17 Fevereiro 2013
Detalhes de um encontro entre o papa Bento XVI e cardeais italianos, divulgados ontem pela imprensa da Itália, levantaram especulações sobre as preferências do pontífice para a sua sucessão. No centro das atenções estaria um deles: Angelo Scola, arcebispo da Arquidiocese de Milão. Já o secretário de Estado do Vaticano, Tarcisio Bertone, estaria em campanha por Gianfranco Ravasi, presidente do Pontifício Conselho para a Cultura.
A reportagem é de Jamil Chade e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 18-02-2013.
Durante o encontro com os cardeais italianos, Bento XVI indicou que Scola e os cardeais da Lombardia, sua região, deveriam ser "o coração dos fiéis da Europa" e teriam a responsabilidade de se tornar "uma luz para todos". À Rádio Vaticano, Scola confirmou o diálogo com o papa.
Para editorialistas dos jornais La Stampa e Corriere de la Sera, a frase de Bento XVI tem um "peso importante" e indicaria que Scola conta com a chancela do pontífice na corrida para se tornar o novo papa.
Bento XVI e Scola se conhecem há quatro décadas. Aos 71 anos, o arcebispo de Milão é considerado uma das principais forças dentro do Vaticano. Scola teve parte de sua carreira impulsionada pelo então cardeal Joseph Ratzinger. O italiano foi editor da Communio, revista fundada por Ratzinger, e também teve sua carreira marcada por uma atenção especial à teologia.
Foi também o alemão quem o nomeou Patriarca de Veneza e, depois, arcebispo de Milão, uma das arquidioceses mais ricas do mundo. Veneza e Milão garantiram, juntas, nada menos que cinco papas nos últimos cem anos.
"Se você gosta de Bento XVI, vai gostar de Scola", indicou John Allen, um dos principais vaticanistas em Roma. "Mas, se você não gosta, Scola não vai te seduzir", declarou.
Disputa
O arcebispo de Milão não é um nome de consenso entre os cardeais italianos. Bertone, que teria sido um dos pilares do desgate de Bento XVI nos últimos meses, estaria trabalhando para a eleição de Ravasi.
Aliados de Ravasi têm a esperança de chamar para o italiano o voto daqueles que querem uma mudança, e não uma continuidade em relação a Bento XVI.
Não por acaso, uma das metas do grupo de Ravasi é contar com o voto dos cinco cardeais brasileiros e apresentar a Igreja com uma nova proposta. Especulações em Roma indicam que alguns desses cardeais estariam dispostos a dar seu voto ao italiano.
Ravasi terá uma chance única de ganhar aliados. Ontem, o papa e os cardeais iniciaram um período de retiro no Vaticano. O escolhido para apresentar os ensinamentos nesta semana foi justamente Ravasi. Tanto Karol Wojtyla quanto Joseph Ratzinger tiveram essa função antes de serem eleitos papas. O polonês teve esse papel em 1976 e, dois anos depois, foi eleito papa. Ratzinger foi o responsável pelos exercício em 2005, mesmo ano em que foi eleito. "Isso será uma grande plataforma para Ravasi", admitiu John Thavis, autor do livro Diário do Vaticano. Neste ano, o tema será "O rosto de Deus e o rosto do homem na prece dos Salmos".
Outro ponto que tem pesado a favor de Ravasi é seu esforço em dialogar com aqueles que estão fora da Igreja. O fato de ter passado anos no Iraque, na Turquia e em países do Oriente Médio seria uma esperança de que ele poderia incrementar o diálogo com o mundo muçulmano, um dos pontos de maior fragilidade do pontificado de Bento XVI.
Ravasi, de certa forma, poderia ser apresentado como um representante da renovação da Igreja, sem que o novo papa tenha de vir de fora da Itália.
Neste Conclave, o poder dos votos italianos aumentou de forma substancial em comparação a 2005. O número de cardeais da Itália passou de 20 a 28.
Polêmica
Ontem, o jornal italiano La Repubblica informou que a associação americana Católicos Unidos pediu ao cardeal Roger Mahony, ex-arcebispo de Los Angeles (EUA), que não participe do Conclave que definirá o novo papa. Mahony ficou marcado por não ter denunciado casos de abusos de menores por parte de sacerdotes.
Após a renúncia, Mahony qualificou o papa como um "extraordinário sucessor de João Paulo II" e manifestou sua intenção de participar do Conclave.
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Arcebispo de Milão seria candidato preferido de Bento XVI na sucessão - Instituto Humanitas Unisinos - IHU