07 Mai 2013
A dois meses da eleição, o Papa Bergoglio ainda vive em um hotel. Porque a residência Santa Marta, no Vaticano, nada mais é do que isso. Um bom hotel de três estrelas, com o seu saguão de mármore, o balcão da recepção, algumas salas para reuniões e apartamentos de dois cômodos para prelados de passagem. Agora eles colocaram dois policiais diante do portão e dois guardas suíços, e tudo termina por aí.
A reportagem é de Marco Politi, publicada no jornal Il Fatto Quotidiano, 05-05-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A recusa da pompa imperial fascina os fiéis, e o discurso direto do papa argentino está funcionando como um ímã. Na quarta-feira, 17 de abril, em Roma, verificou-se um engarrafamento gigante ao redor do Vaticano. Cerca de 760 ônibus dirigidos à audiência geral, descarregando dezenas de milhares de peregrinos. Nada menos do que 200 a mais em comparação à quarta-feira anterior. E quanto mais a estação traz o sol, mais as multidões se reúnem aos domingos e às quartas-feiras para assistir ao ngelus e à audiência geral.
O ímã Bergoglio também funciona no plano espiritual. Massimo Introvigne, presidente do centro de pesquisa Cesnur, defende que, nas paróquias, está se verificando um crescimento de fiéis que vão à missa e voltam ao confessionário. "Divulgamos um questionário através da técnica conhecida como cascata, que utiliza as redes sociais Facebook e Twitter, a partir de grupos particularmente frequentados por católicos", explicou recentemente. E, "em uma amostra de 200 sacerdotes e religiosos – acrescenta –, 53% afirmaram ter verificado na própria comunidade um aumento de pessoas que se reaproximaram da Igreja ou que se confessam".
Introvigne admite que o método ainda é "preliminar", portanto imperfeito, mas o fato indiscutível é que esses fiéis declaram explicitamente que retomaram a prática religiosa após a eleição de Francisco e ouvindo a sua palavra.
Quase metade dos sacerdotes e religiosos interrogados declaram um aumento de frequência superior a 25% em comparação com antes. Particularmente, é definido como significativo o retorno à confissão. O próprio Introvigne admite que os resultados devem ser verificados com o passar do tempo e que as primeiras semanas são poucas para um julgamento conclusivo.
Em todo caso, a mudança de clima com relação ao papado é palpável. Nos últimos anos, o consenso por Ratzinger, até mesmo na Itália, tinha caído para menos de 50%. A imagem, a abordagem, a temperatura humana de Francisco causaram uma ótima impressão nas pessoas. Fiéis antigos se dizem "consolados" desde a sua chegada, fiéis menos assíduos declaram-se "atraídos" por ele, agnósticos e não crentes admitem que "esse papa me agrada, me interessa".
Chama a atenção a sua mistura de simplicidade e autenticidade, que é acompanhada, porém, de uma capacidade de raciocinar e refletir colocando-se em sintonia com o público. As massas percebem isso.
Recentemente em São Pedro, uma católica da periferia de Roma, depois das primeiras aparições de Francisco, disse: "Com o seu 'bom dia', ele logo se coloca no nosso nível, o seu abraço aos paralíticos sem nenhuma hesitação e afetação expressa uma solidariedade imediata, o seu 'bom almoço' revela que se dá conta perfeitamente das necessidades cotidianas e do que representa para todos o alimento e o esforço para ganhá-lo".
Há rumores de que Ratzinger se maravilhou junto a um círculo restrito sobre o porquê chama tanto a atenção a simplicidade de Francisco: "Eu também não fui sempre simples?", teria dito. É verdade, Bento XVI foi e é de uma simplicidade ascética. Mas ele se esforçava para instaurar um contato espontâneo com a multidão e sempre pareceu cerebral – embora muitas vezes soubesse expressar verdades de fé de maneira cristalina. Ratzinger nunca teve aquele "cheiro de ovelhas" que Francisco considera essencial para um pastor. Por outro lado, ele também nunca teve uma verdadeira experiência pastoral de base. Sempre foi um quadro diretivo. Ele nunca se misturou realmente com a vida diocesana.
Por outro lado, se Wojtyla representava midiaticamente o papel do papa-imperador humano, Bergoglio é (e quer ser) algo diferente. O padre-bispo, que não está no trono, mas em meio à Igreja e aos fiéis. E assim, falando acima de tudo de misericórdia na relação com Deus, neste momento histórico particular, ele vai ao encontro de uma grande sede de proteção, de salvação, de "sentir-se compreendido", de paternidade, que corresponde a uma necessidade generalizada em uma cristandade desorientada pela crise social, pelo terremoto econômico, pela desintegração das relações familiares e pela falta de sólidos pontos de referência ideais.
A revista Oggi relata que, em Nápoles, houve um aumento de 15-20% de presença nas missas dominicais. Principalmente entre os jovens entre os 20 e os 30 anos. É esse – das gerações mais jovens – o desafio que Bergoglio deverá enfrentar em seguida. Assim como até o fim do ano espera-se que ele enfrente os problemas da Cúria e do IOR.
Certamente, com o seu movimento calmo, ele está mostrando que também sabe resolver problemas totalmente novos. Francisco enfrentou a convivência com o pontífice emérito Bento XVI – iniciada há poucos dias – com um espírito familiar, acolhendo-o no Vaticano com afabilidade e sobriedade religiosa, quase como se fosse um parente que, de forma totalmente normal, deverá viver sob o seu teto.
Assim ele está desarmando qualquer contraposição de magistério. Pondo-se como irmão mais velho, a quem cabe a tarefa de orientar a casa, Francisco se faz protetor de Bento XVI e acaba, na origem, com qualquer polarização.
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Revolução Francisco: a fé está de novo na moda - Instituto Humanitas Unisinos - IHU