27 Mai 2014
"Hoje estamos especificamente batendo à porta em nome de nossas religiosas cujas visões de ministério elas confiam à Leadership Conference of Women Religious – LCWR. Esta organização é a cabeça pensante do organismo do serviço das irmãs católicas", escreve o editorial do National Catholic Reporter, 23-05-2014. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
O apelo do editorial desta importante publicação católica dos EUA afirma: "Francisco, nós não estamos sozinhos. Em todo os Estados Unidos, os católicos estão batendo à sua porta em nome destas mulheres fiéis centradas em Cristo. Elas são mulheres bem instruídas, cujas assembleias acontecem em espírito de oração e contemplação, ao mesmo tempo em que estão sendo elas criticadas pelas caracterizações encontradas em afirmações vindas da Congregação para a Doutrina da Fé".
"Francisco, algo está equivocado - diz o editorial. O duro ataque do cardeal Gerhard Müller à LCWR não se justifica. Esta não é apenas a opinião desta publicação. É a opinião dos fiéis católicos em todo o nosso país, incluindo teólogos profundamente envolvidos em questões eclesiais.
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Eis o editorial.
Em seu discurso aos peregrinos na Praça de São Pedro, no último dia 11, o Papa Francisco foi além de seu texto para pedir que “batessem às portas” de seus pastores, dizendo que isso os faria melhores bispos e padres. “E vos peço, por favor, para importunarem os pastores, para perturbarem os pastores, todos nós pastores, para que possamos dar a vocês o leite da graça, da doutrina e da orientação”.
No dia seguinte, na missa celebrada pela parte da manhã da Casa Santa Marta, Francisco pregou com base em Atos 11,1-18, onde Pedro diz à igreja reunida em Jerusalém que os gentios também passaram a acreditar em Jesus. Francisco disse que Pedro abrira as portas da Igreja a todos. “Quem somos nós para fechar as portas?”, perguntou. “Mas quem somos nós para fechar portas? Na Igreja primitiva, e mesmo hoje, existe aquele ministério do ostiário. E o que fazia o ostiário? Abria a porta, recebia a gente, fazia-as passar. Mas nunca foi o ministério de quem fecha a porta, nunca”.
Papa Francisco, hoje estamos aqui para importuná-lo, para bater à sua porta até que o senhor a abra.
Estamos assim fazendo em nome dos fiéis católicos americanos, que estão entre os milhões ao redor do mundo cujas vidas o senhor inspirou e encorajou em sua missão de renovar a Igreja. E hoje estamos especificamente batendo à porta em nome de nossas religiosas cujas visões de ministério elas confiam à Leadership Conference of Women Religious – LCWR. Esta organização é a cabeça pensante do organismo do serviço das irmãs católicas.
Francisco, nós não estamos sozinhos. Em todo os Estados Unidos, os católicos estão batendo à sua porta em nome destas mulheres fiéis centradas em Cristo. Elas são mulheres bem instruídas, cujas assembleias acontecem em espírito de oração e contemplação, ao mesmo tempo em que estão sendo elas criticadas pelas caracterizações encontradas em afirmações vindas da Congregação para a Doutrina da Fé.
O trabalho da LCWR não deveria ser impedido ou diminuído. Ele precisa ser encorajado e celebrado. Percebemos uma desconexão entre a forma como elas estão sendo tratadas e a Igreja do encontro que o senhor prega. Estamos batendo à porta, a espera de sua resposta.
Nós nos perguntamos: Qual a causa desta desconexão? Chegamos à conclusão de que a resposta é o medo. O medo de permitir que as mulheres se sentem à mesa. O medo, talvez, de se saber como uma igreja inclusiva se pareceria. Será que este sentimento deriva de um medo de mudar? Não seria este medo consequência do fato de não se passar tempo trabalhando em colaboração com as mulheres? A nossa experiência nos diz que escutar as ideias delas, as suas perspectivas, insights resultaria na construção de uma igreja mais forte, mais saudável. Mantê-las fora faz diminuir a todos nós.
Francisco, nada do que o senhor tem nos mostrado desde o primeiro dia de seu pontificado indica que sois um bispo levado pelo medo. Pelo contrário, o senhor se mostra completo e em paz consigo mesmo. A sua confiança humilde diz que o senhor confia no Espírito. Estes são os sinais saudáveis de que o Espírito está vivo dentro de si. Confie neste Espírito. Ele fará muito bem ao senhor. Irá levá-lo a abrir as portas das quais o senhor fala: a todos os fiéis, incluindo, ou melhor, começando com as irmãs da LCWR.
Esta conferência das religiosas não tem a pretensão de ser perfeita. Mas os “enganos” que [estas irmãs] possam ter cometidos não vêm de uma falta de fidelidade. Qualquer coisa nesse sentido terá vindo de uma dedicação àquela mesma fidelidade que o senhor articula em sua visão de Igreja: uma visão profética que abre espaço para a mudança e que não tem medo de ir adiante, arriscando-se em nome dos necessitados do mundo.
Francisco, a LCWR surgiu do Concílio Vaticano II, o qual o senhor guarda com carinho em seu coração. Este concílio veio a partir da visão de São João XXIII. Ele abraçou a renovação, a colegialidade, a justiça e o serviço, exatamente os princípios a partir dos quais as congregações religiosas femininas vêm trabalhando desde então. Estas mulheres não precisam ter medo. Precisam, isto sim, ser abraçadas.
Francisco, algo está equivocado. O duro ataque do cardeal Gerhard Müller à LCWR não se justifica. Esta não é apenas a opinião desta publicação. É a opinião dos fiéis católicos em todo o nosso país, incluindo teólogos profundamente envolvidos em questões eclesiais.
O prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé se pergunta, em voz alta, se o foco da LCWR sobre novas ideias a tira da capacidade de “sentir com a Igreja”. Francisco, o contrário é verdadeiro. É por causa do 'sentir com a Igreja' que a LCWR está explorando estas novas ideias. A falta na exploração daquilo que há de novo irá inviabilizar a missão da Igreja nos próximos tempos. Queiramos ou não, mudar é a norma da sociedade contemporânea. Expressar ensinamentos imutáveis exige novas compreensões e articulações.
Além disso, a natureza inflexível dos comentários do cardeal Müller estão fora de sintonia com o – e muito distante do – espírito da Igreja que o senhor está reimaginando e tentando construir.
Francisco, escute às batidas de seu povo à porta. Abra-a para a LCWR e desfaça o impasse com a congregação doutrinal. Abra a porta para que todo o povo de Deus passe. Continuamos confiantes que o senhor irá responder levado pelos seus instintos evangélicos de misericórdia, amor e inclusão.
Sem dúvida, como este impasse vai se resolver – ou não – nas próximas semanas e meses vai dar uma forma mais clara e nítida ao seu pontificado.
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Desconexão entre pregação e prática em relação à LCWR é dolorosa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU