Por: Jonas | 04 Setembro 2013
Dois mortos, oitenta feridos graves e centenas de prisões ilegais é o saldo que preocupa a Direção de Direitos Humanos da Secretaria de Governo desta cidade. Em todo o país foram presas 512 pessoas.
Fonte: http://goo.gl/0l92nf |
A reportagem é de Katalina Vásquez Guzmán, publicada no jornal Página/12, 03-09-2013. A tradução é do Cepat.
Ao chegar à noite, os militares – com o fuzil no ombro – seguem patrulhando a avenida sétima de Bogotá. Andam a dois ou a quatro, a pé e em caminhões; e os policiais utilizam motos e carros pequenos com vidros escuros. A capital continua tensa em meio à greve agrária que continua na maioria do país, após os violentos episódios desencadeados durante o fim de semana. Dois mortos, 80 feridos graves e centenas de prisões ilegais em Bogotá é o saldo que preocupa a Direção de Direitos Humanos da Secretaria de Governo desta cidade. Em todo o país, 512 pessoas foram presas, mas nenhum policial começou a se investigar.
A população civil desta cidade habitada por oito milhões de pessoas está levando uma difícil em razão da convulsão social e de segurança que a Colômbia vive hoje. As praças continuam se desabastecendo e os transportadores também anunciaram greve. Estes se somam aos protestos mineiros, também vivos atualmente, e à greve agrária, que hoje completa 12 dias e conta com o apoio de estudantes e trabalhadores. Segundo o comandante da polícia de Bogotá, Luis Martínez, “entre os dias 19 e 31 de agosto foram 326 ações de vândalos, 109 policiais feridos, 21 marchas, motins contra três CAI, 326 estabelecimentos comerciais atingidos e seis estações da TransMilenio gravemente danificadas”.
Para Andrés Idárraga, “a sensação de injustiça é muito profunda. Bogotá não pode ser a vítima da militarização, do toque de recolher, da restrição de direitos. Os vândalos, as máfias, devem ser objeto de uma investigação judicial, sim; porém, as pessoas não podem continuar sendo afetadas no direito à mobilidade, saúde, educação e trabalho”, afirma o diretor de Direitos Humanos da Secretaria de Governo de Bogotá. Em conversa com o jornal Página/12, o funcionário público contou que ele próprio foi agredido pela polícia durante os momentos mais violentos vividos na última quinta-feira, na Praça de Bolívar. “Se fizeram isso comigo, que estava identificado como funcionário do governo, o que não estão fazendo com os civis, como vemos nos vídeos?”, pergunta Idárraga. “A polícia pode prendê-lo, mas não pode golpeá-lo, isso se chama tratamento cruel e é proibido”, explica o advogado.
Idárraga contou para este jornal que, na noite da última quinta-feira, 14 menores de idade foram levados a uma estação de polícia em Bosa. “Todos tinham a cabeça machucada, dois deles tinham os ombros deslocados, e um afirmava que foi atropelado por motos da polícia”. O responsável pela pasta de Direitos Humanos exige que a polícia se identifique plenamente, assim como também que respeite a dignidade e direitos de todos os protestantes e os presos, pois há casos que preocupam ainda mais seu escritório: um jovem assassinado em Suba, outro que recebeu um disparo na Praça de Bolívar e uma mulher que afirma que a polícia a jogou de uma ponte. “O menino no qual dispararam a menos de dois metros com uma granada e que perdeu o lábio superior, seus dentes, mais tarde uma menina supostamente foi lançada de uma ponte de veículos por agentes da polícia, na Rua 26 com a Avenida Caracas. Ela está no hospital e diz que tem testemunhas”, conta Idárraga.
Para o homem, a situação mais complicada é em Bogotá, porque boa parte das mobilizações e da força central da organização social da greve se concentra na capital. Além disso, a causa campesina cada vez mais está ganhando apoio entre os cidadãos a pé. “Este protesto responde a um sentimento de injustiça muito profundo e acumulado por muitos anos. Como Estado, nossa tarefa é garantir o direito à mobilização social e ao protesto pacífico; e os excessos nos levam a pensar que, efetivamente, há pessoas solidárias e pacíficas, mas também vândalos, e que nesta situação tão difícil as forças do Estado, refiro-me à polícia, não podem responder da mesma maneira. A polícia tem um treinamento e está dotada com armas para dispersar, mas está assumindo respostas de confronto, lançam pedras e não estão cumprindo o protocolo de uso de suas armas”, assegura Andrés.
Segundo vídeos publicados na web, agentes da Sijín da polícia quebraram vidros e danificaram fachadas, roubaram celulares dos civis para que não gravassem e golpearam pelas costas, e disfarçados como civis, a jornalistas, como aconteceu com Luis Noriega, fotógrafo, da Agência EFE. “Estão causando lesões físicas aos manifestantes, entre os quais me incluo”, acrescenta o funcionário.
Para amanhã estão previstas novas marchas em Bogotá e no país. O toque de recolher, ordenado pelo prefeito Gustavo Petro, continua para alguns locais, assim como a medida de militarização ordenada pelo presidente Juan Manuel Santos. No fechamento desta edição, o governo tinha conseguido chegar a um acordo apenas com os indígenas e lavradores do sul do país, departamento de Nariño. Povoados e lugares afastados das capitais continuavam bloqueados. “Nossa geração não viveu uma situação de protesto difícil assim em quase trinta anos”, assegura Martínez, da Polícia de Bogotá.
Idárraga está esperançoso de que “não terminemos num outro dia de sangue. É urgente pensar como deter a escalada de violência no país; além disso, a população civil e a polícia antimotins devem estabelecer conjuntamente um protocolo de atuação, enquanto o protesto legítimo e pacífico continuar”.
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Bogotá sob a ameaça do fuzil - Instituto Humanitas Unisinos - IHU