O Jubileu da misericórdia: as novas fronteiras da Igreja

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16 Março 2015

Com o anúncio feito hoje – 13 de março de 2015, no dia do 2º aniversário da sua eleição – da celebração de um ano santo extraordinário, de um Jubileu da misericórdia, o Papa Francisco imprime uma mudança no pontificado.

Este ano, que será aberto na festa da Imaculada Conceição, no dia 8 de dezembro de 2015 e encerrará no dia 20 de novembro de 2016, na solenidade de Cristo Rei, é ao mesmo tempo um fato novo e tradicional.

O comentário é de Masssimo Faggioli, professor de História do Cristianismo, University of St Thomas, EUA, publicado por Huffington Post, 13-03-2015. A tradução é de IHU On-Line.

Do ponto de visto do calendário, este Jubileu vem depois do Jubileu do ano 2000 e antecipa o previsto para 2015.

É um Jubileu extraordinário como aquele de 1983 de João Paulo II, que caía no 50º aniversário do Jubileu realizado em 1933 e por ocasião dos 1950 anos da morte e ressurreição de Cristo.

O instrumento de Jubileu é o que há de mais típico do arsenal católico romano – com memórias que não deixam de criar problemas: as práticas para obter a indulgência plenária, a linguagem jurídica aplicada à vida espiritual, o negócio religioso e a promoção que desde sempre faz parte do teatro sagrado que é Roma.

Mas há elementos de novidade. Do ponto de vista teológico, Francisco interpreta todo os seu agir sob a perspectiva de um radical re-orientamento da Igreja em torno da misericórdia divina. O pontificado iniciou-se, desde o primeiro dia, sob o signo da misericórdia e Francisco permanece fiel a sua intuição-chave, que se estende pelos aspectos mais tradicionais do catolicismo – como o Jubileu.

Se os Jubileus de João Paulo II eram ‘ecumênicos’, com celebrações em que eram convidados chefes de igrejas não católicas, o Jubileu de Francisco não nega este aspecto. Mas, sob Francisco, o ecumenismo adquire uma direção diferente, um ecumenismo intra-católico: uma chamada a todos os que são excluídos ou que se excluíram da Igreja.

Do ponto de vista do impacto no mundo católico e para fora, o efeito Francisco se solidifica. As palavras de Francisco como Papa, a partir daquele março de dois anos atrás, não são somente entrevistas, livros, videoclips, mas é uma popularidade que é a mesma (se não já superou) a de João Paulo II: ela se torna uma chamada física e espiritual para Roma.

Em outros tempos poderia se interpretar um outro Jubileu sob o signo do triunfalismo vaticano: tudo o que Francisco fez até agora não permite uma interpretação deste tipo.

Do ponto de vista da política eclesiástica, o Jubileu é uma chamada de Francisco o seu povo. Em vista do Sínodo de 2015, a convocação do Jubileu é um desafio para as elites eclesiais e enfrenta os oráculos que resistem à mudança em nome da defesa de uma tradição que para eles é imutável.

O êxito do Sínodo de 2015 ainda está em aberto, mas Francisco avoca para si uma supremacia que é espiritual e não somente institucional. As várias oposições ao pontificado, dos neo-conservadores ocidentais aos tradicionalistas nostálgicos do período precedente ao Vaticano II, devem fazer as contas com um Papa que usa instrumentos velhos e novos para renovar a Igreja e fazer com que ela seja uma comunhão para todos e não somente um clube para os que se crêem perfeitos.

No Vaticano de Francisco o ex- Santo Ofício não conta mais como no tempo de Wojtyla e Ratzinger, e os tribunais vaticanos vêem claramente modificados as suas funções não somente no organograma da Cúria, mas também – e isto é o que importa – no imaginário comum sobre o Vaticano.

Mas o elemento mais significativo para compreender o “Jubileu da misericórdia” no pontificado de Francisco é a referência ao Concílio Vaticano II: “A abertura do próximo Jubileu acontecerá no 50º aniversário da conclusão do Concílio Vaticano II, em 1965, e adquire por isto um significado particular incentivando a Igreja para que continue na obra iniciada pelo Vaticano II”.

O Papa Francisco convida toda a Igreja a celebrar os cinquenta anos da conclusão do Concílio Vaticano II (1962-1965) e reclama para si e para a Igreja toda a herança do concílio – numa Igreja institucional que em 2012 não promoveu nenhuma iniciativa para recordar o evento eclesial mais importante dos últimos quatro séculos: da “medicina da misericórdia” de João XXIII ao “Jubileu da misericórdia” do Papa Francisco.

Em 1994, Karl Kasper, o teólogo mais próximo de Francisco, escrevia: “O debate no interior da Igreja é cada vez mais esotérico e dominado pelos internistas (insider). A maioria dos seres humanos têm outras questões urgentes para resolver. Enquanto a casa está queimando, os internistas (insider) discutem que quadro da sala deve ser limpado por primeiro, por quem e como”.

Kasper é o teólogo que Francisco, da janela do Angelus do dia 17 de março de 2013, apontou como sua leitura de referência para um pontificado que visa reconstruir uma Igreja aberta ao mundo: “Um pouco de misericórdia torna o mundo menos frio e mais justo”.

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