O responsável pela doutrina na USCCB, o bispo Kevin Rhoades, destacou que o documento não marcaria uma “política nacional” obrigatória e que tampouco centrar-se-ia apenas “nos políticos pró-aborto”, mas sim que também se “fixaria em, por exemplo, naqueles acusados de tráficos de pessoas” ou de “supremacia branca”.

Inclusive sem proibição de por meio, a simples ideia de dirigir uma reprovação a essas pessoas por comungar alarmou a numerosos participantes na conferência, em um contexto no qual a assistência à missa e a aderência ao ritual da eucaristia no país está em descenso.

 

Gregory seguirá dando a comunhão ao presidente

Entre os que se pronunciaram contra a iniciativa esteve o arcebispo de Washington, Wilton Gregory, que assegurou que em seus 28 anos como bispo não havia visto nada que dividisse tanto o episcopado.

“Criar este documento não nos trará unidade, de fato, pode nos prejudicar ainda mais”, opinou Gregory.

O resultado da votação sobre se redigir ou não o documento será anunciado nesta sexta-feira. Para o 'sim' necessita-se de dois terços dos bispos do país e a luz verde do Vaticano para ratificar o comunicado final, um marco difícil de alcançar.

O que está claro é que Biden seguirá tendo direito a comungar, porque inclusive se aprovado um documento para proibi-lo, o arcebispo de Washington teria o poder de decidir se implementa ou não esse veto, e já deixou claro que não fará.

Não obstante, para bispos como o de Chicago, Blase Cupich, a mera redação do documento implicaria “cair em uma armadilha”, a de criar “ambiguidade” sobre se o episcopado está alinhado com as posturas políticas mais conservadoras, em um momento em que os católicos não podem se permitir perder mais fiéis.

 

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