Por: André | 18 Março 2015
Perfeitamente fiel à tradição quando fala do aborto, do divórcio e da homossexualidade. Mas também aberto a mudanças na doutrina e na práxis. Uma antologia que acrescenta o mistério.
Fonte: http://bit.ly/1LqTqgc |
A reportagem é de Sandro Magister e publicada no sítio italiano Chiesa, 17-03-2015. A tradução é de André Langer.
Entre as muitas coisas que o Papa Francisco diz há algumas que nunca chegam a estar nas primeiras páginas dos jornais. E se, às vezes, o conseguem são imediatamente varridas por outras manchetes que dizem o contrário e triunfam.
É o que acontece cada vez que ele fala como “filho da Igreja” – como gosta de se definir – e como testemunha fiel da tradição sobre questões, tais como: a contracepção, o aborto, o divórcio, o casamento homossexual, a ideologia de “gênero” e a eutanásia.
Sobre estas questões, o Papa Francisco não se cala. E quando fala, muito mais frequentemente do que se acredita, não se desvia nem um milímetro de quanto disseram antes dele Paulo VI, João Paulo II ou Bento XVI.
E, no entanto, na opinião pública dominante, tanto laica como católica, este papa é visto como inovador, que muda os paradigmas, que rompe com os dogmas do passado, também e sobretudo sobre as questões de vida e de morte que foram a cruz de seus predecessores.
O Papa Jorge Mario Bergoglio fez 21 intervenções sobre as questões acima indicadas, desde o final do sínodo de outubro passado até hoje, ou seja, em menos de cinco meses. Algumas muito polêmicas com o “espírito do tempo”. Todas perfeitamente em sintonia com a doutrina tradicional da Igreja. A última joga muita água sobre o fogo também em relação às expectativas de mudança no campo matrimonial, expectativas definidas pelo Papa Francisco como “desmedidas”.
A novidade deste pontificado é que junto com estas reafirmações da doutrina de sempre dá livre curso a doutrinas e práticas pastorais de sinal diferente e, às vezes, oposto.
Outra novidade não menos importante é que esta discordância de vozes é produzida no interior da própria hierarquia católica e inclusive a partir de outras palavras do próprio Papa assumidas como emblema de mudança, a partir desse “quem sou eu para julgá-lo?” que agora se converteu universalmente na marca de identificação deste pontificado.
É assim que um cardeal tão importante quanto o Reinhard Marx afirma tranquilamente em uma recente entrevista coletiva, em nome da Igreja alemã e a propósito da comunhão aos divorciados recasados:
“Não somos uma filial de Roma. Cada Conferência Episcopal é responsável pela pastoral em sua própria esfera. Não podemos esperar até que um sínodo nos diga como devemos nos comportar aqui sobre o casamento e a pastoral familiar”.
Eis que um arcebispo como o italiano Giuseppe Casale chega a admitir o aborto, como fez em uma entrevista publicada na revista Il Regno sobre a reforma da Igreja “na linha do Papa Francisco”.
“Para o início da vida humana devemos aprofundar quando há vida humana, a pessoa, sem nos apoiar em posições preconcebidas, porque a ciência poderia nos abrir novas perspectivas”.
Eis que a mudança de paradigma no juízo da Igreja sobre a homossexualidade já foi conquistada largamente e interpretada de maneira positiva, visto o número sem precedentes de eclesiásticos homossexuais que ocupam, na cúria, postos de importância e em contato próximo com o Papa.
É também por isso que impressionam tanto as intervenções de Francisco, todas tão “tradicionais”.
Aqui está o enigma deste pontificado, descrito deste modo pelo Pe. Federico Lombardi na revista Popoli, dos jesuítas: “O projeto de Francisco não tem um desenho orgânico alternativo; é antes um pôr em movimento uma realidade complexa como a Igreja. É uma Igreja a caminho. Ele não impõe a sua visão e o seu modo de agir. Pergunta e escuta os diversos pareceres. Não sabe para onde vai: confia no Espírito Santo”.
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O passo duplo do Papa argentino - Instituto Humanitas Unisinos - IHU