EUA. Bispos iniciam debate sobre comunhão com acusações de “táticas de obstrução” e pedem mais discussão

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17 Junho 2021

 

Uma proposta controversa do comitê de doutrina da Conferência dos Bispos Católicos dos EUA, para a elaboração de um documento sobre a Eucaristia, parece estar prestes a ser votada, apesar dos esforços para dar aos bispos tempo ilimitado de discussão, uma moção que está sendo chamada de “tática de obstrução”.

A reportagem é de Michael J. O'Loughlin, publicada por America, 16-06-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.

Os críticos dizem que a declaração, que impactaria na teologia da Igreja sobre a Eucaristia – mas também incluiria uma seção sobre “católicos que são líderes culturais, políticos ou paroquiais” – poderia pressionar individualmente bispos para negar a Comunhão a políticos católicos que apoiam os direitos ao aborto. Apoiadores da proposta argumentam que pesquisas recentes mostram um amplo número de católicos estadunidenses que não concordam com ou não entendem o ensino da Igreja sobre a Eucaristia.

Na reunião virtual da quarta-feira, os bispos passaram uma hora debatendo uma moção do arcebispo Mitchell Rozanski, de St. Louis, durante o que seria o tempo para votação sobre o documento. Mas dom Rozanski peticionou para dar tempo ilimitado para os bispos falarem sobre o documento proposto. Com apenas 260 bispos ativos registrados para atender aos três dias de encontro virtual, a moção, se aceita, poderia atrasar significativamente uma votação sobre o documento. Bispos estavam agendando se encontrar em uma sessão pública por 90 minutos na quarta-feira e depois novamente por três horas na quinta-feira e outros 90 minutos na sexta.

Muitos bispos falaram a favor da moção de Rozanski, mas, por fim, falhou, com 59% dos bispos votando contra ela. Uma votação separada sobre a aceitação da agenda, que inclui uma votação sobre a declaração proposta agendada para quinta-feira à tarde, foi aprovada facilmente com 86% de apoio. Os bispos devem debater e votar a declaração proposta na quinta-feira, embora os resultados não sejam divulgados até a tarde de sexta-feira.

O arcebispo Joseph Naumann, chefe do comitê pró-vida dos bispos, classificou a moção do arcebispo Rozanski de “uma tática de obstrução, que tornará impossível que este documento seja votado em tempo hábil”.

Pelo menos um outro bispo concordou.

“Permitir que cada bispo fale se parece equivaler mais a... uma tática de adiamento ou obstrução”, disse o arcebispo Paul Coakley, que dirige a arquidiocese de Oklahoma City.

Não obstante outros bispos contestaram essa caracterização, com vários dizendo que o formato virtual da reunião dificultou o engajamento em um diálogo significativo. Durante o debate de cerca de uma hora, várias falhas técnicas foram evidentes, com alguns bispos sendo chamados a falar que não haviam pedido a palavra, bispos tendo problemas para reativar seus microfones e, em um caso, um arcebispo sendo pego em um ciclo de ecos que criou um estranho ruído robótico.

“Em vez de ver isso como uma tática de obstrução, parece que alguns dos irmãos bispos querem apressar essa discussão e focar num documento de ensino sobre a Eucaristia sobre se nosso presidente católico é apto de receber a comunhão”, disse o bispo John Stowe, da Diocese de Lexington, Kentucky.

O bispo Stowe foi um dos quase 70 bispos que assinaram uma carta no mês passado instando o presidente da USCCB, o arcebispo José Gomez, a atrasar a votação da declaração proposta até que os bispos se reúnam pessoalmente em novembro.

“No mínimo, acho que precisamos ser capazes de ouvir cada bispo sobre este assunto, como dom Rozanski propôs, e tomar nosso tempo com algo que é tão importante e tão delicado”, disse o dom Stowe.

Durante a discussão, dom Gomez leu uma carta escrita a ele pelo arcebispo Joseph Augustine Di Noia, secretário-adjunto da Congregação para a Doutrina da Fé, na qual ele disse a Gomez que seu escritório “espera uma revisão informal do eventual rascunho de uma declaração formal sobre o significado da Eucaristia na vida da Igreja”.

Mas no mês passado, o chefe da Congregação para a Doutrina da Fé, cardeal Luis Ladaria, exortou os bispos a buscar um consenso antes de prosseguir com os planos para criar um documento de ensino sobre a Eucaristia. Pelo menos um bispo sugeriu que o conselho estava sendo ignorado.

O bispo Shawn McKnight, da Diocese de Jefferson City, Missouri, disse que “é uma pena que tenha havido um corte de muitas decisões importantes neste documento sem o processo adequado e a consulta que precisa ocorrer tão claramente identificada na carta do cardeal Ladaria”.

“Alguns podem perceber como isso nos foi trazido desta forma como problemático”, disse ele.

Mas o bispo Kevin Rhoades, que chefia o comitê de doutrina, disse que as preocupações do cardeal Ladaria foram atendidas porque o comitê “não está mais propondo uma política nacional” sobre quem é elegível para receber a Eucaristia, o que exigiria a aprovação de Roma.

“Não pretendemos propor nenhum tipo de norma nacional”, disse o bispo Rhoades. “Nós proporíamos olhar para o que significa consistência eucarística e o pano de fundo teológico e doutrinário para a disciplina da Igreja”.

O cardeal Blase Cupich, arcebispo de Chicago, disse que os bispos devem ter “uma discussão completa” da declaração proposta porque “a linguagem contida no rascunho causa preocupação, especialmente em vista dos artigos e declarações feitas por membros da hierarquia nos Estados Unidos”.

Vários bispos de alto escalão divulgaram cartas e declarações dizendo que os políticos católicos que apoiam o direito ao aborto e, em alguns casos, nomeando o presidente Biden, deveriam ser impedidos de comungar.

“Isso influenciou a percepção deste documento”, disse o cardeal Cupich.

Em um discurso após o debate, o núncio papal nos Estados Unidos, o arcebispo Christoph Pierre, fez um discurso, por meio de um vídeo gravado, no qual ele conclamou os bispos a buscarem a unidade.

“Uma importante expressão de singularidade dessa unidade é a comunhão entre as igrejas locais e a cátedra de Pedro”, disse o núncio, acrescentando, “nós precisamos ser uma Igreja que segue o método de Jesus, o qual é um acompanhamento e diálogo, um diálogo direto para a salvação”.

“Podemos nós ser uma Igreja que facilita esse encontro com Deus através de nossa proclamação e diálogo paciente?”.

Em sua mensagem presidencial, o arcebispo Gomez também falou sobre a necessidade de unidade na Igreja.

“Não é realista esperar que a Igreja fique imune de pressões das divisões. Essas pressões estão ao nosso redor”, ele afirmou. “Então, nós precisamos nos proteger da tentação de pensar sobre a Igreja em termos simplesmente políticos”.

 

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