O Papa e Petrini, fundador do Slow Food, discutem sobre o novo humanismo

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14 Setembro 2020

Quem sabe se Rachel Carson, a bióloga estadunidense autora de Primavera Silenciosa, publicado em 1962, um grito de alarme sobre o uso do DDT, ou Arne Naess, o filósofo norueguês, montanhista e fundador da deep ecology, por muito tempo esnobado pelo pensamento do século XX, jamais teriam imaginado que muitas de suas ideias sobre o meio ambiente teriam sido adotadas pelo Sumo Pontífice de Roma, bem como por um movimento nascido de baixo e que hoje tem uma força incrível.

A reportagem é de Marco Belpoliti, publicada por La Repubblica, 12-09-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.

São sempre figuras solitárias, personagens excêntricos, como é Carlo Petrini, que agem pela mudança com teimosia, coerência e continuidade. Em seu último livro, Terrafutura (Giunti-Slow Food), Petrini dialoga com o Papa Francisco, autor da Laudato Sí', a encíclica que se centra nas questões ecológicas e ambientais, da sustentabilidade e da justiça social. Surpreso, desta vez, deve ter ficado o próprio fundador do Slow Food, que em setembro, sete anos atrás, recebeu um telefonema do Papa Francisco que respondia a uma sua carta enviada após sua viagem pastoral a Lampedusa em sinal de solidariedade com os migrantes.

 

 

Terrafutura
Carlo Petrini

 

O livro reúne três conversas com o Pontífice dedicadas a temas caros a Petrini, da comida às histórias familiares, da economia à biodiversidade. De maio de 2018 a julho deste ano, ele teve oportunidade de discutir com Francisco alguns dos assuntos que mais importam para ele, falando também das origens piemontesas comuns, da bagna cauda e de espiritualidade, de meio ambiente e das emigrações para o Novo Mundo ontem, e para as costas italianas hoje.

O Papa Francisco mostra-se em todo o seu imediatismo, com a capacidade que lhe é própria de dialogar de modo direto sem muitas pretensões e juntamente com o bom senso que é necessário ao seu cargo de chefe da Igreja Católica, uma responsabilidade o que não o impede de fazer afirmações importantes no campo da ecologia, que em sua encíclica define "ecologia integral". Também nesse caso, a franqueza é um dos aspectos que mais emergem da conversa, ao lado do humor e da capacidade que derivam da sua longa experiência pastoral como padre.

A mensagem política que emerge dessa conversa é muito precisa: “não há ativismo ambiental sem ativismo social”.

O livro inclui uma segunda parte na qual são desenvolvidos cinco grandes temas que constituem a base das ideias do Papa sobre a questão do meio ambiente: biodiversidade, economia, migração, educação, comunidade.

Cada capítulo é introduzido por um amplo texto de Petrini e seguido por intervenções do Pontífice lidas durante encontros, como o Sínodo dedicado à Amazônia, o encontro com estudantes universitários em Bolonha, ou cartas enviadas a vários movimentos, como a mensagem ao segundo Fórum das Comunidades Laudato Si’.

No prefácio Domenico Pompili, bispo de Rieti, expõe os pressupostos teológicos e filosóficos do pensamento do Papa, as suas respostas à crise ecológica da Terra, mostrando as suas origens doutrinais e os nexos culturais, nos quais a ética desempenha um papel fundamental. Um dos argumentos que voltam com maior insistência na parte do diálogo é o dos populismos, que o Papa identifica justamente como um dos aspectos mais perigosos da atual situação política europeia. Utilizando inclusive um livro lido recentemente, Francisco estabelece uma comparação entre a situação na Europa em 1933 e a atual.

O Papa não reivindica o tema da autoridade, mas o da liberdade quando explica a sua filosofia do "deixar crescer", ciente de que a mensagem expressa na sua encíclica é confiada à vontade e à força de persuasão dos indivíduos e dos grupos, que agem de forma livre e espontânea para mudar a situação econômica e social do Ocidente. Um papa que olha para as culturas diferentes e distintas, como no caso da Amazônia, lugar de biodiversidade antropológica, antes mesmo que natural.

O humanismo do Papa Francisco é uma das questões importantes dessas livres discussões, nas quais seu pragmatismo de padre e membro da Companhia de Jesus emerge com toda a sua força.

Um papa pós-moderno? Não. Antes, um papa atento a uma modernidade diferente, para usar as palavras de um filósofo que Petrini chama em causa, Bruno Latour.

Retomando os temas da crítica ao consumismo e ao economicismo do capitalismo contemporâneo, Bergoglio se dirige aos estudantes chamando a atenção sobre o perigo que corre a própria universidade, lugar de saber e competências, com o risco de se tornar ineficaz e residual.

A esse respeito lembra a força de três linguagens humanas: a da mente, do coração e das mãos em harmonia entre si. Teme a ideia de um mundo tecnológico regido pela inteligência artificial que não tenha mais coração e, sobretudo, não saiba mais acariciar

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