Opinião teológica de Jean-Miguel Garrigues, frade dominicano, sobre o livro acerca do celibato assinado por Bento XVI e o cardeal Sarah

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17 Janeiro 2020

“Penso que o livro sobre o sacerdócio ministerial e o celibato representa uma ‘saída’ por parte de seus autores, Bento XVI e o cardeal Sarah, ‘saída’ que considero infeliz e triste tanto na forma como no conteúdo”, escreve o teólogo dominicano Jean-Miguel Garrigues, em artigo publicado por Il Sismografo, 16-01-2020.

Quanto ao conteúdo, afirma o teólogo, “a tese teológica de um vínculo ‘ontológico-sacramental’ entre o celibato e o sacerdócio ministerial é muito questionável”. A tradução é de André Langer.

Eis o artigo.

Várias pessoas me perguntam sobre o que penso do livro sobre o celibato sacerdotal assinado por Bento XVI e pelo cardeal Sarah.

Penso que o livro sobre o sacerdócio ministerial e o celibato representa uma “saída” por parte de seus autores, Bento XVI e o cardeal Sarah, “saída” que considero infeliz e triste tanto na forma como no conteúdo. Quanto à forma, ela constitui inegavelmente uma pressão sobre o papa no momento em que está escrevendo a exortação apostólica pós-sinodal depois da realização do Sínodo sobre a Amazônia.

Ora, essa pressão vem de um papa emérito que, no momento de renunciar ao seu cargo, comprometeu-se solenemente a não interferir no ministério de seu sucessor, e de um prefeito de congregação, ou seja, de um ministro do papa que deveria manter a lealdade a ele enquanto estiver no cargo. Ambos poderiam ter feito suas objeções diretamente ao Papa e, se necessário, ao Colégio dos Cardeais. Essa maneira de tomar a opinião pública como testemunha, surpreendente, se não chocante devido aos compromissos de seus autores, baseia-a na gravidade do perigo que o fundo da questão representa para a Igreja. Por isso, eles assumem o risco de dividir gravemente a Igreja.

Quanto ao conteúdo, a tese teológica de um vínculo “ontológico-sacramental” entre o celibato e o sacerdócio ministerial é muito questionável. Ao contrário do que afirmam os autores do livro, ela nunca foi realizada não apenas pela tradição das Igrejas Orientais (ortodoxas e católica), mas também pelo magistério dos papas recentes, como mostra a ordenação de pastores protestantes casados que entraram em plena comunhão da Igreja Católica de Pio XII a Bento XVI inclusive. É, portanto, uma opinião de escola, a saber, da escola francesa do século XVII, cuja fraqueza doutrinária Maritain já tinha demonstrado em Bérulle (cf. seu capítulo 'Da Escola Francesa' em seu livro De l'Église du Christ: sa personne et son personnel).

Se tomarmos a Tradição no seu conjunto ao longo da história da Igreja, fica claro que, se há incontestavelmente uma altíssima conveniência entre o sacerdócio ministerial e o celibato, de forma alguma essa conveniência, por mais alta que seja, pode constituir um vínculo necessário a ponto de proibir uma ampliação das exceções à disciplina do celibato na Igreja Latina. Outra coisa é a oportunidade pastoral dessa extensão, sobre a qual é normal que existam opiniões prudenciais divergentes.

Pe. Jean-Miguel Garrigues, O.P.

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