Cardeal repreende jesuíta publicamente durante missa na República Dominicana

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11 Fevereiro 2014

O cardeal López Rodríguez (foto), da República Dominicana, chamou o jesuíta Mario Serrano de "sem-vergonha". O religioso da Companhia de Jesus defende o direito dos filhos de haitianos de serem dominicanos.

A reportagem é de Andrés Beltramo, publicada no sítio Religión Digital, 08-02-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

O cardeal Nicolás de Jesús López Rodríguez aparece em um vídeo chamando a atenção dos jesuítas por defender os haitianos. No vídeo, López Rodriguez chama o padre Mario Serrano de "sem-vergonha". O jesuíta encabeça as reivindicações de milhares de dominicanos, filhos de pais sem documentos, para que os documentos lhe sejam entregues.

"Por que razão vocês estão apoiando? Aqui há coisas que devem ser mudadas. Trago dentro uma lagoa profunda... Fui educado por jesuítas e eu gosto dos jesuítas. Mas esse sem-vergonha não me interessa nada. Ele se dedicou aos grupos de esquerdistas para fazer o que quiser".

E afirmou: "É preciso me respeitar neste país, embora esse senhor se ache o supremo pontífice. Eu estou muito incomodado. Moralmente, não aceito que um sacerdote ande dizendo bobagens publicamente. Aqui está o superior jesuíta. Diga-lhe: 'Cale-se', e ponto. Quem você é para andar falando bobagens? Defendendo os haitianos (inaudível)?".

No meio de uma missa e diante de centenas de religiosos, o arcebispo de Santo Domingo não aguentou mais e atacou a Companhia de Jesus. Nicolás de Jesús López Rodríguez recriminou os jesuítas pelo seu apoio à reivindicação de nacionalidade dos descendentes de haitianos que nasceram e residem na República Dominicana.

O discurso do cardeal, contrariado até os gritos, foi gravado em um vídeo caseiro e se tornou uma bomba quando foi divulgado pelo canal de televisão SIN. Assim que a gravação foi ao ar, em diversos setores compararam a atitude do arcebispo com a do Papa Francisco, que apelou muitas vezes à misericórdia e cuja primeira viagem como pontífice foi a Lampedusa, a ilha italiana de imigrantes ilegais.

Tudo aconteceu na tarde de domingo, 26 de janeiro, durante a missa de encerramento de um encontro organizado pela Conferência Dominicana de Religiosos e Religiosas (Condor), no auditório da Casa San Pablo, em Santo Domingo. López Rodríguez protestou especialmente contra o padre jesuíta Mario Serrano (foto ao lado), diretor do Centro Bonó, que liderou inúmeros protestos públicos em favor dos haitianos.

"Trago dentro uma lagoa profunda. Fui educado pelos jesuítas, gostava e gosto dos jesuítas, mas esse sem-vergonha não me interessa nada. Ele se dedicou com alguns grupos esquerdistas, para fazer o que quiser. É preciso me respeitar neste país, embora esse senhor se ache o supremo pontífice! Eu estou muito incomodado, irritado. Não aceito que um sacerdote ande dizendo bobagens publicamente. Aqui está o superior dos jesuítas. Diga-lhe: 'Cale-se', e ponto. Quem você é para andar falando bobagens?", exclamou.

O padre Mario Serrano é um defensor ativa dos imigrantes e dos dominicanos de ascendência haitiana.

"Ninguém fez mais pelo Haiti como a República Dominicana, e, por isso, não é certo que um jesuíta esteja fazendo mais do que o próprio cardeal", que disse que luta com todos os meios possíveis, naturalmente defendendo a República Dominicana.

"Desculpem-me, mas eu me sinto profundamente incomodado com os jesuítas, meus formadores no seminário, porque não colocaram o senhor Mario Serrano no seu lugar. Que ele se ponha no seu lugar. Eu não sou companheiro dele. Por isso, por favor, tenham a bondade de pôr as coisas no seu lugar. Você é um religioso, submeta-se à obediência ou, senão, deixe a congregação e dedique-se a outra coisa", disse.

Enquanto o cardeal discursava, os sacerdotes presentes iam se encolhendo, alguns olhavam para o chão, em atitude reflexiva e envergonhada diante do espetáculo do cardeal fora de si.

Há meses e em várias ocasiões, López Rodríguez questionou as ações do Centro Bonó contra uma decisão do Tribunal Constitucional que, em setembro de 2013, emitiu uma sentença em que estabeleceu que não são dominicanas os filhos de estrangeiros em trânsito nascidos no país desde 1929. Essa decisão afetou praticamente três gerações de pessoas, que viveram toda a sua vida na República Dominicana e até contavam com a nacionalidade, graças a outras determinações legais.

À época, o Centro expressou a sua "mais profunda indignação diante da sentença absurda, insensata e injusta, mediante a qual o Tribunal Constitucional cria a figura de pessoas estrangeiras em trânsito, em um período que abrange 85 anos, para justificar a desnacionalização de milhares de dominicanos e dominicanas de ascendência haitiana".

A decisão e suas consequências dividiram a opinião pública no Caribe, embora o presidente dominicano tenha prometido que novas soluções jurídicas que incluam os registros civis serão buscadas.

As razões do enfrentamento

O cardeal López Rodríguez expressou publicamente o seu apoio à sentença 168 do Tribunal Constitucional, que despoja da nacionalidade dominicana todos os nascidos a partir de 1929 de pais considerados residentes em condições irregulares.

Ao contrário, o padre Mario Serrano, jesuíta, apoia a reivindicação das pessoas desnacionalizadas, porque a Constituição da República Dominicana, proclamada em 2010, afirma que o novo mandato para a aquisição da nacionalidade não se aplica para aqueles que nasceram antes da vigência dessa nova Carta Magna.

O padre Mario Serrano desenvolve o seu trabalho pastoral e social no Centro Juan Montalvo dos sacerdotes jesuítas.

Ameaças de morte contra o padre Serrano

O sacerdote Mario Serrano denunciou na última quinta-feira, no programa Voces Propias, da emissora Z-101, que havia sido ameaçado de morte por nacionalistas extremistas que o acusam de trair a República Dominicana e de supostamente servir a causa dos haitianos.

"Vamos mandar você para onde Sonia Pierre [defensora dos direitos humanos dominicana, falecida em 2011] está", dizia uma das mensagens recebidas pelo padre Mario Serrano, que revelou a ameaça em uma entrevista as intelectuais Carlos Francisco Elías e Olaya Dotel no programa Voces Propias.

* * *

O jesuíta Luiz Fernando Klein, diretor brasileiro de Educação e Ação Pública da Fundação Fé e Alegria, comenta o caso:

"Lamentável esse posicionamento agressivo, ofensivo e descontrolado do cardeal! Em sua última assembleia, realizada em novembro de 2013, no Rio de Janeiro, os Superiores Provinciais Jesuítas da América Latina se posicionaram publicamente a favor dos migrantes e descendentes de haitianos, com uma veemente nota de repúdio à sentença do governo da República Dominicana, e urgindo o respeito aos direitos dos migrantes e descendentes de haitianos."

* * *

Assista abaixo ao discurso do cardeal:

{youtube}zbIqzGzKKHQ{/youtube}

Cardeal repreende jesuíta publicamente durante missa na República Dominicana


http://www.periodistadigital.com/imagenes/2014/02/08/cardenal-lopez.jpg


O cardeal López Rodríguez (foto), da República Dominicana, chama o jesuíta Mario Serrano de "sem-vergonha". O religioso da Companhia de Jesus defende o direito dos filhos de haitianos de serem dominicanos.


A reportagem é de Andrés Beltramo, publicada no sítio Religión Digital, 08-02-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.


O cardeal Nicolás de Jesús López Rodríguez aparece em um vídeo chamando a atenção dos jesuítas por defender os haitianos. No vídeo, López Rodriguez chama o padre Mario Serrano de "sem-vergonha". O jesuíta encabeça as reivindicações de milhares de dominicanos, filhos de pais sem documentos, para que os documentos lhe sejam entregues.


"Por que razão vocês estão apoiando? Aqui há coisas que devem ser mudadas. Trago dentro uma lagoa profunda... Fui educado por jesuítas e eu gosto dos jesuítas. Mas esse sem-vegonha não me interessa nada. Ele se dedicou aos grupos de esquerdistas para fazer o que quiser".


E afirmou: "É preciso me respeitar neste país, embora esse senhor se ache o supremo pontífice. Eu estou muito incomodado. Moralmente, não aceito que um sacerdote ande dizendo bobagens publicamente. Aqui está o superior jesuíta. Diga-lhe: 'Cale-se', e ponto. Quem você é para andar falando bobagens? Defendendo os haitianos (inaudível)?".


No meio de uma missa e diante de centenas de religiosos, o arcebispo de Santo Domingo não aguentou mais e atacou a Companhia de Jesus. Nicolás de Jesús López Rodríguez recriminou os jesuítas pelo seu apoio à reivindicação de nacionalidade dos descendentes de haitianos que nasceram e residem na República Dominicana.


O discurso do cardeal, contrariado até os gritos, foi gravado em um vídeo caseiro e se tornou uma bomba quando foi divulgado pelo canal de televisão SIN. Assim que a gravação foi ao ar, em divesos setores compararam a atitude do arcebispo com a do Papa Francisco, que apelou muitas vezes à misericórdia e cuja primeira viagem como pontífice foi a Lampedusa, a ilha italiana de imigrantes ilegais.


http://www.periodistadigital.com/imagenes/2014/02/08/mario-serrano-sj.jpg


Tudo aconteceu na tarde de domingo, 26 de janeiro, durante a missa de encerramento de um encontro organizado pela Conferência Dominicana de Religiosos e Religiosas (Condor), no auditório da Casa San Pablo, em Santo Domingo. López Rodríguez protestou especialmente contra o padre jesuíta Mario Serrano (foto ao lado), diretor do Centro Bonó, que liderou inúmeros protestos públicos em favor dos haitianos.


"Trago dentro uma lagoa profunda. Fui educado pelos jesuítas, gostava e gosto dos jesuítas, mas esse sem-vergonha não me interessa nada. Ele se dedicou com alguns grupos esquerdistas, para fazer o que quiser. É preciso me respeitar neste país, embora esse senhor se ache o supremo pontífice! Eu estou muito incomodado, irritado. Não aceito que um sacerdote ande dizendo bobagens publicamente. Aqui está o superior dos jesuítas. Diga-lhe: 'Cale-se', e ponto. Quem você é para andar falando bobagens?", exclamou.


O padre Mario Serrano é um defensor ativa dos imigrantes e dos dominicanos de ascendência haitiana.


"Ninguém fez mais pelo Haiti como a República Dominicana, e, por isso, não é certo que um jesuíta esteja fazendo mais do que o próprio cardeal", que disse que luta com todos os meios possíveis, naturalmente defendendo a República Dominicana.


"Desculpem-me, mas eu me sinto profundamente incomodado com os jesuítas, meus formadores no seminário, porque não colocaram o senhor Mario Serrano no seu lugar. Que ele se ponha no seu lugar. Eu não sou companheiro dele. Por isso, por favor, tenham a bondade de pôr as coisas no seu lugar. Você é um religioso, submeta-se à obediência ou, senão, deixe a congregação e dedique-se a outra coisa", disse.


Enquanto o cardeal discursava, os sacerdotes presentes iam se encolhendo, alguns olhavam para o chão, em atitude reflexiva e envergonhada diante do espetáculo do cardeal fora de si.


Há meses e em várias ocasiões, López Rodríguez questionou as ações do Centro Bonó contra uma decisão do Tribunal Constitucional que, em setembro de 2013, emitiu uma sentença em que estabeleceu que não são dominicanas os filhos de estrangeiros em trânsito nascidos no país desde 1929. Essa decisão afetou praticamente três gerações de pessoas, que viveram toda a sua vida na República Dominicana e até contavam com a nacionalidade, graças a outras determinações legais.


À época, o Centro expressou a sua "mais profunda indignação diante da sentença absurda, insensata e injusta, mediante a qual o Tribunal Constitucional cria a figura de pessoas estrangeiras em trânsito, em um período que abrange 85 anos, para justificar a desnacionalização de milhares de dominicanos e dominicanas de ascendência haitiana".


A decisão e suas consequências dividiram a opinião pública no Caribe, embora o presidente dominicano tenha prometido que novas soluções jurídicas que incluam os registos civis serão buscadas.


As razões do enfrentamento


O cardeal López Rodríguez expressou publicamente o seu apoio à sentença 168 do Tribunal Constitucional, que despoja da nacionalidade dominicana todos os nascidos a partir de 1929 de pais considerados residentes em condições irregulares.


Ao contrário, o padre Mario Serrano, jesuíta, apoia a reivindicação das pessoas desnacionalizadas, porque a Constituição da República Dominicana, proclamada em 2010, afirma que o novo mandato para a aquisição da nacionalidade não se aplica para aqueles que nasceram antes da vigência dessa nova Carta Magna.


O padre Mario Serrano desenvolve o seu trabalho pastoral e social no Centro Juan Montalvo dos sacerdotes jesuítas.


Ameaças de morte contra o padre Serrano


O sacerdote Mario Serrano denunciou na última quinta-feira, no programa Voces Propias, da emissora Z-101, que havia sido ameaçado de morte por nacionalistas extremistas que o acusam de trair a República Domincana e de supostamente servir a causa dos haitianos.


"Vamos mandar você para onde Sonia Pierre [defensora dos direitos humanos dominicana, falecida em 2011] está", dizia uma das mensagens recebidas pelo padre Mario Serrano, que revelou a ameaça em uma entrevista as intelectuais Carlos Francisco Elías e Olaya Dotel no programa Voces Propias.


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O jesuíta Luiz Fernando Klein, diretor brasileiro de Educação e Ação Pública da Fundação Fé e Alegria, comenta o caso:


"Lamentável esse posicionamento agressivo, ofensivo e descontrolado do cardeal! Em sua última assembleia, realizada em novembro de 2013, no Rio de Janeiro, os Superiores Provinciais Jesuítas da A. Latina se posicionaram publicamente a favor dos migrantes e descendentes de haitianos, com uma veemente nota de repúdio à sentença do governo da Rep. Dominicana, e urgindo o respeito aos direitos dos migrantes e descendentes de haitianos."


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Assista abaixo o discurso do cardeal:


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