Por: Cesar Sanson | 19 Fevereiro 2014
A decisão da Fifa de manter a cidade de Curitiba como uma das 12 sedes da Copa do Mundo foi recebida com pouca festa e um certo grau de ceticismo pelos moradores da cidade nesta terça-feira.
A reportagem é de Luis Kawaguti e publicada pela BBC Brasil, 18-02-2014.
O anúncio veio no meio da tarde, pela conta no Twitter do secretário-geral da entidade, Jérôme Valcke – que logo depois em evento oficial confirmou a informação, mas disse que não havia autorizado sua publicação antecipada.
A notícia pareceu confirmar o que muitos moradores diziam já suspeitar: após tantos gastos, seria impossível não realizar na Arena da Baixada os quatro jogos previstos para a cidade. Mas não houve grande comemoração – exceto pelas demonstrações de euforia dos operários que receberam a notícia enquanto trabalhavam na Arena da Baixada.
Em atitude oposta, dois grupos – com menos de dez ativistas cada um – levaram faixas para a prefeitura e para o centro da cidade criticando os gastos com o Mundial e a suposta remoção de moradores de áreas onde obras estão sendo realizadas.
Mas a atitude em geral de moradores que conversaram com a BBC Brasil era de certo ceticismo. "Eu não concordei quando falaram em fazer a Copa aqui, mas agora que já gastaram tanto têm que fazer. Se a cidade ficasse de fora, muita gente que investiu ia ficar sem dinheiro", disse o taxista Rafael Seccon, de 72 anos.
"Não sou muito ligado no assunto mas acho que a gente tinha realmente mais coisas com que se preocupar do que com a Copa, coisas mais importantes", disse o estudante André, de 15 anos.
O prefeito Gustavo Fruet (PDT) afirmou por sua vez que mesmo quem é contrário à realização da Copa no Brasil aprovou a decisão da Fifa. "Mesmo aquela pessoa que de alguma maneira tinha alguma crítica à Copa ficaria mais frustrada se fosse cancelada a Copa na capital, porque isso daria uma impressão de falta de competência", disse. "Então, a minha preocupação é deixar claro para o povo de Curitiba: estamos cumprindo todos os compromissos e todas as obrigações."
Financiamento
Segundo analistas, alguns dos fatores que mais pesaram na decisão favorável da Fifa foram as garantias dadas por autoridades estaduais e pelo clube Atlético Paranaense de que não faltará dinheiro para manter o atual ritmo acelerado das obras na Arena da Baixada. Para evitar que o clube ficasse sem dinheiro para tocar a obra em março, o governo do Estado teria concordado em fornecer uma espécie de adiantamento de R$ 65 milhões, que podem ser abatidos de um financiamento do BNDES ainda em fase de aprovação.
O governo do Paraná, a prefeitura de Curitiba e o clube participam de órgão gestor criado há cerca de um mês para solucionar a crise da Arena da Baixada – que estava com as obras muito atrasadas e sem caixa para continuar o processo.
O valor total da obra do estádio chega agora a cerca de R$ 330 milhões. Segundo o consultor de marketing esportivo Erich Beting, nessa fase de finalização das obras de estádios é esperada a ocorrência de choques e negociações entre as entidades envolvidas na organização do mundial - em um processo de decisão de "quem vai ajudar a pagar a conta".
De acordo com ele, também pesou na decisão da Fifa o fato de que um dos principais times que disputam a Copa, a Espanha, não só disputará uma partida na Arena da Baixada (contra a Austrália), mas ficará baseada no Estado do Paraná.
Imagem arranhada
Beting afirmou que apesar de momentaneamente resolvida, a crise envolvendo a Arena da Baixada desgasta a reputação do Brasil internacionalmente. "O Brasil sai arranhado. O chute no traseiro que Jérôme Valcke disse que o Brasil precisava levar se confirma com o episódio de Curitiba. No fundo ele tinha uma certa razão", disse. O consultor se referia a uma entrevista concedida em março de 2012 por Valcke que causou indignação entre autoridades brasileiras.
Em entrevista em Florianópolis nesta terça-feira, o secretário-geral da Fifa afirmou que a Arena da Baixada será inaugurada por volta de 15 de maio. Antes disso, dois jogos teste devem ser realizados no estádio, sendo o primeiro em abril.
De acordo com Beting, embora a atual crise tenha passado, um eventual novo problema relacionado à realização da Copa em Curitiba pode ter um efeito muito prejudicial à imagem do Brasil.
Mas, apesar de toda a polêmica, alguns curitibanos ainda conseguem encarar o episódio com otimismo.
"Curitiba é uma cidade muito bonita, a gente vai receber muitos turistas e a gente espera que isso dê retorno pra gente", disse a empresária Clarete Dala Vale. "Eu e minha família tentamos comprar ingressos (para os jogos na Arena da Baixada) mas não conseguimos, a gente vai assistir de casa mesmo e o Brasil vai ser campeão."
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Curitibanos recebem com ceticismo confirmação da cidade na Copa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU