23 Março 2015
Um cardeal escocês que deixou o cargo de arcebispo em 2013 em meio a revelações de má conduta sexual agora renunciou aos direitos e privilégios de cardeal, embora ainda reterá o título, informou o Vaticano nesta sexta-feira.
A reportagem é de John L. Allen Jr., publicada por Crux, 20-03-2015. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Ainda não seja exatamente inédito, um prelado católico perder os seus privilégios como membro do Colégio Cardinalício é algo muito raro, com o último caso registrado em 1927.
O Cardeal Keith O’Brien, 77, deixou o seu cargo de arcebispo em fevereiro de 2007 após acusações publicadas no jornal The Observer, versão escocesa, de que ele teria se envolvido em relações sexuais com quatro homens e três padres na época, e com um ex-padre (este último ainda na década de 1980).
Um dos homens, não identificado nas reportagens do jornal, alegou que o grau de controle que um superior tem sobre os padres subordinados tornava as coisas difíceis para ele recusar as exigências de O’Brien.
“Ele [o arcebispo] tem um poder imenso sobre você. Ele pode mandar você se mudar, pode deixá-lo onde está, pode trazê-lo junto de si (...) ele controla cada aspecto de sua vida”, disse o padre segundo o jornal.
Segundo uma das reportagens, um dos homens abandonou o sacerdócio quando O’Brien foi feito bispo em 1985, temendo que este seria capaz de exercer poder sobre a sua carreira. Um dos quatro homens também alegou ter enviado um relato ao embaixador papal Grã-Bretanha, mas que não teve efeito.
Após inicialmente contestar as acusações, O’Brien acabou reconhecendo que, às vezes, o seu comportamento sexual havia “ficado abaixo dos padrões esperados” e anunciou a sua renúncia bem como sua retirada do Conclave, em 2013, que elegeu o Papa Francisco.
Na época, O’Brien disse que estaria se submetendo a um período de oração e reflexão, e desde então não mais participou de atividades públicas.
O comunicado emitido pelo Vaticano na sexta-feira indicava que O’Brien está, agora, se retirando por completo, ao renunciar como cardeal.
“O Santo Padre aceitou a renúncia aos direitos e privilégios do cardinalato (…) apresentada ao final de um longo itinerário de oração pelo Cardeal Keith Michael Patrick O’Brien, arcebispo emérito de Santo André e Edimburgo”, lê-se no texto publicado pelo Vaticano.
“Com esta medida, a Sua Santidade manifesta a todos os fiéis da Igreja na Escócia sua solicitude pastoral e encoraja a todos a continuarem com confiança no caminho da renovação e da reconciliação”, completa o comunicado.
A última vez que um membro do Colégio Cardinalício renunciou o status de cardeal foi em 1927, com um jesuíta francês chamado Louis Billot. Este havia sido feito cardeal em 1911 e se desentendeu com o Papa Pio XI na década de 1920 a respeito da Action Française, movimento monarquista francês de extrema direita.
Billot não abandonou o seu apoio ao grupo e submeteu a sua renúncia de cardeal após um encontro tempestuoso com o papa em setembro de 1927. Ele permaneceu padre e teólogo, morrendo em 1931.
Não está claro ainda se Francisco obrigou O’Brien a renunciar ao seu status de cardeal. Não obstante, tal ação pode ser vista como mais um passo em direção à reforma da questão mais ampla que envolve má condutas e abusos sexuais.
Embora tenha se comprometido a aplicar uma política de tolerância zero e criado uma comissão especial papa promover uma reforma neste campo, o Papa Francisco vem recebendo críticas por não responsabilizar bispos que falharam em algum momento e por criar novos bispos que possuíam um histórico confuso relativo a má conduta e abusos na Igreja.
O’Brien foi nomeado arcebispo de St. Andrew e Edimburgo em 1985, e feito cardeal em 2003.
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Em decisão rara, prelado escocês pego em escândalo sexual renuncia como cardeal - Instituto Humanitas Unisinos - IHU