15 Março 2013
Enquanto o mundo ficava sabendo da notícia da eleição do argentino Jorge Mario Bergoglio como o primeiro Papa Francisco, vários teólogos globais disseram ao NCR que esperam que o novo pontífice reflita o espírito do seu "xará", mudando o foco para o mundo em desenvolvimento e as questões ecológicas.
A reportagem é de Joshua J. McElwee, publicada no sítio National Catholic Reporter, 14-03-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Seguem alguns excertos de várias das suas declarações, enviadas por e-mail.
Susan Ross, presidente da Sociedade Teológica Católica dos Estados Unidos, que conta com 1.400 membros, e professora de teologia da Loyola University Chicago:
A Sociedade Teológica Católica dos Estados Unidos se une aos católicos ao redor do mundo para dar as boas-vindas ao nosso novo Santo Padre, o Papa Francisco. Com todas as nossas irmãs e irmãos católicos, oferecemos o nosso apoio e rezamos pela orientação do Espírito Santo em seu pontificado. (...)
Eu diria que é um sinal de boas-vindas para o mundo ver um papa da América Latina. A Igreja está crescendo no Sul global e, por isso, ver um papa que representa essa área de crescimento é muito emocionante.
O nome é significativo: Francisco (...) isso pode indicar o tipo de simplicidade que Francisco defendia. Francisco também é considerado como um santo que foi "ecológico" no seu amor por todas as criaturas da Terra e tudo o que há sobre ela. (...)
Pelo que eu li sobre ele, o novo papa compartilha o conservadorismo teológico dos seus antecessores, assim como o seu progressismo social. Fiquei impressionado com o seu pedido ao povo para abençoá-lo antes que ele abençoasse o povo e também fiquei impressionada que ele ficou lá por algum tempo, talvez ouvindo as pessoas, talvez um pouco em estado de choque, talvez ambos, antes de falar.
Assim como outros católicos de todo o mundo, eu espero e rezo para que tenhamos um papa que ouça e que possa fornecer uma liderança corajosa em tempos difíceis.
Tina Beattie, professora de estudos católicos da Universidade de Roehampton, em Londres:
Não há necessidade de repetir todos os desafios que o Papa Francisco irá enfrentar, e nós sabemos que ele herdou uma Igreja devastada e desolada.
No entanto, já há sinais de que esta não será mais a Igreja da extravagância barroca e do autoritarismo rígido que ela se tornou sob o Papa Bento XVI. (...)
Para mim, nesta manhã, se este homem permanecer tão atencioso quanto tem sido como a voz dos pobres, se ele a tornar uma Igreja ouvinte, assim como ensinante, uma Igreja do povo, em vez da Cúria, então eu, pessoalmente, vou aplaudir e agradecer silenciosamente a Deus.
O nome "Francisco" implica não só humildade e compaixão, mas também cuidado com a criação e com todas as criaturas de Deus. O que mais podemos pedir? Aqui está um homem que pode trazer o humilde carpinteiro de Nazaré de volta para a vida da Igreja, lembrando que, por meio dele, todas as coisas foram feitas no nosso planeta ferido e maravilhoso.
Agnes Brazal, professora de teologia da Escola de Teologia São Vicente, em Manila, Filipinas:
Eu amo o nome do nosso novo papa – Francisco! São Francisco de Assis simboliza as minhas esperanças por aquilo que a Igreja do século XXI deve encarnar: o amor pelos pobres, expresso em termos de justiça social; a simplicidade do estilo de vida; o cuidado pelos outros seres da terra e pelo ambiente, pelas relações "amigáveis" e mutuamente empoderadoras com as mulheres; e a liberdade de (E)espírito!
Se o nome Francisco também se refere a São Francisco Xavier, espero que, desta vez, o nosso novo papa tenha a resistência para viajar para a Ásia, onde a Igreja também está crescendo rapidamente!
Gary Macy, professor de teologia e historiador da Igreja da Santa Clara University:
Como historiador, eu gostaria de salientar que os cardeais estão sinalizando que eles querem uma ruptura relativamente limpa com o status quo. Eles escolheram um jesuíta e alguém que não é um insider, embora alguém certamente envolvido na Cúria.
Ele não é italiano nem mesmo europeu, embora tenha estudado na Alemanha. Mais significativamente, ele escolheu um nome novo, nunca usado por um papa antes. Ele não está identificado com qualquer pontífice do passado, mas certamente com um dos santos mais populares dentro e fora do cristianismo.
Se o novo papa escolheu o seu nome por Francisco de Assis ou por Francisco Xavier, é o Irmão Sol que as pessoas vão lembrar mais frequentemente quando ouvirem esse nome. O Irmãozinho era conhecido pela sua humildade, pobreza, seu amor pela natureza e até pelas suas boas relações com o Islã.
Isso demonstra que o novo papa quer se associar, mesmo que indiretamente, com essas características. Todas essas coisas indicam uma ruptura com o passado.
O novo papa, no entanto, é teologicamente conservador na maioria das questões. Isso faz todo o sentido. Um grupo conservador de cardeais não pode eleger um progressista, mesmo que houvesse um no Colégio.
Em suma, eu gostaria de sugerir que os cardeais quiseram alguém moralmente irrepreensível, humilde, interessado pela justiça social pelos pobres e talvez disposto a sacudir a Cúria. No entanto, eles não quiseram alguém que se afastaria do caminho teológico definido pelos papas anteriores. Essa eleição provavelmente foi a maior das surpresas que o Colégio poderia fazer.
Padre jesuíta Agbonkhianmeghe Orobator, que lidera a província jesuíta da África oriental, além de ser professor de teologia moral do Hekima College, de Nairóbi:
Talvez, pela primeira vez nos tempos modernos, a perspectiva global da Igreja se reflete no nível mais alto da Igreja. Há dons de todas as partes da Igreja que precisamos honrar, aproveitar e usar para a missão de proclamar a Boa Nova de Jesus. (...)
Eu quero acreditar que, considerando a origem humilde e o histórico pé-no-chão do Papa Francisco, a Igreja está em boas mãos – não apenas do papa sozinho, mas nas mãos de todo o povo de Deus em todo o mundo.
O primeiro gesto de Francisco de pedir que as pessoas rezassem a Deus por ele pode sinalizar o início de um reconhecimento mais autêntico e humilde do sacerdócio do povo de Deus e da responsabilidade que todos temos pela Igreja de Deus no mundo.
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Teólogos têm esperança na perspectiva do nome do Papa Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU