28 Outubro 2015
As únicas vezes em que o Papa Francisco usa uma linguagem dura e afiada é quando ele se dirige aos bispos. Ao longo do seu pontificado, ele tem sido destemido ao corrigi-los por não usarem os seus ofícios plenamente pelo bem do povo da Igreja.
A opinião é de Francis DeBernardo, diretor-executivo da New Ways Ministry, organização católica de gays e lésbicas. O artigo foi publicado no blog Bondings 2.0, 25-10-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
O poderoso pós-escrito das três semanas de debates, discussões, vazamentos, coletivas de imprensa, entrevistas e rumores do Sínodo foi o discurso do Papa Francisco aos bispos e participantes reunidos depois que ele recebeu deles o seu relatório final. Quase imediatamente depois que ele foi divulgado para a imprensa e para o mundo, o discurso recebeu elogios brilhantes de todos os cantos. O maior elogio que eu posso dar é que ele foi "puro Francisco".
Foi dito, e eu acho que é acertado, que as únicas vezes em que o Papa Francisco usa uma linguagem dura e afiada é quando ele se dirige aos bispos. Ao longo do seu pontificado, ele tem sido destemido ao corrigi-los por não usarem os seus ofícios plenamente pelo bem do povo da Igreja.
O seu último discurso não foi uma exceção. Em certo ponto, ele forneceu uma lista de descrições daquilo que ele achava que o Sínodo tinha sido. Aqui estão algumas pérolas dessa lista:
Significa ter testemunhado a todos que o Evangelho continua sendo, para a Igreja, a fonte viva de eterna novidade, contra aqueles que querem 'endoutriná-lo' como pedras mortas a serem jogadas contra os outros.
Significa também ter despojado os corações fechados que, frequentemente, se escondem até mesmo por trás dos ensinamentos da Igreja ou por trás das boas intenções, para se sentar na cátedra de Moisés e julgar, às vezes com superioridade e superficialidade, os casos difíceis e as famílias feridas.
Significa ter tentado abrir os horizontes para superar toda a hermenêutica conspiradora ou o fechamento de perspectivas, para defender e difundir a liberdade dos filhos de Deus, para transmitir a beleza da Novidade cristã, às vezes coberta pela ferrugem de uma linguagem arcaica ou simplesmente incompreensível.
No caminho deste Sínodo, as opiniões diferentes que se expressaram livremente – e, infelizmente, às vezes com métodos não totalmente benévolos – certamente enriqueceram e animaram o diálogo, oferecendo uma imagem viva de uma Igreja que não usa "módulos pré-confeccionados", mas que obtém da fonte inexaurível da sua fé água viva para saciar os corações ressequidos.
E, no estilo oposto, a sua linguagem mais generosa, muitas vezes, é a que ele usa quando acolhe o povo à Igreja e ao amor de Deus:
A experiência do Sínodo nos fez entender melhor também que os verdadeiros defensores da doutrina não são os que defendem a letra, mas o espírito; não as ideias, mas o homem; não as fórmulas, mas a gratuidade do amor de Deus e do seu perdão.
Isso não significa, de modo algum, diminuir a importância das fórmulas: elas são necessárias; a importância das leis e dos mandamentos divinos, mas exaltar a grandeza do verdadeiro Deus, que não nos trata segundo os nossos méritos nem mesmo segundo as nossas obras, mas unicamente segundo a generosidade ilimitada da sua Misericórdia (cf. Rm 3, 21-30; Sal 129/130; Lc 11, 47-54). Significa superar as constantes tentações do irmão mais velho (cf. Lc 15, 25-32) e dos trabalhadores invejosos (cf. Mt 20, 1-16). Antes, significa valorizar mais as leis e os mandamentos, criados para o homem e não vice-versa (cf. Mc 2, 27).
O primeiro dever da Igreja não é o de distribuir condenações ou anátemas, mas proclamar a misericórdia de Deus, chamar à conversão e conduzir todos os homens à salvação do Senhor (cf. Jo 12, 44-50).
E o Papa Francisco apontou o caminho pela frente com a sua mensagem de misericórdia para todos:
Na realidade, para a Igreja, concluir o Sínodo significa voltar realmente a "caminhar juntos" para levar a todas as partes do mundo, a todas as dioceses, a todas as comunidades e a todas as situações a luz do Evangelho, o abraço da Igreja e o apoio da misericórdia Deus!
O discurso também incluiu algumas das partes mais problemáticas da retórica do Papa Francisco, nas quais ele também defende concepções mais tradicionais de família. Ele disse que a Igreja deve "defender a família de todos os ataques ideológicos e individualistas". Ele definiu o matrimônio como "entre homem e mulher, fundado na unidade e na indissolubilidade" e valorizou a família como "base fundamental da sociedade e da vida humana". E alertou contra o perigo de "relativismo".
No entanto, essas referências parecem menos poderosas do que os seus apelos mais eloquentes a desafiar conceitos e atitudes arcaicas ilustrados pelas citações acima.
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A misericórdia está acima da lei - Instituto Humanitas Unisinos - IHU