08 Julho 2013
Camisetas com a imagem do papa e também copos, pratos, mouse pads, tudo com uma foto do Papa Francisco e, no fundo, a ilha dos coelhos apareceram desde quinta-feira na bela mostra na central Via Roma de Lampedusa. Todos esses gadgets do papa estão à venda no American Bazar, que de norte-americano só tem o nome. O proprietário está confiante com a chegada do pontífice, certamente para os negócios, mas não só. Nestes dias, também estão chegando centenas de migrantes à ilha, aproveitando o bom tempo, mas, talvez, também esperando que a visita de Francisco lhes reserve uma melhor acolhida por parte da Itália. "O papa não poderá fazer muito por eles, mas é importante que ele lhes dirija ao menos um pensamento", diz o sicilianíssimo proprietário do American Bazar.
A reportagem é de Giuliana Sgrena, publicada no jornal Il Manifesto, 06-07-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O anúncio da iminente chegada de Bergoglio despertou expectativas em todos os moradores da ilha. Desde essa sexta-feira, um manifesto com o papa também foi colocado na entrada das praias. Lampedusa está acostumada a visitas de políticos, que, no entanto, nunca deixaram a sua marca. No máximo, aqueles que tinham dinheiro, compraram uma mansão. Recém-passou pela ilha o vice-primeiro-ministro Angelino Alfano, sem alardes.
Mas agora toda a ilha está em fermentação: os tratores trabalham até à noite para limpar o estádio, antes que cheguem as estruturas a serem instaladas para a celebração da missa papal, da qual participarão também em veste "oficial" – assim quis o Papa Bergoglio – apenas a prefeita Giusi Nicolini, o pároco e o bispo.
A primeira fila estará ocupada por migrantes, deficientes e crianças. As autoridades, se quiserem, terão que se misturar com as pessoas. Esperam-se 16 mil participantes de uma população de cerca de 6 mil habitantes. Muitos virão de fora. Foram intensificadas as corridas de navios de Agrigento e dos barcos de Linosa, que faz divisa com Lampedusa. E depois há os turistas que lotam a ilha.
Sem dúvida, um gesto que quer restaurar dignidade aos migrantes, mas também um reconhecimento para Giusi Nicolini, que, desde que foi eleita prefeita (em 2012, com uma lista cívica de inspiração ambientalista), quis tratar os migrantes com grande humanidade.
Gestos, talvez simbólicos, que toda a população aprecia. Frequentando frequentemente essa ilha, nunca ouvimos as pessoas comuns – aquelas que não especulam sobre as desgraças alheias, como acontecia com Maraventano, vice-prefeito do passado, membro da Liga – reclamar ou queixar-se "daqueles pobres coitados" que chegam desesperados nos botes.
Mesmo quando a mídia nacional falava de emergência em Lampedusa, cortando dos habitantes a principal fonte de receitas representada pelo turismo, nunca notamos uma atitude minimamente racista. Os migrantes nunca foram vistos circulando pela ilha; na sua chegada, eles são imediatamente detidos no centro de "acolhida" e, depois, transferidos para outro lugar. Agora, a transferência ocorre rapidamente, impedindo que a presença se torne explosiva no centro, como acontecia no passado. No entanto, nunca houve verdadeiros motivos para desertar Lampedusa, que, neste ano, registra o seu auge depois que a praia da ilha dos coelhos foi definida como uma das mais belas do mundo.
Na verdade, essa superlotação a tornou um pouco menos bonita para aqueles que, egoisticamente, se acostumaram a vê-la semideserta. Naturalmente, o importante é que esse grande recurso permaneça como área protegida sob o controle da Liga Ambiente, que a cada verão organiza voluntários para patrulhar à noite a praia os coelhos à espera da chegada da tartaruga Caretta Carretta, que costuma desovar aí.
Temos certeza de que Giusi não s esquecerá de ter sido a primeira prefeita presidente da Liga Ambiente e cumprirá todas as normas que tornam a ilha italiana mais perto da África um patrimônio de grande valor.
Os lampedusanos não escondem a sua satisfação com o sucesso que a sua terra registra este ano, mas também não temem a chegada de migrantes que se intensificou nos últimos dias, talvez também por causa do efeito-papa e não só pelas condições favoráveis do mar.
"Devemos deixá-los apodrecer nos campos onde são empilhados na Líbia?", defende Tonino, que, tendo atravessado os mares por anos como marinheiro, agora aluga as suas casas para os turistas. Tonino nunca acusou os imigrantes, nem mesmo nos anos de vacas magras. "É gente pobre que não sabe para onde ir, precisam de nós, não podemos rejeitá-los", também é a opinião de Tony, que aluga guarda-sóis na praia de Cala Madonna.
Nicola, o escultor que se deita na praia para esculpir tartarugas, o símbolo de Lampedusa, em uma argila particular que ele busca à noite antes de concluir o seu dia de trabalho, se contenta com pouco, com aquilo que lhe basta para viajar um pouco pela Itália durante o inverno, quando a ilha fica deserta. Ele está preocupado porque os refugiados, quando chegam em Lampedusa, muitas vezes recolhidos no mar, são presos como animais no Centro de Acolhida.
E depois?
"O que a Europa faz para acolher esses migrantes que fogem das suas desgraças? Nós, sozinhos, não podemos resolver os seus problemas. Eu encontro um tunisiano em Modena que fugiu do centro de acolhida de Lampedusa, mas o que ele pode fazer sem documentos?" Nicola não rejeita a acolhida, mas se pergunta sobre o futuro deles.
Os lampedusanos, talvez porque vivem na ilha que é um posto avançado da Itália, mantêm a sua calma mesmo quando as chegadas de migrantes se tornam pesadas. Essa é uma ilha que importa de tudo, da água, ao gás, à gasolina e também aos alimentos. Quando a população aumenta quase o dobro, como aconteceu durante a revolução tunisiana – mesmo que nunca tenha atingido os valores temidos pelo então ministro Maroni –, ela se torna um problema para a sobrevivência.
Mas também o é quando não há mais lugares para enterrar os náufragos no cemitério, como defendeu a prefeita.
Na segunda-feira, o papa chega para dar uma mensagem de esperança e dignidade aos refugiados, e esperamos também um agradecimento à humanidade dos lampedusanos representados pela prefeita Nicolini. Não se trata de uma visita oficial, essa também é uma mensagem importante, mas coloca muitos problemas para aqueles que deverão arcar com as despesas para a organização, já que o município está com os cofres vazios. Este ano, por falta de financiamentos, não vai acontecer nem o O'scià, o festival anual de artistas organizado geralmente em setembro por Claudio Baglioni.
Mensagens todas úteis e importantes para levantar a questão dos migrantes que passam pela porta da Europa, mas que também deveriam garantir os recursos a uma pequena cidade para poder enfrentar os problemas da melhor forma possível. E premiar a determinação e a generosidade com que Giusi Nicolini está enfrentando a situação.
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À espera do migrante Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU