Cuba pede fim de invasão norte-americana em Guantánamo

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06 Fevereiro 2017

Após exibição de documentário que denuncia a invasão ilegal dos Estados Unidos no território de Guantánamo, a consulesa geral de Cuba defendeu a retomada do território e o fim do bloqueio comercial.

A reportagem é de Gabriel Valery, publicado por RBA, 01-02-2017.


Base norte-americana é instalada na entrada da baía de Guantánamo, área estratégica no mar do Caribe (Foto: Wikimedia Commons)

Guantánamo ficou muito conhecida por sua prisão. Entretanto, dezenas de anos antes de sua criação, os Estados Unidos já ocupam o território cubano ilegalmente, como se fosse de seu próprio país”, afirmou ontem (31) a consulesa geral de Cuba, Nélida Hernández Carmona, em evento de exibição, em São Paulo, do documentário Todo Guantánamo é Nosso (2016), do cineasta colombiano Hernando Calvo Ospina, sobre a invasão ilegal dos Estados Unidos, que acontece desde 1903.

O filme, inédito na capital paulista, foi apresentado no Cineclube Vladimir Herzog, que tem sede no Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo, no centro da cidade. Além da consulesa, estavam presentes, para debate, o cônsul de Imprensa para a região Sul e Sudeste do Brasil, Antônio Matas Salas, e a coordenadora do Comitê Carioca de Solidariedade a Cuba, Cármen Diniz.

“A base norte-americana foi oficializada através de uma emenda que obrigou Cuba a acrescentar o arrendamento de terras em sua primeira Constituição. Se Cuba não aceitasse a imposição, eles não retirariam tropas que ocupavam o país na época. Então, a base tem um surgimento sujo desde sua raiz, foi um ato de imposição”, afirma, durante o filme, a diretora do Museu Histórico de Caimanera, Ofelia Garcia Campuzano.


Área da Bahia de Guantánamo invadida pelos EUA 

Nélida afirmou que a invasão ilegal é um dos principais pontos de regularização, necessários para a normalização de relações com o país caribenho. “Temos que explicar que o contrato que eles impuseram para a construção da base tinha uma vigência que venceu, portanto, não está mais em vigor. Cuba decidiu não entrar em conflito, pois obrigá-los a sair poderia trazer guerra ao país. Algo que eles já estavam tentando conseguir para ocupar totalmente nosso território”, afirmou a consulesa cubana.

Em oposição ao padrão militarista demonstrado pelos norte-americanos em solo cubano, o governo local optou pelo diálogo. “De forma inteligente, temos procurado sempre manter o tema com conversas entre organismos internacionais, bem como relações bilaterais com os Estados Unidos para conseguir a saída da base que ocupam ilegalmente em nosso território”.

O documentário traz depoimentos da população local, bem como de historiadores, para evidenciar a natureza da invasão. “É muito importante que a população de lá possa ser ouvida. Ninguém melhor do que eles para explicar o sentimento de quem convive com as tropas. Muitos relatam fatos ofensivos por parte dos norte-americanos, inclusive, com ações desrespeitosas diante de nossa bandeira, quando colocada no alto do mastro. Diferente do que nós fazemos. Quando içam as bandeiras deles, nossas tropas de fronteira saúdam respeitosamente. Há uma grande diferença na forma com que nossas tropas de fronteira atuam e como fazem os Estados Unidos. É a prepotência dos ianques”, disse Nélida.

“Há uma grande diferença na forma com que nossas tropas de fronteira atuam e como fazem os Estados Unidos. É a prepotência dos yankees”, disse a consulesa geral de Cuba no Brasil

A recente aproximação dos Estados Unidos com Cuba e a retomada dos diálogos bilaterais promovidos pela gestão do ex-presidente democrata Barack Obama não foram, de acordo com a cubana, nada além de resultados obtidos por meio dos esforços diplomáticos do país caribenho. “A mudança que temos experimentado no governo Obama foi um trabalho de sucesso da paciência e da humildade do povo cubano de se manter firme na construção de sua unidade.”

Diante de tal pensamento, a recente eleição do opositor republicano de Obama para a presidência, Donald Trump, não significa o fim das tentativas de estabilização de relações, ao menos por parte de Cuba, como explicou Cármen. “É importante registrar que Obama, apesar de seu charme, foi o presidente que mais faturou com o bloqueio de Cuba. Tanto faz que agora o Trump está lá. Quem governa aquele país são as corporações. Não vejo muita diferença nesse sentido”.

Nélida engrossou o discurso de Cármen, afirmando de forma mais apaixonada, mas com clareza, que: “Democratas e republicanos só tem mascaras diferentes. Lutamos por Cuba, por nós. O bloqueio foi imposto durante um governo republicano e intensificado por democratas. Continuaremos na luta. Cuba tem seu caminho definido, o comandante (Fidel Castro, líder da Revolução Cubana de 1959, morto em 2016) nos deixou muito bem. Nosso povo vai seguir os princípios até a morte. Estamos em um mesmo navio até o final. Socialismo pleno e absoluto.”

Motivos do bloqueio

O bloqueio econômico contra o país, imposto em 1960 pelo presidente republicano Dwight Eisenhower, é considerado um dos maiores problemas diplomáticos, junto com a invasão de Guantánamo, a serem solucionados. Todo comércio entre Estados Unidos e Cuba foi proibido, bem como a circulação de pessoas entre os dois países.

Em 1992, durante o governo do também republicano George Bush, uma lei foi aprovada pelo Congresso norte-americano, reunindo todas as sanções históricas contra Cuba, visando isolar definitivamente o país caribenho. O argumento apresentado foi de "defesa da segurança nacional dos Estados Unidos”, bem como “promoção dos direitos humanos e da democracia em Cuba”.

Cármen questionou os reais motivos do bloqueio: “Qual a verdadeira razão? É pela democracia? O Brasil teve uma ditadura de 20 anos e nunca sofreu sanções. Nem o Chile, nem a Argentina ou o Uruguai. Por que não nos bloquearam se o problema era o regime? O problema real não é o país, mas a ideia que apavora. Então, eles vão ter que assumir que o motivo é o comunismo. Mas tudo bem se for a China a parceira”, disse. A China concentra grande parte da dívida externa norte-americana.

Logo após a exibição, o Comitê Carioca de Solidariedade a Cuba disponibilizou o filme no YouTube, para divulgação e maior alcance possível.

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