16 Dezembro 2013
Pastoralmente, a Igreja deve começar a partir de onde as pessoas estão e incentivá-las a opções melhores, a melhores relações, um passo de cada vez. Assim, a coabitação é melhor do que sexo casual, o casamento é melhor do que a coabitação.
Publicamos aqui o editorial da revista britânica The Tablet, 12-12-2013. A tradução da versão italiana é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
É óbvio que a prática católica se distanciou da teoria católica no que se refere a sexo, casamento e vida familiar, em particular na questão da coabitação. A resposta oficial do Catholic Marriage Care ao questionário do lineamenta que foi posto em circulação pelo Vaticano antes do Sínodo do ano que vem sobre a vida familiar diz sem rodeios: "Quase todos os casais que frequentam os nossos cursos de preparação ao casamento já estão morando juntos, e muitos têm filhos".
São casais que fazem um curso pré-casamento porque querem se casar na Igreja Católica e, portanto, podem ser considerados como mais comprometidos. Isso confirma o que os párocos já sabem – que o casal que pede para se casar na igreja e ainda não mora junto é uma raridade. Eles também sabem que, para além das suas portas, estão muitos católicos batizados que estão satisfeitos em viver com um parceiro, mesmo que sonhem em se casar em algum momento no futuro.
À sua maneira, esse é um desafio tão grande para a Igreja Católica quanto as questões da contracepção e do divórcio. Elas podem estar relacionadas: o ensino sobre a contracepção pode ter persuadido muitos católicos de que a Igreja não tem nada de útil a dizer a eles sobre ética sexual; e a sua linha dura de recusar a Sagrada Comunhão aos divorciados em segunda união pode ter assustado completamente alguns católicos com relação ao casamento católico.
De fato, pesquisas sugerem que, na sociedade em geral, um dos principais fatores que levam à coabitação é a necessidade subjetiva de testar a relação antes de fazer um compromisso. Dado que os fracassos do casamento católico parecem estar carregadas com uma pena extra, os católicos podem ter boas razões para serem cautelosos. Nesse sentido paradoxal, a coabitação é um tributo ao ideal.
As pesquisas sugerem que o número de casais que se recusam a casar por motivos ideológicos, por exemplo porque rejeitam o casamento como patriarcal, é relativamente pequeno. Razões financeiras contam muito mais – o custo de alugar ou de comprar uma casa significa que duas pessoas podem viver de uma forma quase tão barata quanto uma, e, como os casamentos são tão caros, um casal pode preferir poupar para ter a sua casa.
Os dados mais recentes sugerem que cerca de metade das crianças nascidas hoje são de pais que não são casados. Mas, se isso não descreve adequadamente o seu estado, o que descreve? A frase "vivendo em pecado" refere-se a tabus sociais obsoletos. O conceito popular de "união estável" [common law marriage], que tem pouco fundamento no direito comum real, sugere que a sociedade tem formas para reinventar estruturas sociais quando os modelos e as formas oficialmente sancionados não são mais considerados como apropriados.
É uma questão em debate, no entanto, até que ponto a Igreja pode viajar por essa estrada. Pastoralmente, ela tem que começar a partir de onde as pessoas estão e incentivá-las a opções melhores – o que deveria significar melhores relações –, um passo de cada vez. Assim, a coabitação é melhor do que sexo casual, o casamento é melhor do que a coabitação.
Mas aqueles que não chegam ao destino final devem ser condenados como pecadores, ou eles podem ser aceitos – incluindo à Sagrada Comunhão – como pessoas em uma jornada que podem precisar de um pouco mais de pastoreio cuidadoso?
Independentemente do que o livro de regras católico diga, essa é a direção em que a prática pastoral parece estar se movendo. Se o Sínodo do ano que vem deseja ser realista, essa é a realidade que ele terá que abraçar.
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O Sínodo e a difícil jornada até o casamento - Instituto Humanitas Unisinos - IHU